sábado, 28 de abril de 2012

A elite tem suas orgias, suas aventuras e seus crimes camuflados pela própria ideologia que ela impõe. O subproletário age com menos requinte e inteligência e por uma necessidade de sobrevivência física. De um modo ou de outro somos todos responsáveis e cúmplices por coexistir numa sociedade que produz tais homens (Frei Betto)

Uma semana de grande dedicação ao trabalho, portanto, de pouquíssima literatura. De destaque, somente a confirmação do resultado na Academia de Letras, onde doravante responderei pela vice-presidência a partir da próxima reunião, a ocorrer em 26 de maio. Preparado o prefácio solicitado. Por outro lado, não mexi no Coxipó, o que pretendo fazer esta noite. Bela adiantada nas leituras de Dantas e Segre, com destaque para a prosa límpida e clara do primeiro, e pelo truncamento do segundo. Mas nvamos até o final, a meno que algo -ou alguém- impeça a continuidade da leitura, e da vida.

Uma tempestade se abateu sobre a Cidade, na última quinta. Choveu muito. Árvores derrubadas, redes elétricas e telefônicas rompidas, estabelecimentos destelhados. Nos dias que sucederam, houve sol, o que não deixa de ser um pequeno milagre.

Ideia retirada de um programa da tevê portuguesa: por que não mudar a sirene das escolas -estridente, neurastênica, escandalosa- por música? O Trenzinho e as Bachianas de Villa-Lobos, o Urubu de Tom Jobim, Guerra Peixe, O Guarani de Carlos Gomes, o hino de João de Sá...

Um ano do massacre de Realengo: o que mudou nas escolas jordanenses? Com efeito, absolutamente nada.

Simone adorou o Pepetela. Agora, ataca de Nikos Kazantzakis de Zorba, o Grego. Fazes bem, minha Luz...

sábado, 21 de abril de 2012

Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave, ou uma bandeira. Enfim, cá estou outra vez a sonhar. Como os homens a quem me dirijo (José Saramago)

Foi um bom lançamento, seguido do tombamento do edifício da Museu da Imagem e do Som, de 1920, em Casa de Cultura Antonio Fernando Costella, em uma homenagem coerente e acertada. Ainda a Exposição da Cidade, com quadros de artistas jordanenses. um público numeroso que me comprou cerca de vinte livros. Menos que o volume de venda, valeu a presença de tanta gente, tantos abraços e sorrisos, tanta alegria, a família envolvida com a obra, Bruno e Leonardo a organizar e fotografar, pedindo minha presença, olhando as telas, servindo-se do coquetel, e o sorriso nos lábios de Simone, minha Luz definitiva, a quem dedico, mais que meus livros, minha vida. Bela dedicatória o Poesia à Margem do Coxipó, a sair em novembro. Mas voltemos a este, que acabou por ser meu primeiro lançamento de livro, e que seguramente me superou a expectativa. Portas que se abrem, rostos novos que se me apresentam, esperanças renovadas. Toda honrta e toda glória ao poder da Literatura.

A ideia é editar também os textos cristãos, desta vez em uma gráfica, e os artigos sobre Educação, pela Multifoco. Retomada da fé.

Chega Os Corvos de Van Gogh, livro de Furini que prefaciei. Um prefácio, aliás, aquém da qualidade da obra e dos demais que a apresentam. Grande mulher, esta: Isabel Florinda Furini.

Ainda grandes mulheres: professora Zezé a lançar livro novo, também me pede prefácio. Me condenou a ler os originais, o que fiz esta manhã com uma boa vontade que sinceramente surpreendeu a mim mesmo.

Onde é que enfiei o raio da cédula de votação em que indico a mim mesmo para ocupar a vice-presidência da Academia?

Leituras, muito vagarosas, todas: Segre, Dante, Dantas...


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Este país preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa (José Saramago)

Pode ser apenas coincidência, mas o fato é que parece que as outras pessoas se incomodam mais com o lançamento do livro do que eu, que sou o próprio autor. Fazem perguntas do tipo “e aí, tudo pronto?”, “você está nervoso?”, “será que vem muita gente?”. O livro está aí, pronto, impresso e publicado. Estou mais preocupado em vender o maior número possível de exemplares e acertar logo com a editora. Sim, deve estar lotado. Levarei os últimos trinta exemplares de Poemas Jordanenses e Sandálias Paternas, além dos vinte e oito do Mar de Amares. São cinquenta e oito livros, no total, para uma noite com três eventos culturais ocorrendo simultaneamente. Só falta motivar a família.

Entrevista na Radio Campos do Jordão, durante o programa Jornal do Meio-Dia, para falar sobre o lançamento do livro e as atividades da Academia. Bom espaço, boa divulgação.

Continua impressionante o alcance das colunas no jornal. A próxima já foi enviada, sobre a receptividade dos alunos do EJA do TCC.

Já a turma de último ano de Administração da Univap, a julgar pela reação durante a palestra de ontem, não deve significar grandes mudanças para nossas organizações no futuro. Poucas vezes vi tanta indiferença, tanto desânimo, tanta falta de vontade em um grupo acadêmico. Triste. Senti saudade do pessoal do EJA.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? (Almeida Garrett)

Uma hora de caminhada e corridas na pista de atletismo do Abernéssia, depois uma série de cinquenta exercícios para o braço. Tudo por causa da condição ofegante a que cheguei ao fim de subir duas ruas no SENAC, ontem. Excelente lugar, aquele. Iluminado, cheio de gente praticando esportes, seguro -bem diferente das calçadas e ruas esburacadas da cidade.

Hoje cedo, indo à farmácia buscar o remédio de pressão, flagro uma imagem belíssima: a torre da Igreja Matriz entre uma breve neblina rodeada de araucárias. Fotografo e posto. Minha Cidade.

Ainda repercute o encontro com os velhinhos, ontem. Ganha corpo a ideia de promover algo em prol da poesia entre eles, no segundo semestre. Já temos um evento para estudantes, outro para os autores amadores... Falta um para a turma da curva natural descendente.

Dia de repassar a palestra de amanhã. Tranquilo, a princípio. E bem na hora do jogo do Santos!

Inicio "O Celeiro e Outras Histórias", de Segre, autor neo-jordanense. Muito bom, apesar do tom policialesco do primeiro conto. Promete. Um excelente nome para a Academia.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Infelizes os que nunca amaram. Nunca ter amado é uma forma terrível de ignorância (Luiz Felipe Pondé)

Livros chegando, de Curitiba e Como, com pedido de tradução. Material pronto para a palestra de quinta. Entrevista na rádio, também na quinta. Na sexta, o lançamento. Sarau no dia 29. Membro do juri de um concurso em Curitiba. Convites para lançamentos em Santos, Taubaté e São José dos Campos. No trabalho, reuniões, relatórios, dados, contatos. Documentos para liberar o financiamento no banco. Médico na quarta. Bruno retorna ao ortopedista no dia oito e viaja para São Paulo no final do mês em excursão da escola. Haverá apresentação de bateria para o dia das Mães. Fala, Escritor. Literatura Jordanense -Para Onde Vamos?. Concurso para o pessoal da Melhor Idade no segundo semestre. Prêmio Monteiro Lobato de Redação. História de Pinhão. Eleição na Academia. Posse no Conselho de Cultura. Delegado da UBT. Ufa. Isso cansa.

Bem fraquinha, a Feira de Livros do SENAC. Para quem gosta de literatura, é viagem perdida. O melhor foi cumprimentar o pessoal da terceira idade, e declamar Cora Coralina e Os Velhos Velhos, do Poemas Jordanenses. Quase chorei. Gente de cabeça branca trazendo um pratinho de doce ou salgado para ler poesia. Gente simples, que se emocionou comigo. Coordenação de uma moça que, há alguns anos, perdeu uma filha pequena, com câncer. Foi bom. Participar e estar junto. Saindo do prédio, olhei para o céu e acenei para dona Cida, que devia estar orgulhosa. Fica bem aí, minha velha. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quanto maior o amor, maior a indiferença para com suas vítimas (Luiz Felipe Pondé)

Não foi coincidência o fato de eu ter publicado os poemas de Dailor poucas horas antes de sua morte. Ele já estava doente, e antes disso Mah, a filha, já havia autorizado a publicação. Agora está lá, no Blogue, o primeiro poeta morto a ser publicado naquele espaço. Que seja o único. Longa vida a Dailor Varela, ícone da poesia joseense.

Na quinta, entrevista sobre o lançamento do livro na Rádio Emissora. Se comparecerem todas as pessoas que dizem que vão, terei problemas: os trinta exemplares não serão suficientes para a primeira meia hora. Devo ligar para Gorj, desesperado, a pedir mais exemplares.

Amanhã, a falar sobre uma turma do SENAC, sobre, evidentemente, livros.

domingo, 15 de abril de 2012

A filosofia da existência é uma educação pela angústia (Luiz Felipe Pondé)

Em geral, quem não casa, ou é por falta de tempo, ou porque não dispõe, no seu orçamento, de receitas suficientes para prover aos encargos que resultam do luxo patriarcal de ter mulher e filhos. Há pessoas que não constituem família pela mesma razão porque não comprar um automóvel: porque lhes falta dinheiro. Na crise terrível do pós-guerra (refiro-me sobretudo a Portugal), com o custo da vida a aumentar dia a dia, com a instabilidade do valor da moeda a impedir todo o bom cidadão de saber ao certo com o que conta no dia seguinte, e, enfim, com a falta de casas e com a falta de amas, o casamento passou a ser um esporte de ricos; cada filho converte-se num índice de opulência. Julio Dantas, enorme em seu estilo narrativo, em Eterno Feminino, de 1929, a prever um cenário idêntico ao de hoje, principalmente nas passagens em negrito. Um portento, para usar uma expressão que já há algum tempo não aparecia neste diário.

Morreu o General que contava como certa sua eleição para a Academia de Letras, e, assim como quando morreu o Coronel que também se candidatara, especula-se com a possibilidade da assassinato. Um final previsível desde pouco depois da metade do livro, quando o militar mudou seu estilo de tratar os imortais. Um Jorge Amado urbano, feito para passar o tempo, sem a profundidade e a densidade de seus romances marítimos e cacaueiros.   

Vou comprar o jornal em Abernéssia e volto com belas aquisições, a saber: Os Sonetos de Amor Obscuro e Divã do Tamarit, de Garcia Lorca, O Livro de Areia, de Borges (que nome lindo para um livro), Códigos de Família, de Gattai (eu insisto, eu insisto), Paula, de Isabel Allende (Simone adorou a Inés de Minha Alma) e Homens e Caranguejos, de Josué de Castro -todos retirados da nova biblioteca que foram montadas em drogarias da cidade. em contrapartida, deixei por lá o ensaio sobre Patativa do Assaré, a Inés e as antologias de Ubatuba e Bragança Paulista. Saio no lucro, pelo jeito.

A Cidade, abarrotada por conta de um evento para mais de três mil pessoas que atuam em turismo. Bom proveito aos que deles dependem para sobreviver -o que não é mais o meu caso, pelo menos por enquanto.

No Sabático, Antonio Skarmeta, o futuro da literatura latina de língua espanhola, a dificuldade em abandonar o realismo mágico e os novos autores chilenos. Da leggere.

Quase chorei com Ritelisa falando de Cora Coralina. Nos seus lábios, um dizer carregado de emoção, paixão e reverência pela vida da mulher, da cidadã, da desbravadora, da política, da intelectual, da escritora, da múltipla personalidade que foi Aninha, a guerreira da cidade de Goiás, para quem uma vida só foi insuficiente.

Procurei, dentro do possível, manter-me distante das comemorações pelo centenário do Santos. Minha homenagem é prestada a cada dia, em todos os lugares onde estive, em todas as circunstâncias, dentro do meu coração de adepto, muitas vezes, irracional e inconsequente. Posso dizer que se trata de um amor alvi-negro que me marca a existência, independente da idade que complete.

A morte de Danilo continua repercutindo: erro médico. E sua mãe, que é minha prima distante, vai à TV protestar e desmanchar-se em lágrimas, plenamente justificáveis. Tragédia.

Já houve sol, já chuviscou e faz frio. Outra típica manhã dominical jordanense, que me enche de certezas pela escolha que faço a cada dia e, aqui permanecer. O amor.

Enquanto lavo a louça do café-da-manhã e da pizza de ontem à noite, me ocorre um evento: Encontro de Escritores do Vale do Paraíba. Uma data boa seria dezembro. Com LAC, Ritelisa, Gorj e outros. Pode ser também um bom evento a ser realizado para quando assumir a presidência da Academia.

Na sexta-feira, em Taubaté: "Você colocou Campos do Jordão no cenário da literatura no Vale do Paraíba. Antes, a gente nem lembrava de Campos, era muito fechado. Agora, graças a você, a visibilidade é bem maior". Gracias a la vida, again.

Morreu Morosini, do Livorno, em campo, durante partida pela série B contra o Pescara. Campeonatos suspensos na Itália. Está na hora de repensar toda a estrutura do calcio, denunciar penúrias e desonestidades. Por enquanto, acompanhar o futebol italiano é sinônimo de sofrimento e perspectivas desagradáveis.

Me emociono, ao digitar os poemas de Dailor para o Blogue e ouvir, simultaneamente, o piano de Rachmaninoff.


sábado, 14 de abril de 2012

Somos um nada que ama (Luiz Felipe Pondé)

Na entrevista ao Litteratudo, a alegria de reencontrar Ritelisa e ser apresentado ao seu marido, Wilson, um tipo agradável e bom de papo, com histórias mis a contar. Em pouco de mais de uma hora de conversa, a certeza de que ficou ainda muita coisa a ser dita e compartilhada. Ainda a professora Crosariol, especialista em literatura africana, e o musicista Leandro, de malas prontas para um curso de aperfeiçoamento em Portugal. Minha participação foi pequena, até por conta do grande número de participantes, e se limitou a divulgar o resultado do Araucária, com bons comentários de LAC. Carlos Anacleto foi muito bem citado.

À noite, ao falar de Drummond para os alunos do terceiro ano do TCC, a grande alegria de poder desenvolver um assunto que se domina, e a certeza de que a carreira literária está sim, em ascensão.

Chegaram os exemplares de Mar de Amares. Lindo. Trabalho de primeira, o da Multifoco. 

Ouvi de Tubarão que uma casa, para assim ser chamada, deve dispor de livros, música e quadros. Quanto a estes, instalei hoje em duas paredes mortas os que comprei dos alunos do próprio Tubarão, na semana passada. Deram nova alegria à alvenaria de que é composta nossa morada.

Terminados os Certificados do Araucária, assinados, identificados e envelopados para o Correio. Medalhas e troféus, os próximos passos.

Poemas Jordanenses para o Recife, Sandálias Paternas para Brasília.

Meu coração, alegre e festivo, pelos últimos acontecimentos. 

Como canta, o Leonardo...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Não é mais possível considerar o contraste riqueza-pobreza como algo tão natural e inevitável como o dia e a noite (Frei Betto)

O dia promete. Entrevista para o programa de LAC, em Taubaté, com Ritelisa. À noite, a palestra sobre Carlos Drummond de Andrade para os alunos do colégio TCC, às 21:30h. Palestra esta para a qual quase nada me preparei, dado que imagino que o pouco que sei da vidobra do grande poeta mineiro me seja suficiente para aquilo que imagino ser um conhecimento muito próximo de zero por parte da assistência de quarenta aluno, segundo me consta. Para dar uma animadinha, sortearemos um exemplar do Poemas Jordanenses.

Já para a entrevista na TV, o resultado do Araucária e o lançamento de Mar de Amares, com a leitura de um ou outro poema.

À noite, antes da palestra na escola, preparar os certificados do Araucária.

Converso com Brandão sobre o Poesia Coxipó, e sonho com uma ligação telefônica para o Mato Grosso, onde o interlocutor me confundia com outra pessoa e eu me derretia em agradecimentos. Ê, vida.

Que reunião, a da Academia. Sonolenta, cansativa, improdutiva, cheia de etiquetas. A objetividade, em certos momentos, é tudo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Estado não passa de um instrumento a serviço da classe dominante. Portanto, é inútil clamar ao Estado que sirva de conciliador nos antagonismos sociais ou que impeça que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres (Frei Betto)

Surpresas agradáveis acontecem. Demoram, mas acontecem. Aliás, são cada vez mais raras. Em uma sinuca de bico danada, por conta da não-liberação do empréstimo para compra da Casa, recebo uma ligação comunicando o financiamento de 85 mil. E eu, que já estava arrumando as malas para voltar pra casa, comemoro a possibilidade real de permanecer em Campos, e justamente na Casa do Exílio do Morro-Grande, que tanta alegria me dá. Entro no Quarto-Verde como se fosse meu, de verdade. No final das contas, pode ser que a vida seja feita destas esperançazinhas.

Sem sono, passo a folhear os poemas que separei para o Poesia Coxipó, que estou pensando em mudar para Poesia Às Margens do Coxipó, tudo porque a maioria das pessoas não sabe que Coxipó é um rio -o meu rio. Vai ter coisa pra tirar ali. E pode ser que o release que mandei ontem pra Ritelisa sirva para a apresentação, também, com umas buriladas.

No posto de Saúde da Prefeitura, uma coletânea de contos do século dezenove organizada por Italo Calvino, que faço minha como faço com os livros do Mercado.

Para dormir, Lucio Dalla.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O amor dura o tempo de um susto. É picada de cobra. É veneno que combate outros venenos. O problema do amor é que é caro (Marcelino Freire)

Escrever é um ato de vida. Através da escrita me mostro e me escondo, protesto, canto e choro, organizo meus pensamentos, sinto saudade, calor e frio, fome e desejo. Nela me perco e me encontro, me arrisco e me retraio. Na palavra reencontro meu pai, oriento meus filhos, acarinho minha mãe e me declaro diariamente à mulher que é meu porto.
Não sei como era minha vida antes da leitura e da escrita. Minha lembrança mais remota da infância é de a família –tios, primos, avós e pais- à minha volta pedindo para eu ler o que estava escrito na embalagem de uma lata de cera. Eu lia, mas nem sempre acertava. E o povo queria que eu acertasse todas. Devia ter cinco, seis anos, não me lembro direito.
Daí a começar a escrever foi mais longo, mas não menos prazeroso. Eu era aquele aluno que quando fazia redação a professora queria ler para a classe, para minha vergonha absoluta. Será que ainda é desse jeito, nas escolas de hoje?
Depois continuei assim, vivendo e escrevendo.
Hoje são três livros publicados, com o quarto já querendo botar a cabecinha pra fora do ovo. E eu digo “espera aí, moleque, deixa o teu irmão crescer primeiro”. É isso mesmo, está certo quem diz que um livro é um filho. Tem também a Academia de Letras da minha cidade, os convites, os eventos, as palestras, os concursos de literatura...
A cidade onde moro, Campos do Jordão, é uma beleza para quem escreve -pela paisagem, pela gente simples, pelo clima, pela topografia que convida a caminhadas longas e reflexivas. Ou seja, ainda tem mais essa.
“Só escrevo porque escrever me ajuda a pensar”, disse o escritor argentino Macedonio Fernandez.  Era a necessidade dele. A minha “doença” é mais grave: escrevo porque escrever me ajuda a viver.

O texto em linguagem popular solicitado por Ritelisa, para o jornal de São José dos Campos.

Extinto o Nova Poesia Brasileira. Chega.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Todo escritor se apega a deslumbramentos (José Castello)

Mar de Amares ainda nem nasceu, e já me traz tanta alegria. Alvarenga sugere lançamento em Santos, o que seria uma maravilhosa oportunidade de rever os amigos. Furini comunica a chegada do livro no qual foi publicado o prefácio que enviei. Oliani, Reginaldo, Dakinis e Tatiana comentam o Araucária. A presidente me liga reclamando que não a convidaram para a exposição da Biblioteca. Nem a mim, minha senhora, e eu não lhe liguei para perguntar o motivo. Descubro que o público da palestra de sexta-feira sabe tanto de Drummond quanto da biografia de Samora Machel. Lanço a ideia do projeto para a publicação de um livro de um poeta jordanense pela ONG, e a reação foi a mais distante possível. Arquivo. No news about Multifoco, quando chegam os livros, afinal? O trabalho, sob controle. A literatura, sim, me toma a vida. Ritelisa me surpreende com uma publicação em seu blog. Leio e me calo, de agradecimento e emoção. Esclarecido, Dindi, sobre Camoã e Blimunda? Ok, agora curta os originais que tens em mãos, em primeira mão. Brandão manda seu novo livro, escrito no Ceará e lá patrocinado. O que diz Inajá no sítio de Rita:

Blogger Inajá Martins de Almeida disse...


Sim amigos Rita Elisa e Benilson Toniolo

Poetas dos
Encontros
almejados
procurados
alcançados
delicados
aplicados
a este solo
ávido pela semeadura
da boa literatura.
Chamem de amor
esse encontro
que o poema recria


Rita: "A literatura é a linha mestra que alinhava momentos, une os amigos, tanto em eventos, quanto na solidão, pois é no silêncio de um pensamento que as palavras de um livro entram nas nossas mentes, por isso, meu amigo, leio seus livros em meu sítio, deitada na rede, para que as palavras absorvam minha solidão, deixando apenas imagens, é através dessas palavras que ficamos juntos aos amigos, elas nos unem. Quem escreve gosta de ser lido!"

Descanse em paz, dona Nica. Aliás, descanse muito, porque não foi fácil. Agora sim, você pode voltar a sorrir.

Um verdadeiro presente no sítio do Globo Esporte: Ariano Suassuna sendo ovacionado pela torcida do Sport na Ilha do Retiro. Emocionante e inolvidable.




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pergunto-me / se a perfeição não seria o não dizer / e deixar aquietadas as palavras / nos noturnos desvãos (Hilda Hilst)

Trago do Mercado um exemplar novinho em folha -não deve ter sido sequer lido- do "Esplim de Paris: Pequenos Poemas em Prosa", de Baudelaire, edição da Martin Claret, pelo jeito em nova diagramação. Ah, a literatura...

Morreu o pobre Coronel Agnaldo Sampaio. Há quem lance dúvidas sobre a causa mortis: morreu ou foi assassinado pelos velhinhos da Academia, que tudo faziam para evitar que um militar recalcitrante e marionete do nazismo assumisse a vaga deixada pelo jovem Antonio Bruno? Mais da metade, já, do Farda Fardão.

Posto uma foto do Morro-Grande. Uma não: duas. Compartilho as verdeções que diariamente me tomam os olhos.

Eterno Feminino, de Julio Dantas, 1929. O que começou por curiosidade vai tomando ares de leitura agradabilíssima.

Novo convite para participar de evento em Buenos Aires, desta vez em agosto, vindo de Rarima Cecília. Ah, a literatura...

Não é Camoã, Dindi, é Blimunda. Você leu errado.

Ao menos, para a palestra sobre Drummond, o PPS já veio pronto. É só sublinhar e ilustrar...


domingo, 8 de abril de 2012

Toda a minha vida é um grito e toda a minha obra é a interpretação desse grito (Hilda Hilst)

Domingo de Páscoa. No TG, chamadas diretas do Vaticano, onde são esperadas cem mil pessoas para a mensagem do Papa. Também na SIC, a grande movimentação católica. As pessoas entrevistadas, na Itália e em Portugal, em geral não viajarão por conta da crise. No Brasil, feriado prolongado. Campos do Jordão, me dizem, está menos lotada (ou mais vazia) do que o previsto. Se este feriado é o termômetro da temporada de inverno, como dizem, então a cidade tem motivos para se preocupar.

Se este é um Estado laico, então por qual motivo os feriados católicos são compulsórios? 

Sobre a Exposição 100 Anos de Titanic, na Biblioteca Municipal -um capricho do diretor da Casa: e os Titanics diários de nossa Cidade, quando começaremos a resolver?

Entrevista dispensável de Paul Auster no Caderno de Cultura do Estadão. 

Ainda a polêmica sobre o poema de Gunter Grass, antissemita e pró-Irã. Pouco diz respeito ao Brasil, ocupado demais em evitar o naufrágio do próprio umbigo.

Dulce Maria Cardoso é, segundo a Ilustrada, a "sensação da literatura portuguesa na atualidade", e confirmou presença na Flip deste ano. Outra sensação portuguesa? A cada ano temos uma nova?

Ainda a Folha: "Roth tece relato comovente sobre o pai". Trata-se do novo romance do autor americano, Patrimônio. Seja bem-vindo à confraria dos órfãos inconformados, Philip.

Da non perdere: coleção Folha Literatura Ibero-Americana. Tomara que suba a montanha.

Pál Schmitt, presidente da Hungria eleito em 2010, renunciou ao mandato após ter sido comprovado que ele plagiou alguns trechos de outros autores em sua tese de doutorado, em 1992. Mais do que um exemplo, a impressão de que ainda falta muito, mas muito mesmo, para sermos um país minimamente competitivo. Pelo menos no que se refere à dignidade.

"O que sobra é a impressão de que o governo não sabe o que está faltando, a imprensa não sabe o que está publicando e a população não sabe o que está acontecendo. é o Brasil para todos". J. R. Guzzo, na Veja.

Feliz Páscoa, pai.




 

sábado, 7 de abril de 2012

A política, como “la donna” da ópera de Verdi, é “móbile”. Por meio dela, o Diabo não se dá por vencido, aliás, nunca se deu, desde que foi expulso do céu, na primeira rebelião que para sempre infernizaria, literalmente, demônios e homens (Carlos Heitor Cony)

Durante a noite, li e aprovei a prova final do livro novo. Mudança, só uma, logo na apresentação da página sete, linha doze, por um erro meu de digitação. Mais nada, o restante está aprovado. Vamos, pois mesmo, de coraçõezinhos, apesar dos protestos de Mildes.

Ronaldo liga para desejar bom feriado, que retribuo. Parece que a viagem a Campos fez bem. Os meninos estão em Vinhedo, com a mãe, e ele se mandou para Santos: Amigo e irmão.

Dailor Pinto Varela, poeta potiguar, um dos criadores do poema-processo, radicado há anos em Monteiro Lobato, está morrendo. Teve um AVC e ficou sozinho por dez horas, até que chegasse alguém para socorrer. Inconsciente, entubado, sem reação aos medicamentos. Conheci-o recentemente por ocasião de uma palestra sobre vanguardas poéticas, depois comprei um de seus livros. Mais uma grande perda à vista.

Não consegui parar o carro para pegar o jornal na banca, devido ao excesso de automóveis e pessoas. A chamada civilização, como diz o outro.
Skap.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Todo escritor tem o direito de não ler (Fernanda de Aragão)

Da Secult, solicitam que eu fale sobre Drummond no TCC, no próximo dia 13/04, para as turmas do período noturno. Mesmo dia da entrevista no programa, em Taubaté. Confirmo, até porque lá estará também a Ritelisa. O que me preocupa, mesmo, é a palestra do dia dezenove, sobre Segurança Patrimonial.

Confesso que parei de implicar com o Bolsa Família, que um dia alcunhei de “usina de vagabundos”. Está certo, não era para tanto. Assumo o exagero. Fico só com uma pergunta: que estímulo os beneficiados encontram para passarem a sustentar a própria família, e assim poder abrir mão do programa?

Retirados da Biblioteca os livros que estavam sob minha responsabilidade, e os devolvo aos proprietários. A única pendência, agora, passa a ser o livro de Ana Maria Machado que Leonardo está lendo, com previsão de retorno para o dia dezessete. Depois disso, cortam-se definitivamente as relações.

O Farda, Fardão, Camisola de Dormir engrenou.

Hoje comprei o Estadão, ao invés da Folha. Vamos ver como está o caderno de Cultura, depois da morte de Piza.

Saiu o resultado do Araucária. Tatiana Alves e Nege Além, os vencedores em poesia e contos, respectivamente. Cris Dakinis, Geraldo Trombin, Cosme e Reginaldo, os outros. Certificados e comunicados impressos, agora é começar a enviar.

Semana de muito trabalho por conta do feriado da Semana Santa. Cidade cheia, turistas e carros. Hora de clausura e confinamento.

Hora de voltar à leitura do Dante e da composição do Cascalho, que anda parada.

Chegaram as provas do Mar de Amares. Detestei os coraçõezinhos da capa. Há erros no miolo. Mas não há como não se impressionar com a qualidade do material. Mantido o lançamento para o dia 20/04.

Retirei os quadros dos alunos de Tubarão. O pessoal em casa gostou. Simone disse que nossa casa ficará "tipicamente jordanense". Que bom.

Bruno vai se recuperando.




terça-feira, 3 de abril de 2012

O futuro há de dizer se a um governo humano assiste o poder de ser desumano com seus governados (Manoel Benício)

Fiquei assombrado com a quantidade de carros circulando por Abernéssia ontem, por volta de 19h. Muitos carros, alguns em alta velocidade, em ambos os lados da avenida, onde também não havia espaço livre para estacionar. As auto-escolas continuam despejando semanalmente dezenas de novos condutores, e ter um automóvel hoje em dia é tarefa das mais simples, desde que cumpridas pequenas exigências burocráticas. O resultado disso é um barulho infernal, mais carros som som alto azucrinando a vida dos cidadãos que querem um mínimo de sossego e um aumento significativo no número de acidentes. Em suma, já passou da hora de começarmos a pensar em soluções para o tráfego em Campos do Jordão.

Mellie, a cucciolina, agora sai sozinha para passear. Por volta de nove, dez da noite, quando a rua se acalma de carros e de pessoas, abro o portão para que ela saia e fique um pouco lá fora, sozinha, sem corrente e sem coleira. Observo o que faz e para onde se dirige. Até hoje, nestes primeiros três dias, não se afasta muito da casa, limitando-se ao terreno que existe duas casas após a nossa. Não costuma voltar na primeira vez que a chamo. Geralmente só volta na terceira ou quarta vez. Depois, já no quintal, bebe água e vai dormir. Tomara que não suma, nestas novas aventuras noturnas.

Não farei mais o Contador de Histórias da AME. Como Adriana não poderá estar no próximo sábado, preferiram mudar a data a tentar uma vez comigo. Eis algo que não me incomoda. Uma data a menos no calendário de atividades literárias de abril.

Tubarão me visita a sorpresa, e agenda para quarta-feira a entrega de dois quadros pelos quais me interessei, e que são de autoria de dois de seus alunos do Curso de Pintura realizado no Museu da Imagem e do Som. Quarta-feira, o mesmo dia em que deverei retirar os livros que deixei na Biblioteca Municipal -que, aliás, não me enviou convite para sua nova exposição.

Flávia vai cuidando do lançamento de Mar de Amares, que mudou de lugar: agora será na nova Casa de Cultura Antonio Fernando Costella, na Brigadeiro Jordão. O terceiro livro, cujo anúncio causou surpresa a Leonardo.

Cardim pede que eu a ajude a organizar a Feira de Livros do SENAC. Conte comigo, brava amiga.

Andrea pede contatos daqui para que ela divulgue seu trabalho de organizadora de eventos culturais. Aqui em Campos, senhora? Deixa eu lhe explicar como é que são as coisas por aqui...

Encerrando o A Noite e a Madrugada (que vai para a sala, em companhia dos demais lusófonos), retiro do Jorge Amado o Farda, Fardão, Camisola de Dormir, de 1979. Há muito tempo atrás, Sandra andou com esse livro em casa, por ocasião do Círculo do Livro, que tanta falta faz hoje em dia, mas que ainda garante boa parte do ganha-pão dos donos das bancas de sebo. Tenho alguns em casa desta saudosa época em que sempre havia ao menos um exemplar dos livros de capa-dura do CL, nas casas de classe-média-baixa no Brasil. Mas o livro de Jorge me pegou cansado, com sono, e quase abandonei a leitura, não fosse ter recomeçado esta manhã, tomando ainda o cuidado de anotar no Caderno alguns trechos que julgo mais importantes da narrativa. Aí, começou a ficar mais fácil. Perseveremos.





segunda-feira, 2 de abril de 2012

Nunca subestime o poder dos livros (Paul Auster)

O velho teve, de súbito, uma sensação aguda de alguma coisa a dilacerar a sua carne. Um dos molossos, finalmente, trespassara-lhe a perna.  Pode ainda safar-se a navalha do bolso, abri-la, enquanto a pele de todo o corpo se transia dum suor espesso e gelado.  Mergulhou a lâmina no cão até o cabo. O feitor ergueu o chicote sobre o camponês. Por fim, tudo se tornara confuso na cabeça do velho: a planície doidejava colunas de poeira, a poeira escondia as hastes secas de trigo, a poeira era um manto soturno sobre a planície; o Picanço tinha espasmos na sua carne lutando com a morte, o soberbo alazão corria como o vento quente pelas moitas da floresta, e, envolvendo tudo, a dor do seu corpo brutalmente magoado. A dor era uma bruma de sofrimento e irresponsabilidade; cego, feria ao acaso, abrindo veias de sangue  e de ira. Deixou de sentir o chicote na sua carne; a mão retalhava, já inconscientemente, o corpo inerte do molosso. Ia ficando lasso, esvaído, confundindo-se com arbustos, ervas dos prados, trigos, carvalhos, manhãs de sol, bois abrindo regos na terra fofa. O Pomar surgia dos pesadelos, radioso de sol e esperanças. Um Pomar livre, de gente livre, e à frente da comunidade os Parras bebiam canadas de vinho. A vida sumia-se com brandura; do fundo da morte, Picanço vinha lamber as mãos duras do velho Parra. Banhava-o por fim uma suavidade de libertação, como se a navalha tivesse furado, para sempre, todos os corpos dos cães e homens raivosos de todo o mundo.
Esta é a passagem da morte do Parra, pai de António e Pencas, o velho camponês que defendia sua terra da ganância dos novos feitores da terra que julgava sua, já nas páginas finais do romance A Noite e a Madrugada. Escrita com maestria singular, serve para ilustrar o estilo do exímio escritor que é Fernando Namora. Existe algo, penso eu, de Graciliano Ramos neste trecho que transcrevo. Até o momento, para mim, a narração da morte da cachorra Baleia, em Vidas Secas, se constituía para mim na mais bela abordagem do momento da morte da literatura. Agora, esta de Namora junta-se à do ilustre alagoano. Que bom que existem as letras escritas, a poesia, os escritores de ontem e de hoje a tornar menos vulgar a vida das pessoas.

Continua a guerra fria entre a presidente Dilma e os militares da reserva do Exército. Desta vez, foi um grupo de reformados que resolveu comemorar o que eles chamam de “Revolução de 1964”, no último dia 31 de março, em um clube militar no Rio de Janeiro. O ato revoltou parte da sociedade civil, que cercou o local e passou a gritar palavras de ordem contra os milicos. No dia seguinte, dez paraquedistas continuaram a comemoração saltando de pára-quedas com faixas alusivas ao Golpe. Vale lembrar que, no ano passado, o governo proibiu qualquer tipo de celebração, civil ou militar, em alusão à data. Com uma vastíssima agenda em branco, os militares da reserva não desistem em sua luta por causar ainda mais desconforto ao governo. Dilma deve precisar, em breve, de apoio popular se quiser dar continuidade ao seu mandato. Diferente de seu antecessor, que tinha o hábito de oferecer cargos no governo aos seus opositores, a presidente tem levado bordoada de muitos lados.

Em meio a mais uma crise no Parlamento, desta vez envolvendo um senador do DEM (Demóstenes Torres) que atuava no Senado a mando de um criminoso, salta aos olhos a frase de Pedro Simon nas páginas amarelas da Veja: “Os bons homens se foram: Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Miguel Arraes, Mario Covas. Se esse tivessem ficado e outros tivessem morrido, o Brasil seria diferente”.  

Bruno está bem melhor, felizmente.

Ritelisa entra em uma briga danada para arranjar espaço para os escritores do Vale nas próximas edições do Festival Literário da Mantiqueira, em São Francisco Xavier. Conte comigo, digo a ela, na esperança de ser inserido no espaço. Ritaelisa não abre mão de estar no campo de batalha. É como o gato de Deng-Xiaoping: não importa a cor do felino, contanto que ele mate os ratos.

Hora de preparar o artigo para a próxima edição do jornal. Aliás, já está pronto.

domingo, 1 de abril de 2012

Todos os homens contém vários outros homens dentro de si, e a maioria de nós salta de um para outro sem mesmo saber quem é (Paul Auster)

Na Ilustrada, matéria sobre a Paris Review, revista americana dedicada à literatura. Boas frases de Faulkner e Mailer para os guardados. Também outra sobre Nadine Gordimer, escritora sul-africana detentora do Nobel, para um documentários sobre mulheres africanas de destaque. Olha esta, de Nadime, ao dizer que não acredita em discursos sobre "literatura feminina" por não gostar da separação por gênero: "A gente não escreve com os órgãos sexuais, a gente escreve com isso", e aponta o dedo indicador para a têmpora. Tenho comigo um livro de sua autoria, que a qualquer hora desta me entrego.

Tanto na Folha quanto na Veja, inúmeras referências a Millôr Fernandes (que Brandão uma vez disse que deveria ter-se chamado Milton, mas acabou Millôr por um erro do homem do cartõrio na hora do registro de nascimento) e ainda Chico Anysio. Sobre o primeiro, cuja morte é mais recente, ainda tenho o que ler. Mas ganha destaque um "plágio" proposital de José Roberto Torero, no texto " Não me enterrem, e joguem minhas cinzas na Vila Belmiro". Fantástico, também, este Torero, com quem já troquei meia dúzia de palavras por e-mail. 

Fez muito sucesso aqui em casa um vídeo que encontrei na internet denominado "Ariano Suassuna - A Conversão", sobre um fato contado pelo paraibano sobre a visita que recebeu de um jovem -que ele não sabe dizer se era punk ou funk- que tinha o objetivo de convencê-lo -a ele, Ariano- a interromper seus ataques ao rock. A performance do artista reproduzindo a música interpretada pelo jovem é hilária. A letra tem duas frases, além do refrâo: "Um cavalo morto é um animal sem vida"  e "Em redor do buraco tudo é beira". 

Sobre a palestra de ontem, faltou dizer que o presidente Maynard revelou que logo que chegou a Campos, vindo do Rio, envolveu-se com um grupo jordanense de teatro, e a primeira peça encenada foi justamente o Auto da Compadecida, onde ele, Maynard, fazia o papel de Jesus Cristo.

Tatiana Belinky na Folhinha, de bruxinha, recebendo em sua casa um grupo de criança para falar sobre seus livros. Aos 93 anos.

Gostei muito da entrevista de Dilma na Veja.  Excertos: "Não dá para consertar a máquin administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte. Esse será meu legado". "A Petrobrás tem de saber que o petróleo é do Brasil e não dela". "Quando Mario Draghi (enonomista italiano, presidente do Banco Central Europeu) diz 'vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar', ele está inundando os mercados com dinheiro. E o que fazem os investidores? Ora, eles tomam empréstimos a juros baixíssimos, em alguns casos até negativos nos países europeus, e correm para o Brasil para aproveitar o que os especialistas chamam de arbitragem, que, grosso modo, é a diferença entre as taxas de juros praticadas lá e aqui. Eles ganham à nossa custa. Temos de agir nos defendendo". Cita Montesquieu e se defende bem quando acusada de protecionista, alé, de saber recolocar Collor ao limbo de onde jamais deveria ter saído. Pontual esta entrevista, até para dar o que parece ser uma espécie de resposta ao grande artigo de J. r. Guzzo ao final da mesma edição da revista.  Dilma, a ex-Tosca, vai ganhando, ao que parece, mais um adepto -ainda que obscuro e irrelevante.

Sobre o texto de Guzzo: "Já faz mais de nove anos que a presidente Dilma está dentro do governo, no qual dá expediente desde o primeiro dia de mandato de seu antecessor -com a função, justamente, de ser a tocadora de obras número 1 da República. Alguma coisa de porte, a esta altura, já tinha de ter aparecido. Mas não aperece. Tão inúteis quanto a passagem do tempo ou os oceanos de dinheiro  que o poder público tem para gastar vêm sendo as demissõe em série na equipe ministerial. Em pouco mais de um ano de governo Dilma, já foram para a rua doze ministros, mais os líderes no Senado e na Câmara -todos nomeados por ela mesma, é verdade, incluindo-se aí alguns dos mais notórios candidatos a morte súbita que já passaram por um ministério na história deste país. Os resultados disso, pelo que se viu até agora, foram nulos. As demissões, sem dúvida, mostram que a presidente está disposta a valer-se de sua posição no topo da cadeia alimentar de Brasília -pode mandar qualquer um embora, e não pode ser mandada embora por ninguém. O problema, tristemente, é que o exercício repetido de toda essa autoridade não tem sido capaz de gerar nenhum efeito útil para a vida prática do país e do cidadão. Seja porque Dilma está substituindo tão mal quanto nomeou, seja porque os novos ministros vivem paralisados pelo modo de perder o seu emprego, o fato é que nenhuma de todas as trocas feitas até agora resultou num único metro a mais de estrada asfaltada, ou num poste de luz, ou em qualquer coisa que preste". E arremata: "a presidente Dilma, que sabe muito bem o que é inépcia, tenta há nove anos achar o caminho de saída desse vale de lágrimas; pode continuar tentando pelos próximos cinquenta e não vai encontrar nada. Não vai encontrar porque procura no lugar errado: imagina que a solução está em criar mais repartições públicas, mais regras, mais controles, mais programas e mais tudo o que faça um 'estado forte'. É o tipo de ideia que encanta a presidente. Nunca deu certo até hoje. Mas ela continua convencida de que um dia ainda vai dar".

Depois de ler a entrevista de Dilma, entretanto, entretanto, o artigo de Guzzo ganha uma tonalidade de superficialidade e distanciamento do assunto.            

Uma noite acidentada, por conta dos choros e choramingos de Bruno devido ao braço quebrado. Agora, manhã de domingo, dormem todos -indiferentes até mesmo ao som irritante do cortador de grama utilizado em dos quintais vizinhos à Casa.