sábado, 31 de março de 2012

Stalin foi um bandido, um assassino psicótico. Eu estou falando a respeito do instinto de sobrevivência, sobre a vontade de viver. Eu prefiro um malandro ardiloso a um caxias consciencioso a qualquer hora do dia ou da noite. Talvez um malandro não jogue segundo as regras, mas ao menos tem espírito. E onde houver homens com espírito haverá esperança para o mundo (Paul Auster)

Bruno quebrou o braço direito ao cair da bicicleta, esta tarde. Eu acabava de chegar ao estacionamento da Câmara, para a palestra, quando recebi telefonema de Simone avisando do acontecido. Pedi desculpas à secretária, que acabara de chegar, e voltei para casa para levá-lo ao Pronto Socorro. Fratura, disse o médico após rápida conferida no Raio-X. Pelo jeito dói um bocado, pelo semblante de meu filho mais velho, cujo corpo banhei no começo da noite. Está um homem, meu filho. Mesmo quando chora.

Foi absoluto sucesso, a reunião desta tarde, com a palestra sobre Ariano. Pelo que contei, trinta e quatro pessoas, com alguns estudantes de História, Pedagogia, Letras e até uma de Turismo. Unisal, Unip e Univap presentes. Civile leu Os Velhos Velhos, um dos textos do Poemas Jordanenses. Elogios, parabenizações, congratulações e comentários. Ao final, o assédio foi grande, a ponto de eu ter que pedir licença para me dirigir à sala onde se servia o pequeno coquetel. Pensei em fazer uma introdução de desagravo em defesa do nome da Academia, mas desisti. Com o anúncio do Prêmio Monteiro Lobato e da Festa do Pinhão, ficou notória para os presentes a retomada da participação da Casa no desenvolvimento intelectual da cidade. Ponto.

LAC finalmente mandou as notas. Tabulação concluída, e já se tem o resultado da terceira edição do Araucária. Divulgar, entretanto, levará mais alguns dias.

Temos uma acadêmica deficiente visual. Por que não trazê-la para uma atividade com crianças com a mesma característica, por iniciativa da Academia? 

Já se comenta com certa frequência o episódio com a Biblioteca. Por enquanto, comments favoráveis e moções de ânimo.

Adriana me convida para a série Contador de Histórias, no próximo dia 07 de abril, na Ame. Topo. Só falta a confirmação.

Ritelisa confirma a apresentação do Poesia Coxipó, via fone. Pediu para que eu esteja presente no dia de sua entrevista ao Litteratudo. Quer também um release a meu respeito para que ela publique em um jornal local, lá de Sanjosedoscampos. Fala de seus projetos e pede notícias sobre a saúde de Pedrinho. Boa e animosa conversa na noite de sábado.

Quase posso dizer que a Academia, neste momento, sou eu.

Ontem à noite, Simone e eu revimos "Sociedade dos Poetas Mortos", um daqueles filmes para a vida toda. Lindo.

Quatro livros recebidos hoje, sendo três de Civile e um de Segre, este um excelente nome para compor a Casa.

Caminhada entremeada de corrida esta manhã, em volta do campo do Abernéssia, de cerca de quarenta e cinco minutos. As dores que sinto agora são do tipo que doem alegremente.

     

quinta-feira, 29 de março de 2012

Nascer é uma alegria que dói (Eduardo Galeano)

Leonardo em S. Paulo, visita escolar ao Zoológico. Andou excitadíssimo, nos dias, por conta da viagem. Levantamos às seis, com frio e neblina, para que pudesse estar na escola as seis e meia e embarcar. No trabalho, polêmicas e discussões. Ainda a idéia de mudar de Cidade, apesar de tudo. Necessidade de ver o mar. Voltar para Santos, estar em casa, descansar. A dificuldade em comprar casa, o estado de saúde de Simone e sua turbulenta relação com o trabalho, este meu trabalho onde jamais me encontro, as decepções, o cansaço, o desânimo, a certeza de estar em um lugar e a ele não pertencer.  

Algumas situações parecem confirmar a disposição em ir embora.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Por vezes, a maior prova de inteligência é a recusa em aprender (Rubem Alves)

Desprovido de uma amizade cara -eu, que de poucos amigos sempre padeci-, ainda lamento o episódio. Uma pena que um amigo querido tenha conduzido de forma tão infantil uma banalidade. Leonardo, se tivesse mentido, não assumisse o erro que cometeu e ainda quisesse responsabilizar um inocente, levaria uns tapas na bunda. Sérgio talvez tenha precisado em algum momento de uns bons tabefes, em algum momento de sua vida. Quanto à sua avó inglesa, que o criou e de que ele tanto se orgulha, pode até ser que a culpa seja também dela, pois pelo que observo a criação em referência não foi das melhores. Quanto ao uso de ditados populares por parte de meu ex-amigo, cabe aqui um bem conhecido, como resposta: 'quem não te conhece, que te compre'.

Morreu Millôr Fernandes, grande intelectual brasileiro, que deixará uma lacuna enorme em nossa inteligência. Vou acumulando minhas consternações, sabe-se lá até quando.

Nordeste? Pode ser...

Minha avó não era inglesa aristocrática, e sim alagoana e analfabeta. A outra, que mal conheci, portuguesa imigrante e não menos iletrada, até onde eu saiba. Meu pai era alagoano, servente de pedreiro e alfabetizou-se sozinho, para poder realizar o sonho de tirar carteira de motorista. Demorei um pouco a tomar vergonha na cara, confesso, mas não precisei chegar aos 65 anos para aprender a separar o certo do errado, e até hoje me envergonho das vezes em que fui irresponsável, inconsequente, hipócrita, desonesto, covarde, maldoso. Quando um homem chega a esta idade e suas atitudes divergem de seu discurso, então o caso é patológico, carece de ajuda médica. Quaanto a mim, resta mais uma vez lamentar e correr para junto dos meus livros.

terça-feira, 27 de março de 2012

Só escrevo porque escrever me ajuda a pensar (Macedônio Fernandez)

Ronda aos postos e, de quebra, um monte de pinhões. Não fica bem um diretor ficar recolhendo pinhões nos postos de serviço da empresa, mas nada me impede de fazer isto na via pública –ainda mais se for uma viazinha escondida de todo mundo, onde passa um carro a cada quinze minutos. Entre uma e outra vistoria, paro, fotografo, escrevo, leio, atento para o silêncio  –que, como já disse Mia Couto, se constitui na “língua de Deus”.
Não é a planta dos meus pés que se gasta; é a terra que a golpeia.  Não são os sulcos do meu rosto que marcam a passagem dos anos; antes, é o próprio tempo que envelhece. Não é o meu espírito que se acovarda; é a prudência neonata que o detém. Não são os meus olhos que se tornaram indiferentes ao luto; é o mundo que vai perdendo, a cada dia, parte do seu encanto.

Existe no Brasil uma escritora chamada Tatiana Alves Soares Caldas. Professora. Autora de um livro chamado Harpoesia, que publiquei no NPB através de meia dúzia de poemas. Venceu o primeiro Araucária, categoria Contos, com 'Do Limbo', um texto até mesmo chorável. Pois bem. Se o Prêmio Araucária deixar de existir, a culpa vai ser dela, que também é especialista em Agustina Bessa Luís, a da Sibila, e manja muito de Gumarães Rosa, a ponto de escrever sobre ele em revistas especializadas de circúlação nacional. Repito: se o Prêmio Araucária acabar, a culpa vai ser dela, e dos textos belíssimos que ela escreve. Sorte que o julgamento não cabe a mim. LAC vai ter que se virar por lá, porque por mim eu já entregava a ela o primeiro, o segundo e o terceiro lugares em ambas as categorias. Quem vem logo depois dela está muito bem colocado. Tatiana devia parar de participar desse tipo de evento, para poder dar espaço para os demais...

A ideia de criar o Projeto Fala, Escritor! vai deixando de existir por conta da rusga com o Diretor da Biblioteca. Uma pena, ter que recorrer ao rompimento.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Um crítico vale não pela excelência dos seus argumentos, mas pela qualidade de sua escolha (Ezra Pound)

Drese convida para um festival literário em Buenos Aires, em abril do ano que vem. Sem informações ainda acerca de programação ou se o convite é para ser um dos escritores convidados ou apenas para assistir ao evento. Convite feito, convite aceito.

O sonho com a prisão me fez acordar com a cabeça explodindo, o que persiste até agora. Angústia. Ricordi de João Pessoa, o lado oculto e tenebroso. Medo, insegurança, o processo kafkiano -e Simone ao meu lado, inquebrantável.

Li à noite duas edições antigas da Veja, e nada há que mereça destaque. Guardei um artigo de Lya Luft sobre dicionários, que pretendo ler ao longo do dia -que começa envolto em relatórios e mal-entendidos. Lembro do Frei Betto e seu conceito de trabalho, existente nas Cartas da Prisão.

E-mail para o irmão: trivialidades.

Ainda Tabucchi: lembro que no ano passado cancelou sua participação na FLIP em protesto contra o governo brasileiro, que se negou a extraditar para a Itália o terrorista Cesare Battisti, hoje uma celebridade nacional, com direito inclusive a lançamento de livro. Un paese di merda, il nostro, que continua fornecendo muito combustível para a indignação universal. Grazie, Tabucchi.

domingo, 25 de março de 2012

Uma nação que negligencia a percepção de seus artistas entra em declínio. Depois de um certo tempo ela cessa de agir e apenas sobrevive (Ezra Pound)

É salutar aproveitar o silêncio das primeiras horas da manhã de domingo. Barulho, só o latido dos cães e os gritos dos gaviões e demais pássaros que abundam na mata do Morro-Grande, atrás da Casa. Todos dormem. Perdem o espetáculo que desenvolve a manhã, com a visão da neblina que se alterna com a luz do sol e se estende sobre a Cidade, embranquiçando os morros e o céu. Rebrilha sobre os matos de todos os tamanhos e espécies ainda o orvalho da noite, que escorre preguiçoso das folhas como um amante exausto. É linda esta hora jordanense. Mais ainda porque a maioria das pessoas dorme, e a quietude impera, soberana.
Não há facilidades na fruição do romance de Namora. Pelo contrário, é esta uma prosa árida, pedregosa, dificultosa, labiríntica, que desafia o leitor a se perder em seus volteios. Deliciosos, entretanto, os termos belíssimos de um português quase arcaico. As desventuras do pobre Pencas em meio às dificuldades de sobrevivência de uma país agrário e subdesenvolvido onde a educação, certamente, se configurava num luxo. Época de Salazar e sua aversão ao desenvolvimento. Para conhecer Fernando Namora, tenho a impressão de ter começado pelo livro certo.
Hesito em comprar o jornal. Não me apetece  a edição dominical, com pouca notícia e muitos artigos especiais que, em geral, não me interessam. Devo ficar somente com o livro. A Veja, talvez.
Continua o rosário de óbitos relevantes. Antonio Tabucchi, escritor italiano, sessenta e oito anos, especialista em literatura portuguesa, que mudou-se para Lisboa pelo imenso  amor que desenvolveu pelo país, causado sobretudo pela leitura constante de Fernando Pessoa, morreu esta manhã. O problema é que, suponho, não temos tanta inteligência disponível para repor perdas destas relevâncias. A mesma idade de Dalla. Estes mortos têm me golpeado à sorpresa, em pequenos aniquilamentos.
Saímos a catar pinhões pelas ruas chiques e vazias do Capivari. Leonardo e Bruno de bicicleta. Enchemos somente meio saco. O suficiente para darmos, à nossa moda, boas vindas ao outono, que já derruba acintosamente milhares de páginas pelas ruas esburacadas e mal-cuidadas da Cidade. Nada mais jordanense que catar pinhões distraidamente numa manhã silenciosa de domingo, numa breve e pacífica declaração de amor.
Tento convencer Mellie, a cucciolina, que ela foi contratada para cuidar da casa, e não da rua. Não adianta. A cada pessoa ou veículo que passa pelo nosso portão, ela parece ser acometida por uma síncope. Tenho lhe apelidado Dilma.

sábado, 24 de março de 2012

Eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é mais importante do que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta –porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever (Jorge Luis Borges)

Concluí a leitura de “Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra”, do moçambicano Mia Couto, muito lido e admirado por aqui –aliás, com toda justiça. Do mesmo autor já havia lido, há alguns anos, a coletânea de contos “O Fio das Missangas”. Dono de uma prosa poética e objetiva, parece não ser adepto da prolixidade que grassa em parte da literatura em língua portuguesa dos dias atuais, especialmente encontrada nos textos de Lobo Antunes, Luandino, Pedrosa e Saramago. Suas frases de efeito (quase versos) causam grande impacto durante a leitura, emprestando ao enredo grande carga de lirismo e magia, o que acaba por fazer dele um escritor para poucos. Sua literatura é, por assim dizer, excludente, acaba por selecionar naturalmente o leitor. Quem lê Isabel Allende, por exemplo (como Simone, às voltas com “Inés de Minha Alma”), terá alguma dificuldade até se ‘localizar’ em Mia Couto e suas africanidades. Apesar das diversas passagens que recolhi para os guardados, não acredito que este livro me permanecerá por muito tempo na memória, assim como ocorrei com os contos. Ou seja, um autor de deslumbramento não-duradouros. Estante da sala.

Gostei das primeiras –primeiras, mesmo- páginas de A Noite e a Madrugada, de Fernando Namora (Guimarães Editores, Lisboa, 1954), minha primeira incursão pela prosa do português que é um dos preferidos de Saramago. Esta fase lusófona, pelo jeito, vai longe. Vai ser para sempre. ?.

O atraso de LAC nas avaliações dos textos do Araucária me traz dissabores. O prazo de quinze de marco não foi cumprido, e segundo me conta o Nagues, lá de Brasília, já tem gente ‘arrancando os cabelos’. Enviei e-mail esclarecendo o atraso e pedindo desculpas. De qualquer forma, é hora de voltar a mexer com isso.

Há uma semana, fazia frio, Simone estava no trabalho e eu no Pronto-Socorro por conta de um caroço no pescoço que, aliás, permanece até hoje, mesmo após a ingestão diária dos antiinflamatórios receitados pela médica. Menos mal que a dor é quase imperceptível.

Também há uma semana me encontrava com o poeta José Carlos Mendes Brandão e sua esposa Sônia, também ela escritora da melhor qualidade, para um café rápido em Abernéssia. Estavam hospedados em São Bento, e vieram a Campos para conhecer a cidade –que Brandão, por sinal, achou “muito movimentada”, ainda que não se compare com a Bauru onde vivem. Ele foi meu professor de Português no Escholastica Rosa, em Santos, no longínquo ano de 1984 e, por um destes milagres protagonizados pela literatura e pela informática, acabamos por nos reencontrar tantos anos depois. Para mim, se trata de um encontro histórico, uma alegria indizível, ainda mais quando ocorre na mesma semana da visita de Ricciotti e seus meninos, que jantaram conosco em casa. Como diria Violeta Parra, ‘gracias a la vida’.

Simone e suas urgências, na semanal tarefa de faxinar a Casa. Não mais protesto, posto ela já ter dito que gosta. A minha tarefa, de limpar e lavar o quintal –ou ao menos parte dele- cumpro em tempo muito menor, e seguramente me proporciona cansaços maiores.

Cascalho emperrou. Não readquiro a linguagem. Talvez Manoel de Barros ajude.

Chegamos à semana da palestra. Depois, encerra-se a Exposição. Preparar a palestra da Univap e o lançamento do livro, no dia 20. Sai esta semana a nova edição do jornal, com o artigo ‘Escola Não É Clube’. Sem erros ou cortes, I hope so.

Repercute ainda em mim o episódio envolvendo o diretor da Biblioteca. A sensação desagradável de ter descoberto traços de mentira e desfaçatez num homem que aprendi, ao longo do tempo, a admirar pela sabedoria e inteligência. Pena.

Morre Chico Anysio, o maior humorista brasileiro de todos os tempos. Um ator admirável e um raro gênio moderno, que marcou toda uma geração pelos programas na TV. Andou se aventurando brevemente  também pela literatura, sem grandes repercussões. Comparando com o execrável ‘humorismo’ que se pratica hoje em dia, Chico acabou se tornando uma prova de que sim, nós brasileiros, até bem pouco tempo atrás, éramos mais inteligentes. Cearense de Maranguape –cidade que ajudou a inserir no mapa- deixa um legado de talento inquestionável. Ficamos, artisticamente, ainda mais pobres do que já estamos.   

sexta-feira, 23 de março de 2012

O que significa ser um escritor para mim? Significa simplesmente ser fiel à minha imaginação (Jorge Luis Borges)

Durante a reunião na Secretaria de Educação para tratar da participação dos estudantes da rede pública na Festa do Pinhão, através de uma iniciativa cultural, flagro a secretária folheando um caderno repleto de recortes com alguns dos meus artigos do jornal. Perguntei do que se tratava, e fui informado que os textos são usados paras as reuniões que são feitas com os Diretores das Escolas e demais professores da Rede Municipal. Trechos inteiros dos textos, inclusive, estão destacados com caneta especial, o que me faz acreditar que são os que são abordados com maior ênfase durante os encontros. Ora, meus amigos, só posso ficar feliz com uma situação dessas. Não, minha senhora, não sou pedagogo nem professor. Minha mulher sim, fez Pedagogia e trabalha como Orientadora Educacional, de forma que pode ser que eu tenha realmente aprendido algo por osmose. Minha formação é Hotelaria. Sou Diretor de uma empresa de segurança e escritor, nas horas vagas. Tentei fazer Letras por duas vezes, e abandonei. E como a moça aí do lado aí já disse, sou membro da Academia de Letras aqui da cidade.  Sim, venho fazer palestra, sim, é só a senhora convidar. E se precisar de alguma coisa com relação aos alarmes das escolas, também  é só chamar, os telefones estão aqui no meu cartão. E-mail, rádio, celular, tá tudo aí. Benilson, sim. Benilson Toniolo. Está escrito no cartão. Eu é que agradeço.

Não senhor, eu não vou permitir que o senhor se refira desta forma, nem à Empresa em que trabalho, nem aos meus colegas, nem a mim. O senhor foi grosseiro, indelicado e teve uma reação inadequada diante de uma situação que o senhor mesmo provocou. Minha vontade é arrebentar-lhe a fuça, agora mesmo, e só não faço isso porque há vinte livros de minha autoria neste lugar, e preciso tirá-los daqui antes de partir-lhe esta cara gorda e vermelha. Pode ser que seja covardia, também, ou pura preguiça. Mas que o senhor é grandíssimo filho-da-puta, ora disso tenha certeza. Enfie no rabo suas mentiras e teorias absurdas. E conte comigo para os próximos projetos da Biblioteca.

quarta-feira, 21 de março de 2012

A expressão vocabular humana não sabe ainda, e provavelmente não o saberá nunca, conhecer, reconhecer e comunicar tudo quanto é humanamente experimentável e sensível (José Saramago)

Agora, a solicitação é de um atrativo de cunho cultural voltado para os pequenos estudantes do município, por ocasião da Festa do Pinhão, de dezoito a vinte de maio. Pedem auxílio para a organização do certame, com direito a reunião com a Secretária de Educação. Bora cuidar do Regulamento.

Cascalho caminhou dois capítulos. Difícil é achar o jeito. Olha como cachoeirejam meus luzeiros.

Simone ausente é como se me faltassem os braços.

terça-feira, 20 de março de 2012

Conheço essas lágrimas que não caem e se consomem nos olhos, conheço essa dor feliz, essa espécie de felicidade dolorosa, esse ser e não ser, esse ter e não ter, esse querer e não poder (José Saramago)

Mia Couto vai colaborando grandemente para aumentar meus guardados: milhares de frases se acumulam. E há passagens, também, como estas:

“Em África, os mortos  não morrem nunca. Excepto aqueles que morrem mal. A estes chamamos de “abortos”. Sim, o mesmo nome que se dá aos desnascidos. Afinal, a morte é um outro nascimento”
“Todos os dias a Avó regava a casa como se faz com uma planta. Tudo requer ser aguado, dizia ela. A casa, a estrada, a árvore. E até o rio deve ser aguado”
“A terra estava aberta a futuros, como uma folha branca em mão de criança”
“Nas noites escuras, as grandes árvores das margens se desenraízam e caminham sobre as águas. Elas se banham como se fossem bichos de guelra. Regressam de madrugada e se reinstalam no devido chão”
“Nunca houve princípio. O primeiro dia surgiu quando o tempo já há muito se havia estreado. Do mesmo modo, é mentira haver fonte do rio. A nascente é já o vigente rio, a água em flagrante exercício. O rio é uma cobra que tem a boca na chuva e a cauda no mar”
“Assim este Deus para mim: primeiro, ausente: depois, desaparecido”
A poesia em sua forma mais pura, como disse outro dia.

Tavares de Lima e esposa escrevem de Recife, acusando assim o recebimento do livro:

Prezado amigo e confrade Benilson Toniolo:
Recebemos seu livro " Sandálias Paternas E Outros Poemas." Li e reli várias vezes e
fiquei encantada com tal criação literária. Belíssimo livro, conteúdo de elevada grandeza filosófica, que nos emociona, toca-nos a alma em sua essência e criva -nos o coração com chamas ardentes de amor. Que beleza! De vez em quando, minhas lágrimas escoaram pela face...
Parabéns, mil vezes parabéns, Sr. Escritor, Poeta, Cronista e Filósofo Homem das
Letras, dotado de riquissimos dons recebidos de Deus. Que Ele continue enviando-lhe
as necessárias  bênçãos  hoje e sempre.
Desejamos conhecer "Poemas Jordanenses".Temos conta no Banco do Brasil ( que se
situa  próximo ao nosso endereço) e ficaria fácil fazermos uma transferência, caso o
Amigo disponha também do citado Banco. Se possível, gostariamos de saber o preço do referido livro  e os devidos números de agência e c/corrente.
Infelizmente, submeti-me a sete cirurgias na vista e disponho de contenções, desde o
ano de 2010. Mas consigo ler  e escrever com moderação, graças a Deus.Sou membro
da UBE-PE, Sociedade dos Poetas Vivos de Olinda, Grupo "Celina de Holanda"  e
Associação Nordestina de Trovadores. Nos lançamentos de livros ou festas, às vezes,
os escritores  solicitam que eu cante. Sou Soprano e cantar para mim é um alimento...
Devido aos limites visuais, tenho frequentado menos. Não temos carro, mas conseguimos mesmo assim. Desculpe-me pelos  detalhes.
Grande abraço de amizade:
Dorinha Arruda e  Tavares de Lima.(Nomes literários)
Nascidos: (ela:  Caruaru, 1934; ele : Vicência, 1926)

Maria das Dôres Arruda de Lima e José Tavares de Lima

segunda-feira, 19 de março de 2012

Uma língua não é, como somos levados a supor pelo dicionário, a invenção de acadêmicos ou filólogos. Ao contrario, ela foi desenvolvida através do tempo, através de um longo tempo, por camponeses, por pescadores, por caçadores, por cavaleiros. Não veio das bibliotecas; veio dos campos, do mar, dos rios, da noite, da aurora (Jorge Luis Borges)

O que há no meu pescoço, segundo o vocabulário quase ininteligível da médica que me atendeu, é um "gânglio enfartado". Num primeiro momento, achei que se confirmava o diagnóstico que eu fizera pela manhã: eu estava enfartando. Depois, percebi que o que estava enfartando não era eu, e sim o gânglio. Nada que um potente antiinflamatório não resolva, segundo a doutora. Tomemos, pois, o medicamento, observemos e, sopratutto, desconfiemos -o que sempre é mais recomendável que confiar demais.

O Brasil é o país que menos cresce na América do Sul em 2011: 2,7%, contra 8,8% da Argentina; 5,5% do Uruguai: 5,8% da Colômbia; 3% do Suriname; 4,5% da Bolívia. O Peru cresceu (sem trocadilho) 6,9%; o Chile, 6%; o Equador, 9%; 4,2% a Venezuela e 4,8% a Guiana. O Paraguai, só para constar, 4%. Segundo avaliadores, este índice pode mostrar que "a sustentabilidade do modelo de crescimento brasileiro é questionável". Por maior que seja minha boa-vontade, não consigo enxergar o crescimento alardeado pelo governo nos últimos dez anos. Não consigo entender estes números, minha gente, que nos coloca abaixo de Suriname e Bolívia, com todo o respeito que lhes é devido. A impressão que tenho, leigo que sou, é que aplicamos na economia os mesmos conceitos que aplicávamos em 1994, quando alcançamos a tão famosa "estabilidade", que acabou virando sinônimo de "estagnação". Não é possível que esteja tudo bem. A quem, afinal, continuam tentando enganar?

Um domingo de agradabilíssima caminhada e calcio com Bruno, no campo da SEA -o que há tempos não fazíamos. Ao final do dia, mais que o cansaço, a alegria de ter aproveitado o tempo de folga com atividades saudáveis.

O Povo começa a fazer oposição sistemática à Prefeita, condição que me traz incômodo e certo repúdio, até. No momento, o que deve mover a cidade politicamente, penso eu, é o sentido de auxílio e colaboração para que se chegue bem ao fim do mandato. Jogar pedras é gostoso somente enquanto não somos vidraça.

Um Conto Chinês é um filme argentino da nova geração, de linguagem um pouco mais lenta do que os demais que tenho visto. Ricardo Darín, um de meus atores preferidos, continua a protagonizar o personagem frustrado e infeliz que, por força das circunstâncias, acaba por "humanizar-se" no final. Fica a sensação de déja-vu, principalmente para quem já assistiu "O Filho da Noiva" e "O Mesmo Amor, A Mesma Chuva". E fica novamente claro que, apesar de tudo, Darín é sempre Darín.

Carlos Heitor Cony, ao encerrar seu artigo sobre a atualidade e as perspectivas de Antonio Callado, seu companheiro de redação e de cela: "Ao mesmo tempo em que muitos se orgulham do nosso desenvolvimento material (exagerado em muitos casos), de nossas taxas de crescimento (grifo meu: ele não deve ter ainda lido a Folha de hoje) e de nossa presença no cenário internacional, a maioria se envergonha com o dia-a-dia da vida pública, onde os culpados são cada vez mais ostensivos, e os justos, cada vez mais raros".

O governo iraquiano autorizou a polícia a eliminar gays, conhecidos no país como "adoradores do demônio". Já são noventa vítimas só este ano, e mais de oitocentas nos últimos seis. A maioria é morta por apedrejamento. Há relatos de pais que assassinam os filhos com tiros na cabeça. O demônio, coitado, sempre acaba arcando com a pior parte.

Para Cantanhêde, a crise no Governo levará os petistas a recorrer ao pajé Macunaíma, que deve voltar esta semana ao centro da taba.

Hoje, me lembrei de Johnny Alf, que andava sempre pelo Bar da Praia.

Na Veja e na Ilustrada, Vinícius de Moraes. Ainda não li.




domingo, 18 de março de 2012

Suponho que a sabedoria seja mais importante que o amor; e o amor, que a mera felicidade. Há um quê de trivial na felicidade (Jorge Luis Borges)

Um livro para se ler com a alma em repouso, ao som adocicado do primeiro domingo do outono.

No Pesquinha, A Idade da Razão, de Sartre. Quase o Menino de Engenho, que devolvi à estante por conta dos traços de uma traça.

Na internet, a mobilização do povo de União dos Palmares em protesto contra a onda de assassinatos que assombra a cidade desde o começo do ano. Lá, ao menos, se protesta. Entre as vítimas, crianças e adolescentes que testemunharam os crimes e prestaram depoimento à polícia. Foram executados com tiros na cabeça.

Não dou conta dos absurdos que encontro na Folha de hoje: no Paraná, o homicida confesso que tenta se entregar à polícia e não consegue, pois o mandado de prisão solicitado pelo delegado há mais de um ano ainda não foi analisado pelo promotor; o Condomínio de luxo em Mogi das Cruzes que adotou o toque de recolher aos seus condôminos. Quem chegar após as 22h, é multado. Até agora, a única reclamação registrada foi a demora na tomada da decisão por parte dos responsáveis pelo empreendimento; a faculdade que destina 10% do que recebe do governo a igrejas que lhe indiquem alunos que precisem de financiamento estudantil. Enquanto outros alunos pagam R$ 260,00 de mensalidade, o governo paga R$ 969,00.

Fernando Rodrigues, sobre a "pseudocrise" política gerada pela recente troca de farpas entre Planalto e Congresso: "é positivo a presidente da República dar bananas sucessivas para uma certa escória política  que há muito habita o Congresso". " Culpar deputados e senadores é pueril e ineficaz, pois o Legislativo fica paralisado e, o Brasil, atolado no atraso". Lembra ainda que "FHC recebeu Paulo Maluf e Lula refestelou-se com Collor".

Rodrigo Constantino, sobre um eventual exagero nas tentativas de controlar o tabagismo no Brasil: "não cabe ao governo nos proteger de nós mesmos". Sintetizando, é isso. Para ser simplista, talvez caiba a nós nos protegermos do Governo.

O militar norte-americano que, num acesso de fúria, matou dezesseis afegãos -preponderantemente mulheres e crianças- está estressado, segundo seu advogado. Coitado.

Pode um tumor dar-se a caminhações? Digo isto porque o caroço, que manhãzinha estava pelos meios do pescoço, foi descendo em direção à base, e agora quase não o alcanço com a mão. Parece querer mergulhar, e faz como quem se aventura num mangue sem lhe saber a profundidade. Vai tenteando, com os pés, temendo perder o contato com a margem. Tento apertá-lo embaixo para que volte a subir e poder mostrá-lo ao médico quando retornar ao hospital. O que faremos, agora que não se pode comprar a Casa?

Só há um palavra a definir esse time da Fiorentina nos últimos anos: vergonha. A equipe deste ano só não retrocede por conta dos Cesena da vida, que conseguem ser ainda piores. Poucas vezes vi, na vida, um time tão ruim. A derrota por cinco a zero para a Juventus, agora há pouco, em pleno Artemio Franchi, deve representar para o clube um divisor de águas, capaz de mudar tudo. Esta Fiorentina não representa, nem de longe, a cidade onde está sediada. 

  

sábado, 17 de março de 2012

Buscamos nós alguma afinidade com as estrelas (George Meredith)

Inventário de lamentações: hoje, uma bola dentro da garganta, muito dolorida. Incomodou durante a noite, e achei que tivesse dormido de mau jeito, mas como continuou durante a manhã, cutuquei e encontrei a circunferência estranha. Fui ao Pronto-Socorro, o médico plantonista encontrava-se em uma emergência, fiquei de voltar depois. No trajeto de regresso à Casa, fui adiantando meu inventário. Será que ainda estão debitando o seguro de vida? Prefiro parto sem dor. O que eu espero depois da morte? Rever meu pai.

Brandão escolheu um dia tipicamente jordanense para vir: russo, chuva e frio.

Simone na escola até a hora do almoço, os meninos dormem. Comprei a Folha. Morreu Aziz Ab´saber, que no ano passado foi eleito o Intelectual do Ano pela UBE. Físico. USP.

O livro de Mia Couto é um presente da literatura ao mundo. Voltei a trabalhar no Cascalho.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O fato central de minha vida foi a existência das palavras e a possibilidade de tecê-las em poesia (Jorge Luis Borges)

Patativa do Assaré - A Trajetória de um Canto, de Luiz Tadeu Feitosa, cumpre sua função -ensaio que é- de retratar o significado da vida e da obra do poeta cearense para a literatura brasileira. Para quem, como eu, pouco sabia a respeito, trata-se d eleitura mais do que recomendada. O último capítulo, que retrata a relação do Patativa homem com o meio em que vive, com todas as qualidades e defeitos comuns à sua condição de homem, ajuda a derrubar um pouco o mito que foi feito do poeta. No final, conclui-se -apesar da aversão do autor a conclusões- que Patativa foi mesmo aquilo que imaginamos: um homem simples, matuto e pobre, mas com uma aptidão para a poesia que o transformaram em um verdadeiro ícone, devidamente entronizado, da literatura brasileira.

Conti volta a falar no convite para assumir a Secretaria de Cultura, em caso de vitória do candidato do PCdoB nas eleições municipais. Declino, agradecido.

Cortaram o artigo desta semana no jornal. Devia estar realmente muito extenso. E logo a parte da homenagem ao estudante que salvou o mendigo do espancamento no Rio de Janeiro. Pena. Transito entre a indignação e o entendimento. Fico com o sgundo, ainda que um pouco contrariado.

Duas tardes de treinamento operacional, diante de trinta e dois treinandos, foram suficientes para me devolver às ganas, como dizem os espanhois.

O banco não aprovou a liberação do financiamento. Também não disse por que negou. Decepção, tristeza e desapontamento, logo substituídos por uma lufada inesperada de renovada esperança. Não queremos deixar esta Casa.

Simone, amanhã, envolvida com um treinamento de brigada de incêndio. Um peixe colorido e vivo, largado no meio do deserto.

Um rio chamado tempo, uma terra chamada casa, de Mia Couto, é o que retiro da estante. Leitura que promete.

Doze e treze de abril em São Paulo, para um curso. Rua Amauri. A palestra na Univap fica para o dia dezenove.

Não voltei mais à Biblioteca depois da terça-feira. Logo, não tenho mais notícias sobre a Exposição.

Informo a Academia de Campos sobre a indicação para a Academia Bauruense.

A ideia é descobrir a data de aniversário de Pedro Paulo Filho e sugerir a algum membro da edilidade que transforme a data em Dia da Cultura Jordanense.

Quando um artista morre, se instala uma tristeza maior que a habitual. Quando um artista é assassinado por outro artista, é como se o mundo perdesse em dobro. Se o caso se der em Campos do Jordão, onde até a arte se transforma em mero produto de consumo de forasteiros endinheirados, são duas perdas que beiram o insubstituível. Cavalli e Alan, um que mata e o outro que morre. Uma tragédia a manchar de sangue e consternação a luta pelo reconhecimento dos que fazem a arte cotidiana desta Montanha longínqua e indecifrável. 






quinta-feira, 15 de março de 2012

Os dias são todos iguais, as horas é que não, quando os dias chegam ao fim têm sempre as vinte e quatro horas completas, mesmo quando elas não tiveram nada dentro (José Saramago)

O dia começou com dois convites: sócio-correspondente da Academia Bauruense de Letras e retornar ao rol de membros da União Brasileira de Escritores. Na verdade, sempre usei o nome desta entidade quando de minha apresentação literária, nunca me senti excluído, mesmo após ter sido destratado pela funcionária da Tesouraria. Agora, com a ideia de implementação de um núcleo no Vale do Paaraíba, mais precisamente em Taubaté, e no momento em que a carreira parece ganhar novas dimensões, não deixa de ser interessante uma reaproximação com a entidade que representa os escritores no Brasil. Já a de Bauru, é sempre uma alegria conhecer uma nova cidade, ainda mais a convite de ninguém menos que meu caro professor e amigo José Carlos Mendes Brandão. 

Ainda que eu tenha demorado alguns dias para assistir ao funeral de Dalla, um pouco por acúmulo de trabalho e outras para deixas baixar a "poeira sentimental", o fato é que a polêmica em torno da sexualidade do artista me aguçou a curiosidade. O pranto convulso do ator e poeta Marco Alemanno, ao recitar o poema-canção 'Le Rondini' durante a cerimônia fúnebre deixa muito claro que é grande a possibilidade de que ambos, ele e Lucio, terem sido companheiros, sendo portanto Marco o viúvo, que foi mais ou menos o que ele deu a entender. A questão é: e daí se Lucio Dalla era homossexual? Esta condição em nada muda a beleza de suas palavras e canções. Um homem sensível e um artista extremamente lúcido, dotado de uma imensa capacidade criativa. Ainda que parte do 'escândalo' se deva à pressão maciça exercida pela presença da igreja católica sobre a sociedade e o governo, a preferência sexual do falecido é absolutamente irrelevante diante da perda insuperável que sua morte representa. E é também uma excelente oportunidade para que a Itália reveja com urgência a forma com que trata seus cidadãos, sejam eles homossexuais ou não. Grazie again, Lucio Dalla, poeta e homem de bem.

Há algo que faz o dia de hoje ser melhor que o de ontem.

Há muitos anos não assistia a um jogo de tênis na TV. Ontem, parei para ver o segundo e terceiro sets do confronto entre Federer e o brasileiro Bellucci, pelo torneio de Indian Wells. E, ainda que tenha demorado um pouco mais do que o previsto para "me achar" dentro do jogo, gostei. O brasileiro mostrou-se muitíssimo bem preparado e jogou de igual para igual com o lendário suíço, que venceu por dois a um com uma dificuldade, a meu ver, acima da média. No final, Federer é Federer. Foi bom...




quarta-feira, 14 de março de 2012

Um fato é o que dia nos traz, outro fato é o que nós, por nós próprios, levamos a ele (José Saramago)

Brandão e Sônia chegaram a São Bento, vindos de Bauru. Hora de acertar a logística para encontrá-los. Ansioso. O problema é que os próximos dois dias serão bem agitados no trabalho, tempo exíguo. É mais provável que eu vá do que eles venham.

Simone chama a atenção para o movimento de minha perna direita enquanto durmo. Segundo ela, fico dando pequenos chutes no vazio, em séries de três chutinhos, durante toda a noite, com intervalos. Não deixa de ser engraçado.

A abertura da Exposição, repercutindo. Cumprimentos.

Larguei o pobre Dante no segundo círculo do inferno, coitado, há dias. Tentarei avançar com ele e Virgílio, ainda hoje.

Lindo o poema sobre a morte da menina Nanã, por inanição. Qualquer hora, reproduzo.

Benvenuta, Camoã.

Truncados, os contatos com a Academia. Hay que desenrolar, sin perder la ternura jamás.

Bruno vai ao acampamento em setembro, Leonardo ao Zoológico no dia vinte e nove deste mês. Passeios e gastos. Formatura no final do ano. 

Num dia marcado por imbecilidades e idioticezinhas inomináveis, a descoberta do romeno Mircea Eliade, tirado do livro de Luiz Tadeu Feitosa, pode se configurar num bálsamo. Irra!

terça-feira, 13 de março de 2012

As palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é que importa (José Saramago)

Não há palavras para definir a abertura da Exposição dos Escritores, ontem à noite, na Biblioteca Municipal. Um público formado por mais de oitenta pessoas, entre escritores, artistas de outras áreas, professores, estudantes e público em geral. Algo diferente aconteceu. A surpresa era geral, as pessoas não acreditavam que fosse possível reunir tamanho público em um evento cultural -ainda por cima, literário. A bem da verdade, eu também não acreditava. Pensei em, no máximo, trinta pessoas. Mas foi mais do que isso. Muito mais do que isso, aliás. A atmosfera foi a melhor possível. Uma aluna de Pedagogia me informou que fizeram em sala um trabalho baseado em uma das crônicas que publico no jornal. Apesar da destacada ausência da Academia, foi em evento para ego nenhum botar defeito. Como disse o inflluente empresário, "não há segredo: qualidade gera qualidade". Foi uma noite feliz, com grandes sorrisos e um sentimento de cumplicidade que irmanou a todos. Tudo isso graças à literatura, que nos proporcionou uma noite mágica, como disse o Sérgio. Hoje, estamos espantados e surpresos. Não poderia ter sido melhor.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Que difícil é separarmo-nos daquilo que fizemos, seja coisa ou sonho, mesmo quando por nossas próprias mãos já o destruímos (José Saramago)

Uma exposição é uma exposição é uma exposição é uma exposição. Salgadinhos, cartazes, telefonemas, gente atrasada querendo ser incluída de última hora. Alguém me liga: "a prefeita confirmou presença!" Tanto se me dá, como diria Jânio. Afinal, é época de (re) eleição municipal, a campanha de difamações, ameaças e bravatas está a todo vapor. Ainda vai sair morte nesse negócio. Isso aqui está virando uma pequena Paraíba, no que o Estado nordestino tem de pior. O melhor a fazer é concluir a exposição e voltar para minha pequenina literatura. Publicar livros, escrever novos, conhecer mais autores. Longe das afetações e exigências que abundam no gênero. De perto, ninguém é normal. Nem de longe.

Mal enviei o artigo do jornal, e já deixei pronto o próximo. Acho que peguei o jeito.

domingo, 11 de março de 2012

Felizmente existem os livros. Podemos esquecê-los numa prateleira ou num baú, deixá-los entregues ao pó e às traças, abandoná-las na escuridão das caves, podemos não lhes por os olhos em cima nem tocar-lhes durante anos e anos, mas eles não se importam, esperam tranquilamente, fechados sobre si mesmos para do que nada do que têm dentro se perca (José Saramago)

Fazia tempo que eu não me sentia tão feliz quanto neste final de semana, ao receber a visita do velho amigo Ronaldo Ricciotti e seus dois pequenos filhos, Lucas e Matheus, na Casa. Uma alegria, a pizza de sábado, o Lambrusco gelado, os chocolates de sobremesa e a conversa fluindo solta em meio a recordações amigas, confissões e boas gargalhadas -como quando éramos apenas dois sonhadores gastando sola de tênis pelas ruas de Santos, com muitas canções na boca e incertezas no coração. O único amigo com quem chorei doído, o único a quem dei meus abraços mais sinceros, um irmão de verdade com quem posso conversar sem receios e sem reservas. Sua estada em Campos do Jordão me trouxe a impressão que sim, amizades verdadeiras existem, apesar de a vida geralmente não se preocupar muito com elas. Meu silêncio de agradecimento, por ter vivido estes momentos.

Nada de novo na Folha. Os artigos da segunda páginas estão comuns demais, ordinários demais. Nada que se destaque. Na Ilustrada, entrevista com Paulo Henriques Britto, professor, poeta e tradutor. Um único verso para os guardados. Algo novamente sobre Cohen, que voltou à baila.

Na manhã de domingo, Rachmaninoff no Quarto-Verde.

Outra reprise da entrevista de Mario Vargas Llosa para o Escritores em Primeiro Plano, no Futura. Dispensável para quem já viu mais de uma vez.

Na tarde chuvosa de domingo, assitimos ao Amor Nos Tempos do Cólera e a um show do Quarteto em Cy.


sábado, 10 de março de 2012

A vida nasce, é bela, floresce, adoece e morre, sendo esquecida em meio aos vermes. E fazemos o que podemos em meio a isso (Luiz Felipe Pondé)

As boas notícias abundam. Desta vez é o escritor José Carlos Mendes Brandão, meu velho e querido professor de Português do Escholastica Rosa em 1984, hoje residente em Bauru, que informa estar vindo com a esposa, Sônia, também ela poeta da melhor qualidade, para passar uns dias em Sâo Bento do Sapucaí, aqui do lado. Prometem visita.

Os artistas jordanenses, um dia, hão de tomar posse da Praça Sâo Benedito, no endinheirado centro turístico do Capivari, para mostrar sua arte. E será logo.

Pouco mais de um mês para o lançamento de Mar de Amares.

Fui descendo o Morro às onze e meia da noite para buscar Simone na Escola. Fui entre dormindo e acordado, repisando um verso de Manoel de Barros: 'o que não sei fazer desconto nas palavras'. E foi assim, morro abaixo, que quase trinquei a língua ao errar a mordida do chiclete. Depois acordei definitivamente, e o verso voltou para sua gaveta em algum arquivo intracraniano.

Não vou porque não quero. Só isso. Não vou por não poder mais com ególatras e artistas cuja inspiração não durará sequer uma década. E, de vaidades incontroláveis, já chega a minha.

No sonho, choro e abraço fortemente o velho e querido tio, morto há trinta anos. Falta-lhe uma das filhas, e a esposa, que também já se foi, está linda, grande e morena em sua fina blusa branca de antigamente.

Raspas e restos me interessam.

Para a coluna, o artigo falará da baixa porcentagem de brasileiros com ensino superior, se comparado com outros países, como Uruguai e Chile. Falo também do fato de o governo de S. Paulo estar convocando professores que foram reprovados em avaliações para ocupar o lugar dos titulares afastados -e as consequências deste fato para a qualidade do ensino público. A ver.




sexta-feira, 9 de março de 2012

A literatura é cachaça. Vicia. A gente começa com um cálice e acaba pau-d’água na cadeia (Monteiro Lobato)

A noite de abertura da Exposição de Artes Plásticas do Dia da Mulher foi surpreendentemente agradável. Coube a mim participar da abertura com a leitura de dois poemas de Adélia Prado, que preferi aos de Cora, muito longos, frases de Withman e Mia Couto. Alguns cumprimentos pela eleição no CMC e um coquetel competente, do qual fiz uso menos do que gostaria. No wines. Distribui os sete exemplares da Agenda Literária que me enviou o Abílio, desde o Pará. Interessei-me por dois quadros retratando a Pedra do Baú, de alunos iniciantes de um curso miistrado por Tubarão. E a certeza, compartilhada com alguns, de que algo está verdadeiramente se movimentando na vida cultural da cidade. "Por conta de novas pessoas que estão surgindo", me disse uma delas. Pode ser.

Previsão de visita para o Morro-Grande neste final de semana. Um amigo da antiga, mais os filhos pequenos, que se hospedarão em uma pousada no Morro do Elefante. A pizza em casa, no sábado à noite, é por minha conta. Já reservei o estoque de colchicina, zyloric e torsiflex, para a dor.

Estou me reapaixonando por Adélia Prado.

Camoã voltou, cada vez mais linda.

quinta-feira, 8 de março de 2012

É fácil ser politeísta quando a natureza em volta reflete riqueza e diversidade. Mas, no deserto, monotonia é monoteísmo (João Pereira Coutinho)

Eleição para o Conselho Municipal de Cultura. Sou afinal o vice-presidente recém-eleito de uma entidade que nem sei direito como é que funciona. Hoje, declamação de Cora Coralina na abeertura da Exposição sobre o dia da Mulher. Como se isso fosse preciso. Prescindir, sim, é que é às vezes é preciso. E esse livro que não acaba... Um festival de frases de Ana C., Clarice, o diabo. Tasquei lá o Walt Whitman de sempre. "Meu cachorro está um pouquinho melhor, pelo menos parou de vomitar. Já gastei centro e trinta reais. Mas a gente também não pode deixar de acudir, cachorro é um filho que a gente tem. Mas tá amuado, tadinho. Pelo menos parou de vomitar, isso já é uma grande coisa. Mas olha, faz dez anos que ele está comigo e é a primeira vez que fica doente. Até a veterinária falou, olha, você deu sorte com esse cachorro. Tadinho." Acho que vou arrumar qualquer coisa para fazer na rua.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Muitas vezes descubro que estou apenas citando algo que li tempos atrás, e isto se torna uma redescoberta. Melhor seria, talvez, se os poetas fossem anônimos (Jorge Luis Borges)

Aos poucos, retomo a rotina desta que é a minha casa, com minha luta, meus sonhos, meus desejos, frustrações, medo e esperanças. Semana pesada, todos estamos cansados. Trabalho acumulado.

Enviei há pouco os poemas pedidos por Malosti para o Varal do Dia da Mulher. Mandei os de dona Zefinha e os de Simone. Para a abertura da Exposição amanhã, às 19h, no Museu, levarei Cora Coralina.

O pessoal me cumprimenta pelo livro novo. Com atraso.

Praticamente concluída minha tarefa de montar os paineis, recolher os poemas e avisar os participantes da Exposição do dia 12/03.

Divulgando a palestra sobre Ariano nas escolas, em conjunto com o Regulamento e o convite para a Exposição.

Canseira, seu.

Contardo Calligaris, via mail: "Caro Amico Benilson ti Scrivo cosí mi distraggo un po'. Dalla é uma longa história que acabou, olhe só, num dia em que, em Porto Alegre, alguém me assaltou e foi embora com meu carro (isso era sem relevância, eu tinha seguro) e, dentro do carro, todos meus CDs italianos, inclusive os de Dalla. Será que ele acabou mesmo escutando? Enfim, um abraço um pouco enlutado, Contardo". 
Minha resposta: "Contardo, magari o ladrão tenha ouvido ao menos uma daquelas canções de Dalla. Bom, a história de Porto Alegre é bem menos interessante que aquela que você contou sobre o episódio havido em Rimini, seu retorno para casa, o pai na penumbra, a estante dos livros de Poesia e a mágoa sobre o que haviam dito na reunião: é morto PPPP! Indimenticabile, quell' articolo. Complimenti. Ti ringrazio per la risposta e ti saluto -come fanno i marinai...". Eis talvez porque, contrariando Daniel Piza, eu me ufano.

Furini, sobre Sandálias Paternas, publicado no jornal Indústria e Comércio de Curitiba: 

Resgatando as lembranças

Recebi o livro de poemas SANDÁLIAS PATERNAS do poeta paulista Benilson Toniolo, editado pela Casa do Novo Autor. Toniolo é membro da Academia de Letras de Campos do Jordão e criador do Prêmio Araucária de Literatura. Ele é poeta, contista, cronista e tradutor, premiado em inúmeros certames no Brasil e no exterior.
Sandálias Paternas, segundo o próprio autor, é uma obra para ser lida com a alma. Em cada uma das páginas surge uma lembrança: vemos o pai trabalhando, a avó alagoana, a avó Zefinha e sua colcha de retalhos, a mãe, o pai “que colhia morangos sob o Sol”, ao ficar doente “olha da parede com seus olhos cadeados e mãos a ignorar infinitos”, a morte do pai, a casa, o vento, “o frio percorrendo do tornozelo ao topo da espinha”. Benilson Toniolo vai recontando, tecendo com trama poética a sua própria história.
Na continuação podemos ler Outros Poemas. No final, como um bom vinho, surpreende-nos com uma belíssima descrição de Santos. Um poema para perdurar na memória, pois a cidade do litoral paulista é descrita com traços fortes e estéticos:
Esta parede esverdeada de colinas, que se debruça sobre os casebres.
Estes casebres que se debruçam sobre o oceano
- um oceano inteiro de memórias –
Este odor marinho impregnado na minha alma menina,
Estes barcos ancorados que carrego comigo,
Estas escadarias submersas
Esta areia rude e escura,
Estas pedras submersas desde sempre
Os prédios da Estação de Praticagem
(…)
Cargueiros abarrotados de comércio
E canoas em busca de sardinha.

Os poemas de Benilson têm profundidade e um olhar que avança e nos contagia. Aparentemente simples, esses versos nos levam por caminhos inesperados. Há versos belíssimos que nos surpreendem. Benilson Toniolo tem o dom de expressar suas visões de maneira clara e elegante, de descrever paisagens e sentimentos com força e vitalidade.
A capa de “Sandálias Paternas e Outros Poemas” traz uma fotografia velha e desbotada, mas como contraponto, os poemas de Benilson são nítidos, bem elaborados e confabulam com o leitor para relembrar a própria história. Um belo trabalho de interiorização."

Senza parole.

terça-feira, 6 de março de 2012

Não considero um livro um objeto imortal a ser tomado em mãos e devidamente cultuado, mas antes uma ocasião para a beleza (Jorge Luis Borges)

Não há como não passar pela estrada que leva a Tremembé e, ao vislumbrar a verde beleza dos arrozais, não lembrar de Mauro Valle, que escreveu um dos mais belos poemas que retrata nossa região, que eu chamo “As Garças de Tremembé”, mas que na verdade é nominado por um numeral romano: LI.
Pensei em trazer na viagem algum livro do próprio Mauro, de Ledo Ivo ou Manoel de Barros, mas não trouxe. Preciso retomar a produção do Cascalho, parada desde anteontem.
O Povo deu, enfim, a nota sobre o Sandálias Paternas. Ficou bom.
Um novo escritor aparece em Campos do Jordão: esqueci seu nome. Já “quase” nos cruzamos duas vezes, uma na Secult e outra na Biblioteca. De posse do endereço do seu blog será fácil convidá-lo para compor a Exposição, que vai crescendo. Ontem, recebi telefonema de uma senhora cuja filha de nove anos tem mostrado interesse pela literatura e começa a escrever, tendo já feito algo que ela, a mãe, chamou de livro. Pode mandar os dados, minha senhora. Um estudante de Pedagogia me informa que toda a sua turma, composta de cerca de trinta pessoas, estará na palestra do dia trinta e um. Isso sim, são boas notícias.
Um dos responsáveis pela Univap me comunica que estará presente em minha palestra do dia doze de abril, sobre Segurança Patrimonial e Empreendedorismo. Danou-se.
Muito calor em Taubaté. Deve ser o mesmo em São José dos Campos, São Paulo e Brasília. O país inteiro ferve, segundo atestam os jornais escritos, falados, televisados e digitados. Se possível, seqüestrarei o avião quando estiver sobrevoando o Centro-Oeste e mando ele desviar para Cuiabá, só para poder fazer uma caminhadinha no Parque Zé Bolo-Flô. Se bem que, com o calor que deve estar fazendo naquele lugar, o melhor a fazer mesmo é seguir direto para a capital federal.
Nada contra o forte cheiro que emana de parte da gente simples de Campos do Jordão. Mas que tem gente que extrapola, lá isso tem.
A ida à Biblioteca foi exatamente aquilo que se pode chamar de frutífera. Um Grande Sertão novinho (meu sonho de consumo desde o ano passado), antologias poéticas de Vinicius e Bandeira, Guarnieri (Eles Não Usam Black-Tie) Sabino (O Último Mentecapto), outro Diodiá, além de alguns discos clássicos -e importados: Brahms, Schummann, Mahler, Rachmaninoff e alguma coisa de Maria Callas.
A julgar pela aparência, o povo que vai para o Aeroporto começou a embarcar em Taubaté. Afetadíssimos, com imensos óculos escuros e atarefados ao extremo com seus aparelhos celulares, passam pelos outros da mesma espécie de forma diáfana e apressada. O mundo, na verdade, só existe se estiver à sua disposição, e toda paisagem não passará de simples moldura para sua glória.
Dailor Pinto Varela no Nova Poesia Brasileira é uma novidade e tanto.
Na Dutra sentido São José dos Campos, vejo uma calcinha cor-de-rosa pendurada na parte baixa da placa de um ponto de ônibus. Como diz o outro, “é marketing...”
Segundo Gorj, tudo certo com o Mar de Amares. Lançamento para 24 ou 25 de abril, no Espaço Telefónica de Capivari. Depois disso, é trabalhar no Poesia Coxipó. Mas só depois da compra da casa.
Em Leonardo, que ainda dormia, um beijo longo na testa, e ele acorda com um sorriso. Em Bruno, um abraço demorado defronte à escola. Hora, talvez, de começar a preparar as breves ou demoradas despedidas que a vida haverá de nos impor, daqui para diante, mais cedo, mais tarde.
Deveria ter trazido José Saramago.
Vivos, restam ainda alguns amados: Manoel de Barros, Ariano, João Gilberto, Benigni. De uns anos pra cá, se foram José, Mercedes e Lucio.
Furini destaca, em sua resenha sobre o Sandálias, o poema sobre Santos, que fecha o livro. Resenha bonita e objetiva, ainda que algo crítica, mas que se constitui em jóia para minha desorganizada fortuna crítica. Já LAC, em crise, faltou dizer que eu sou Deus.
Eliane Cantanhêde, na Folha de hoje, diz em sua coluna que Dilma, por assim dizer “arrumou para a cabeça”. Segundo a jornalista, os militares da reserva elaboraram um texto no qual criticam a Presidente, que ao tomar conhecimento do fato chamou o Ministro da Defesa e determinou que a bravata fosse extinta, sumisse do mapa. Os velhinhos da caserna não só o mantiveram, como ainda fizeram outro, declarando que não vêem no Ministro nem competência nem autoridade para determinar a eles o que quer que seja. Está, pois, criado o impasse. O que era uma provocaçãozinha a ser encarada como tal corre o sério risco de se transformar em uma crise institucional calcada na quebra da hierarquia e no desrespeito público ao Governo.
De Marina Silva: “é possível afrontar a inteligência da população quando se dispõe de muitos recursos e meios para sustentar a (des)informação”. Sutil e dotado de conteúdo. Quem tiver ouvidos, ouça.
Voo de brigadeiro, como diz o jargão. Mais quarenta minutos e chegamos. Daqui a pouco, nos informa o comandante, vislumbraremos Uberlândia. Olha pra frente, comandante, olha pra frente...
Na revistinha de bordo da Gol, nada que preste. Nem pra ver as fotografias. Não há sequer um misero artigozinho, nada. Publicidade em excessos, reportagens batidas sobre os paraísos do litoral nordestino e uma entrevista absolutamente descartável com uma das rainhas da música de carnaval de Salvador. Porque dizer que a Bahia toda é só isso, não se pode fazer. Desperdício de papel e tinta. Nada que contribua para melhorarmos a inteligência dos passageiros.
O pinto dentro do ovo / aspirando um mundo novo / não deixa de beliscar / bate o bico, bate o bico / bate o bico, tico-tico / pra poder se libertar’. O lado político de Patativa.
Acaba de passar sob nós um rio lindíssimo, puro desenho de cobra serpenteando sobre o verde claro que o rodeia. A paisagem, cada vez mais, se multiplica.
O clima em Brasília em muito se assemelha, por estes dias, a Cuiabá. Um sol acachapante, que chega a causar nas pessoas até mesmo uma certa intimidação. Dizem os brasilienses que um calor desses, a esta época do ano, é anormal. Deve ser.
Visitas rápidas a alguns dos principais pontos turísticos. Congresso Nacional, Palácio da Alvorada, Supremo Tribunal Federal, Ponte JK, Lago Paranoá, Museu JK, Tosse e sua simpática feirinha –dotada de uma empolgante nordestinidade popular, sem os formalismos dos outros lugares. Aqui comprei minhas bugigangas: miniaturas da Catedral e da Estátua dos Candangos. A Catedral, aliás, é belíssima, com direito inclusive a uma réplica da Pietá. Digno de nota também o Museu do Memorial JK, ainda que não seja o suficiente para fazer do visitante um admirador de Juscelino –a não ser que esteja predisposto. A uma das atendentes, perguntei na saída o motivo da cassação do Presidente, ao que ela não soube responder. Ficou sem graça, coitada, e muito sem jeito justificou-se dizendo que “ainda não tinha tempo de decorar tudo, é muita coisa”. Coitada.
Era visita à mãe recém-operada da catarata nas duas vistas, portanto uma viagem pouco dada a passeios turísticos. Dentro do possível, fez-se o que pôde nas pouco mais de vinte e quatro horas de estada em solo planaltino. Tudo muito grande, muito opulento, exagerado, imensidões por todos os lados, um sem-fim de prédios e carros. Inacreditável que este lugar tão rico seja a capital de um país tão desigual e miserável. Brasília é, definitivamente, um monumento ao desperdício do dinheiro e da dignidade do povo brasileiro.
A casa tinha visitas: um alto comando militar e esposa. Degustaram-se queijos, vinhos, uísque, castanhas, carnes, chocolates e outros –e caros- quitutes, ao som alto das músicas do DVD e risadas constrangedoramente fúteis. A decoração é composta por muitas foto e quadros e demais lembranças das inúmeras viagens feitas pelo clã enquanto o patriarca serviu em Espanha. Há também uma pequena estante com alguns livros –a maioria, didáticos- e seis aparelhos de TV instalados, sendo um em cada quarto, outro na sala de visitas e o último na cozinha. Sim, na cozinha. Algumas vezes, todos são ligados ao mesmo tempo. Há também laptops, computadores de mesa e tablets, sem contar os celulares wi-fi. Ninguém fez nenhuma menção ao Sandálias Paternas, o que me fez estar convencido de ter perdido um exemplar.
Estive, e com tempo de sobra tanto na ida quanto na vinda, em dois dos maiores aeroportos brasileiros, Guarulhos (de onde saem e chegam todos os vôos internacionais da maior cidade do País) e Brasília, a capital. É notável o acanhamento, a confusão, o despreparo e as dimensões medíocres de ambos. O espaço disponível nos banheiros chega a ser risível. Os da rodoviária de São José dos Campos, onde esperei por quase três horas até que saísse o ônibus para Campos do Jordão, são melhores, mais amplos e limpos.
Patativa e Dante foram meus companheiros de viagem.
Enquanto a maior parte do País sucumbe sob um sol impiedoso, Campos está prestes a pedir socorro por causa da chuva. No sábado à tarde, me informa Simone, o comércio fechou as portas em Abernéssia, para que as águas não invadissem as lojas. Curioso para ler o Povo.
Para Conti, o Jornal do Senado, o Jornal da Câmara, o Guia Cultural de Brasília e o catálogo do Museu JK. Bom amigo, o Manoel. E cinco postais, que um dia ainda me servirão para alguma coisa.



quinta-feira, 1 de março de 2012

Dediquei a maior parte de minha vida à literatura, e só posso lhes oferecer dúvidas (Jorge Luis Borges)

A vida ensina a sermos fiéis àquilo que amamos. Demora, mas acontece sempre. Por necessidade ou vergonha-na-cara, a gente acaba melhorando. Achei uma grande sacanagem a morte de Lucio Dalla, meu músico preferido. Algumas composições suas me marcam a vida: Anna e Marco, Felicittà, Il Cucciolo Alfredo, Henna, Itaca, Ayrton, Come Fanno I Marinai, Come È Profondo Il Mare, L'Anno Che Verrá. Uma infinidade delas me encanta, e no dia-a-dia, distraída e involuntariamente, me flagro assoviando e cantarolando Dalla. Perdi a conta da contribuição de suas canções para o enriquecimento do meu vocabulário. Há cerca de vinte anos, ainda no Guarujá, comprei um LP com seus "greatest hits' só para ouvir uma música. Depois comprei o "A Modo Mio". E era daquela forma que os ancestrais faziam -encarte com as letras das músicas em uma mão, dicionário na outra- que acabei me familiarizando algumas palavras e expressões. Houve uma época em que eu não falava italiano, falava "dallaiano". Entre um e outro disco, veio o dicionário comprado num sebo do Centro. Sua morte é pois, para mim, uma tragédia. Ensaiei uma lágrima, natimorta devido às atribulações do trabalho. Minha italianidade rompe a pele e me reduz a um homem portando uma dor que não poder ser compartilhada, por motivos vários. Procuro na internet amigos que possam entender tamanha tristeza -amigos que partilhem da mesma dor: Vezio Nardini, Zaira Cantarelli, Sabato Laudato, Lucia Beltrame, Luana Zampieri, meus filhos pequenos, Bruno e Leonardo. Disparo um torpedo para Simone, Minha Luz: quando a gente se encontrar, você me dá um abraço? Que terá a dizer Contardo Calligaris, que recentemente citou Lucio em de seus artigos na Folha? Lucio Dalla, bolognese como Umberto Eco, não está mais vivo. E esta é uma ausência que permanecerá para sempre.

Véspera de viagem, avião e tudo. A excitação das primeiras horas pós-confirmação se transforma num desejo de ficar, de permanecer, de não sair de casa nem de perto de Simone e dos meninos. Ontem à noite, o clima já era pesado. Nem eles querem que eu vá, nem tampouco eu quero ir. Nem o apelo de conhecer a capital da república me atrai. Queria mesmo ficar, passar o final de semana em casa, com nossas coisas, nossas manias, nossa rotina. Simone teme ficar sozinha com os meninos, eu sei. Mas vejo que o que mais a incomoda é a ausência. Que o domingo, então, chegue logo, e eu consiga pegar o ônibus das dez horas de volta para casa.

Sempre duvidei de todo esse puritanismo de Patativa do Assaré. A cegueira, o problema de audição, o velho poeta sertanejo descoberto para o Brasil na sua mais pura inocência, as imagens da casa pobre e do sertão distante, Ceará-Piauí, o gênio brasileiro que surge como milagre em meio à terra seca. Sempre achei um pouco de jogo de cena, uma situação não natural e forçada. Pois o ensaio "A Trajetória de Um Canto", de Luiz Tadeu Feitosa, que adquiri há poucos dias em São José dos Campos, dá exatamente esta noção de que Antonio interpreta o personagem Patativa o tempo todo. A leitura é longa, são mais de trezentas páginas e mal passei ainda da de número cinquenta. Isso, se levar a leitura até o fim. Há anotações a fazer, mas passei do ponto, tenho que voltar atrás. A contar as quatro horas de viagem de casa até o aeroporto, acho que localizo para o registro.

Além de Patativa, preciso voltar a ler A Divina Comédia, parada no Canto VI. Como diria Suassuna, duas leituras demorosas.

Houve por aqui um treinamento de condução de cães, cuja parte teórica assisti. Chegando em casa, tentei aplicar parte do que aprendi em Mellie, a cucciolina. Parece que deu certo. Pelo menos a parte que penso ter entendido. Ela está, ao que parece, mais calma e obediente. Pelo menos comigo. Resta, agora, dar sequência ao meu adestramento.