quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Penso que a Poesia faz parte da história da vida, e não da história da literatura (Sophia de Melo Breyner Andresen)

O livro da minha infância foi 'Coração de Vidro', de José Mauro de Vasconcelos. Muita gente dessa época se lembra das cinco histórias dos animaizinhos (ou melhor, quatro animaizinhos e uma árvore, se não me engano) que, depois de uma vida saudável junto aos seres humanos, foram por eles abandonados e morriam na solidão. Uma tristeza só. Além dos breves contos, recheados de ternura e tristeza, me encantavam as ilustrações coloridas, as expressões. Lembro do azul fortíssimo no corpo dos pássaros, a coroa de flores colorida, com preponderância do vermelho, em volta do pescoço do cavalo campeão, o homem amarrando o sapato sobre o que restou do tronco de uma árvore, na qual havia brincado a infância inteira. Eu devia ter uns oito, nove anos, e minha irmã lia o livro para algum trabalho escolar. Ou seja, quando o livro estava dando sopa pela casa, eu pegava pra ler. Depois o livro se perdeu, e recentemente apanhei um outro exemplar, em uma dessas feiras literárias de que participo, para minha estante. Na dúvida sobre o que ler depois de Miguel Sousa Tavares, recolhi outro livro de José Mauro também bastante conhecido, chamado 'Rosinha, Minha Canoa', que conta a história de Zé Orocó, caboclo do mato que é recolhido a um hospício por conversar com as árvores e com sua canoa -a Rosinha do título. O livro é lindo e de uma tristeza profunda. Notável a apresentação do autor, que
e mais ou menos assim (não está em mãos, de forma que só me ocorre o sentido, e não as palavras por ele utilizadas): cansei de ter que criar pesonagens do tipo 'macho pra burro'. Neste livro resolvi usar toda a minha carga de ternura, e não tenho que me desculpar junto ao público leitor. Se não é isso, é parecido.

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