quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Não se foge/ quando se é/ o próprio cárcere (Luiz Otavio Oliani)

O texto de apresentação do livro de Rodolpho Civile, a ser lido no próximo sábado:
"Gostaria, sr Presidente, nesta oportunidade, de apresentar aos senhores acadêmicos e aos senhores e senhoras presentes o mais recente livro de um de nossos mais brilhantes acadêmicos.
É comum hoje em dia, sr Presidente, quando as pessoas comentam uma obra, o uso de adjetivos forçados, de elogios constrangedores, de falácias, de recorrer a metáforas exageradas com o simples e mesquinho intuito de agradar ao seu autor. No meu caso, convidado que fui pelo dr Rodolpho Civile para apresentar a esta Academia, e a este público, seu mais novo livro, Momentos do Passado – Contos e Crônicas do Bexiga, gostaria de falar, sr Presidente, do que este livro não tem. Estranho, falar de algo que não está presente em uma obra. Mas como leitor inveterado e fanático que sou, não poderia me furtar a comentar aqui o que falta no livro do dr Rodolpho. Não vemos, senhoras e senhores, neste livro que ora lhes apresento, o pseudo-intelectualismo que testemunhamos tantas vezes, em tantos lugares. Não vemos nesta obra a arrogância característica dos que se posicionam como donos da verdade. Não vemos nesta obra a incapacidade de compreensão de textos que abunda em nossas letras. Nesta obra não encontraremos a verborragia gratuita, o palavrório incompreensível, que faz uso indevido da palavra como enfeite, como mero penduricalho, para criar efeitos lingüísticos que nada contribuem para a compreensão daquilo que se está a ler. Como diria o mestre Graciliano Ramos, a palavra não foi feita para brilhar como ouro falso. A palavra foi feita para dizer.  E é isto, sim, que encontraremos neste livro que nosso ilustre acadêmico  apresenta nesta data, e disponibiliza para que possamos adquiri-lo ao final desta sessão. Encontramos histórias de um tempo que não volta mais. Encontramos a beleza da simplicidade das coisas, do coração puro e sonhador de um jovem médico que inicia sua trajetória profissional no lugar onde foi menino e adolescente, e que agora, avançado em anos, olha fixamente seu passado, acaricia a mão de sua inseparável esposa e pensa: ‘valeu a pena’.
Amós Oz, o grande escritor israelense, disse que os melhores livros são aqueles em que há pessoas dentro. Momentos do Passado é um livro dotado de grande beleza porque fala de gente, pessoas que conviveram e contribuíram para que a memória de Rodolpho Civile fizesse dele hoje este guardador de tesouros –que ele, gentilmente, nos convida a compartilhar.
Minhas congratulações, dr Rodolpho Civile, pelo seu novo livro “Momentos do Passado – Contos e Crônicas do Bexiga”."

Rubem Alves: 'Minha esperança é mágica. Desejo que os meus leitores, ao lerem os meus textos, fiquem com os olhos semelhantes aos meus. Assim, eles verão o mundo da forma como eu o vejo -e as palavras se tornarão desnecessárias'. Pretensões exageradas à parte, a frase acima contradiz a divindade das palavras, citada pelo próprio Rubem em outro momento da narrativa. Talvez resida aí  desnecessidade - e a desimportância- de ainda haver deuses.

Outras de Rubem Alves:
'O que é um profissional? É um corpo, outrora portador de sentidos, que se transformou em ferramenta, utilidade'.
'As crianças já nascem sabendo. Quando elas, através da educação, são transformadas em seres úteis, o Paraíso lhes é roubado: são obrigadas a se esquecer do brinquedo e a viver no mundo do trabalho'.
'Sem ser capaz de realizar a obra para qual foi criado, o objeto não mais se justifica. É jogado fora: uma lâmpada queimada, uma caneta esferográfica usada, um pneu que se gastou: não merecem ser guardados. O mesmo se aplica às pessoas. As pessoas que perderam sua utilidade não mais se justificam numa sociedade utilitária. Ficaram obsoletas. Deixaram de poder ser usadas como ferramentas. Essa é a razão para a crise de identidade das pessoas em nossa sociedade: ou elas perderam a utilidade ou provavelmente perderão a utilidade'.

E há ainda Camus, que fala de um homem que, ao se preparar para dizer as suas últimas palavras antes de morrer, descobriu que as tinha esquecido.

Volto ao templo, para celebrar a morta.

Rodolpho me convida a tomar parte na Sobrames. Nem médico eu sou...

Envio de novo artigo para o jornal, desta ves mais intimista e informal, falando inclusive de Jesus Anacleto Rosa. O pessoal da redação deve estranhar o estilo, mas é uma tentativa de tornar o texto mais agradável e menos pomposo.

Recuso exercícios, ainda que haja tempo de sobra. Sorvo um sanduíche de frango e salada com a despótica sofreguidão de quem se sabe condenado. Mas assim não estamos todos?




Sem comentários:

Enviar um comentário