terça-feira, 3 de janeiro de 2012

É meu coração aturdido que me anuncia a proximidade do fim (Isabel Allende)

Muito oportunamente, a Folha publicou na edição de ontem uma entrevista (mais parecia uma conversa informal) concedida por Piza a João Pereira Coutinho, que parece ter falado mais que o entrevistado, em 2008.

Já na Ilustrada de hoje, Pondé parece querer fazer gênero. Está em Tel Aviv. "Não conto com a misericórdia de Deus porque não a mereço. Não temo pessimismos cosmológicos. Não espero nada na vida em termos de recompensa moral. Antes de tudo porque não sou uma pessoa boa. Raramente me preocupo com os outros, e a África pouco me importa. Nem a fome. Nem as baleias. Nem você". Ui.

Falando em Israel, ontem à noite fiz algo raro: assisti integralmente ao Roda Viva, com o escritor e pacifista Amos Oz. Com exceção de Paulo Werneck, editor da própria Folha, que me pareceu inclusive um tanto afobado e deselegante ao tentar a todo instante interromper seus pares (além de adotar uma postura de inquisidor, vou mostrar pra esse cara que não me impressiono com ele), os demais, na maior tempo do tempo, mantiveram uma postura de assertividade e quase subserviência, com colocações e perguntas rasas. Há muito o que dizer sobre Amos Oz. O que mais me impressionou foi seu refinado senso de humor -característica dos judeus, segundo ele. Esteve nos campos de batalha em 1967 e 1973, quando os árabes procuravam destruir Israel. Hoje, combate o fanatismo: 'o fanático é alguém que não quer mudar de opinião e também não muda de assunto'. Falou sobre Clarice Lispector -sobre quem foi evasivo- e Jorge Amado, cuja obra leu com entusiasmo na juventude e hoje, na maturidade, causa-lhe menor impacto. 'Mudei eu, ou mudou ele'. Principais influências são os russos do século 19: Tolstoi, Dostoiévski e, principalmente, Tchekov. Ressaltou a importância dos críticos para o aperfeiçoamento do seu estilo narrativo ('críticos são leitores com canetas'). Cerca de 90% da entrevista, penso eu, foi marcada pelo conflito Israel-Palestina, com destaque para o otimismo do entrevistado com resolução a uma saída diplomática e conciliadora para a questão. 'O que falta é coragem'. O recado de Oz está dado.

Para um jovem porteiro de 28 anos em crise conjugal com a namorada (pode, isso?), e que lê auto-ajuda, ofereço A Romana, o livro de Moravia que li no ano passado.

Algumas doações à Biblioteca Municipal e retirada de "A Noite a a Madrugada", de Namora. Edições Guimarães, Portugal.

'Que Farei Com Este Livro?', já se perguntava Saramago years ago. O mesmo questionamento faço eu, ao contemplar a centena de exemplares do Sandálias Paternas em uma das prateleiras do quarto-verde.

O grande homem de nossa cultura local gravemente doente. 2012 já tem uma tragédia prevista para ocorrer em nossa cidade.

'Neste nosso mundo, mundo de centros poderosos e subúrbios submetidos, não há riqueza que não seja, no mínimo, suspeita'.

'Sempre que o Estado passa a ser dono da principal riqueza de um país, é bom perguntar quem é o dono do Estado'. 

'Em Cuba, todos têm acesso aos frutos do desenvolvimento e a solidariedade é o eixo das relações humanas'.

As três citações acima pertencem ao livro As Veias Abertas da América Latina, do uruguaio Eduardo Galeano, que já muito citei no Primeiro Diário e cuja leitura, que hoje encerro, me marcou a passagem de ano. Não me consta que o autor tivesse alguma vez na vida pensado em se mudar para a ilha de Fidel. Que fascínio o regime caribenho exerce sobre os grandes escritores de nossa geração... Talvez por ser a única forma de combater, verdadeiramente, o imperialismo. Pronto, virei galeanista.

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