sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Todo homem é um abismo, a gente fica tonto de olhar pra dentro dele (Woyzeck)

Passando por Abernéssia, dou com uma cena que há muito havia escapado de minhas retinas: uma manifestação popular. Com faixas, apitos, palavras de ordem, organizada e pacífica. Participei de algumas, ao longo da vida, e posso dizer que se trata de uma experiência que enriquece a existência de qualquer mortal. À época, havia as greves dos estivadores, quando praticamente toda Santos parava em apoio aos trabalhadores. Os que não paravam, como o português do restaurante no Gonzaga ("que raios eu tenho com isso, não sou estivador..."), eram forçados. Cheguei a fechar uma agência bancária só na base do discurso. Bons tempos de subir no caminhão do sindicato, chegar em casa e ouvir o gritante silêncio de repreensão dos milicos que se agregaram à família, e acabaram por dar a ela uma cor verde-oliva e azul-clara, esta repleta de medalhas e insinuações de asas e espadins. Mas daí que era da manifestação de Abernéssia, que eu falava. Todo empolgado, ligo para o jornalista d' O Povo, na esperança de confirmar que a paciência do jordanense tem, sim, limite, e este pobre serviçal é capaz, enfim de se rebelar. Engano. Ledo engano, ledo Ivo. Os manifestantes eram de São José dos Campos, que resolveu aparecer em Campos do Jordão devido à presença, aqui, do Governador do Estado. Protestam contra uma reintegração de posse em um lugar chamado Lagoinha, de onde querem arrancá-los. Pressionam lá e aqui, que é onde estava o principal mandatário do Estado. Se fiquei feliz por ter visto novamente uma manifestação genuinamente popular, por outro me entristeço profundamente ao constatar, mais uma vez, a pusilanimidade da gente da minha Cidade, que precisa importar, até mesmo, coragem. E que, ao se deparar com a passeata e os gritos das palavras de ordem, olhou para os lados e fingiu que ignorava.

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