quarta-feira, 30 de maio de 2012

Joguem seus computadores no lixo. Parem de entrar no facebook. Parem de ler besteiras no twitter. Saiam à rua, vão a um bar, tomem uma caipirinha, conversem com as pessoas, façam sexo com alguém. Em uma palavra: vivam! (James Ellroy)

Se Ariano Suassuna for mesmo o candidato brasileiro à disputa do Nobel de Literatura, estaremos prestigiando um gênio da cultura brasileira em detrimento de outro, não menos autêntico e igualmente brilhante: Manoel de Barros. Em ambos os casos, resta saber que o Brasil não comete a insanidade de ser representado por Paulo Coelho. Ou Gullar. Continuo achando que o próximo Nobel em língua portuguesa será Lobo-Antunes -apesar de tudo.

Estou adorando o Sartre. Chega, às vezes, até a ser infantil. Mas certamente é culpa da tradução...

Parte da noite, passei organizando os livros novos a publicar, de poesia e de contos. Ainda não estou decidido a lançar o de poemas cristãos, ainda que seria uma excelente oportunidade de me reaproximar da religião. Se a literatura me proporcionasse também isso, seria fantástico.

Na sexta, participação em uma vernissage, querem que eu declame. E reclame. Vou de Roldão, Vinicius, etc. Em suma, o de sempre.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem (Jean-Paul Sartre)

Com a mudança para a nova casa, acabou-se o Exílio do Morro-Grande. A nova casa, localizada em outro bairro (ainda mais distante) é menor e, ainda que não nos lance as vistas ao imenso vale que havia em seus costados como a casa antiga, nos oferece graciosamente um quintal de relvado amplo e cheio de plantas, pássaros e pequenas árvores, onde Mellie, a cucciolina, deita-se com as quatro pernas abertas e vai deslizando até chegar na cerca-viva que nos separa do quintal cimentado da casa vizinha. O sol, quando há, invade-nos de todos os lados, e o silêncio impera, só quebrado pelo som do video-game e da TV da sala, que fica muito próxima dos quartos. Tenho um espaço só para a Biblioteca, revistas sobre literatura e demais coleçõezinhas. Sim, a casa é nova. As preocupações, entretanto, continuam transitando entre a existência de Deus e o empréstimo no Banco.

Ainda estamos nos adaptando. À casa, todos nós. À vida, somente eu.

Enfim empossado na vice-presidência da Academia. Agora, é evitar o assédio da presidente com baboseiras e suscetibilidades.

Na entrega dos prêmios aos alunos vencedores do concurso "Uma História de Pinhão", agendaram a data errada, e só o segundo colocado compareceu. As outras duas meninas, primeira e terceira colocadas, foram no dia seguinte, todas empetecadas, para receber os livros, certificados e medalhas. Fizeram um cerimonialzinho lá, na hora, para a entrega -mas quem ficou mesmo registrado foi o menino, um dia antes. Da minha parte, algumas fotos que foram parar no site. 

Reorganizando a fortuna crítica.

Neste intervalo, terminei O Túnel, de Sabato, e me entrego à Idade da Razão, de Sartre. 

Entro em contato com a escola para saber se há trabalhos para o Prêmio Monteiro Lobato de Redação responde que não há nenhum. Pergunto o motivo, e ela responde: "é que eu não me senti atraída pelo projeto". Bom, depois não digam que eu não tentei. 

Estou prestes a me casar. O nome da minha amada é Simone.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida (valter hugo mãe)

Últimas horas do Exílio-do-Morro-Grande. Quase dois anos nesta casa, de cujo tamanho ainda não nos acostumamos. Vamos embora sem saber como lidar com tanto espaço. Fomos felizes aqui, apesar dos gritos dos vizinhos e do vento. Mellie, a cucciolina, nasceu praticamente aqui. Sempre que a olharmos, nos lembraremos desta casa. No fundo, foi um bom lugar, de bons auspicios. Algumas coisas já estão amontoadas à espera do domingo de mudança. Antes, há o dia de hoje, com o trabalho, a edição do jornal, a leitura d'O Túnel, o laboratório de Redação de Bruno, Leonardo e sua festinha de aniversário para a qual foi convidado e sua aula de Desenho. Simone, com uma gripe avassaladora, tem dificuldades para falar, comer, dormir...

O que mais me preocupu não foi a derrota para o Vélez, em Buenos Aires. Foi a apatia e a impotência do time. Na Vila, semana que vem, será outra pedreira. Uma nova derrota para os argentinos, em casa, não está descartada. O Brasileiro começa no domingo, em Salvador. Pelo menos é uma cidade agradável.

Uma coisa boa: ao deixar Leonardo na aula de Desenho, dou uma espiada na banca e descubro que o livro de Saramago, que deveria chegar somente no domingo, já está por lá. Adquiro, portanto, com dois dias de antecedência, o Ensaio Sobre a Lucidez.

Continuo angustiado com a tragédia de Tamiris, a filha de um amigo que ao voltar das aulas noturnas na faculdade bateu seu carro em uma vaca no meio da estrada. Em coma, já passou por cirurgias e ontem os médicos praticamente a desanganaram. Deve ter uns dezoito, dezenove anos, por aí. Os pais sempre criaram os filhos dentro da igreja -evangélicos praticantes. Ainda há um fio que liga Tamiris à vida -mas que se torna, a cada hora, menos resistente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A escritura é um abrigo (Mario Benedetti)

Nova consulta sobre minha disposição em  assumir a Secretaria Municipal de Cultura, desta vez vinda do partido que atualmente está no governo. Declino, de novo. Nem transferi o título de eleitor para evitar certos falatórios, imagine se vou aceitar um negócio desses...

No sábado, premiação do Histórias de Pinhão. Definidos os três vencedores. Os estudantes do oitavo e nono anos dos dias de hoje escrevem como minha geração escrevia, quando estávamos na quarta série primária.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um pessimista é um otimista bem informado (Mario Benedetti)

Mais de setecentas e cinquenta cidades nordestinas padecendo novamente com o flagelo da seca. Os açudes esturricados, o gado morto de fome e sede, cadáveres de animais surgindo na paisagem, a terra despedaçada, pesadelo a demonstrar que não, minha gente, não avançamos um centímetro sequer no combate à fome neste país de eternos almocreves. Tudo o que os governantes fizeram foi enganar o povo com migalhas mensais denominadas "justiça social", mais uma falácia mentirosa para arrecadar o maior número possível de votos e alimentar o entusiasmo infantil que caracteriza o idealismo de adolescentes que acham que o mundo cabe em salas de certas universidades. Somos um emaranhado de tragédias e injustiças propositadas e odiosas. 1930, 1950, 1960, 1970, 80, 2012. Quantos ainda serão enganados pelos governantes, quantos ainda morrerão de fome até que nos tornemos um país minimamente decente? Que Copa do Mundo o quê, minha gente. Precisamos é tomar vergonha na cara. No fim de tudo, não passamos de um bando de Macunaímas, cada um do seu jeito. E viva Mario de Andrade!

Morreu Carlos Fuentes, e mais uma vez meu sofrimento é solitário: ninguém para compatilhar esta nova dor. Para registro, apenas, declaro que de sua autoria li "Diana" e "A Cadeira da Águia".

Os dias que antecedem a mudança se constituem em um mosaico de sentimentos. A casa, uma bagunça.

Flavia, como sempre amabilíssima, mudou a data da premiação do Concurso Uma Hisstória de Pinhão de domingo para sábado, apenas para que eu possa estar presente na premiação. Uma lindeza.

Encararei o Coxipó. Seja o que Deus quiser. Na segunda quinzena de junho, o livro de contos vai finalmente para a Editora, para apreciação. Oremos, again.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Só a mediocridade literária alcança de saída o grande público (Alceu Amoroso Lima)

Domingo à noite, um frio lascado, voltando com Simone e os meninos da comemoração do título paulista, em Abernéssia. Entro no carro, ligo o aquecimento e percebo um senhorzinho todo encolhido vindo em minha direção com um papelzinho na mão. Pede que eu abra o vidro, e eu atendo. Me estende o papelzinho, que é uma receita médica do Pronto-Socorro, que fica ali do lado. Diclofenaco – que até onde eu... saiba pelo testemunho da gota que invariavelmente me acomete, se trata um antiinflamatório. Pergunto o que houve. Quebraram meu braço, diz o homem. Como? Briga. O homem treme. Pode ser de dor, pode ser de frio, pode ser dos dois. Pequenininho, uma bolsa pendurada no braço esquerdo, e o direito apoiado pela mão oposta. Atento para eventual cheiro de álcool. Nada. Diz que o remédio custa doze reais, e ele só tem nove. Precisa de mais três, portanto. Faço mais perguntas, com a desconfiança que caracteriza nossos tempos. Digo a ele: vou comprar este remédio para o senhor. O homem começa a chorar, diz uma dúzia de “Deus lhe pague” e pergunta se eu não quero que ele me dê os nove reais que tem no bolso, para diminuir meu “prejuízo”. Não, digo eu, guarde para o senhor ir para casa. Vou ali na Drogaria São Paulo, o homem me acompanha, e peço ao Paulo que marque a despesa (onze reais e trinta e três centavos, já com desconto) na minha conta, que depois eu acerto. Dois clientes da farmácia observam tudo calados e estranham a situação. O homem sai, volto para o carro, dou a partida e rumamos para casa. No dia seguinte, pergunto aos meus filhos o que pensavam do episódio, e ambos respondem a mesma coisa: “legal, mas ele tava mexendo o braço”. Não pergunto mais nada. Comprei, pronto. E, por incrível que pareça, até agora ainda acho que fiz um bom negócio...

domingo, 13 de maio de 2012

A realidade supera, em valor patético, toda fantasia (Alceu Amoroso Lima)

Subo o tom nos diálogos com LAC e Cosme. O primeiro fala por mim na UBE e, sem me consultar, trata de meu reingresso. Apesar da boa intenção, desaprovo e lhe comunico da desaprovação. O segundo cobra o envio da medalha de forma brusca e com uma intimidade que não lhe dei. Tomar posição é preciso, gostem ou não. Posso até reconsiderar a questão da UBE -mas não neste momento.

Últimos dias no Exílio-do-Morro-Grande. Foi a mudança para cá que fez surgir este diário. Hoje, o quadro não permite que ele seja registrado diariamente, e ainda reside a dúvida se devo ou não mantê-lo.

Penso em me distanciar um pouco das viagens e deslocamentos com fins literários. O acidente com Tamiris me assustou, por ter ocorrido em uma noite em que eu deveria ter ido a Taubaté, e não tê-lo feito justamente por desconfiar do tempo, da neblina, das condições dos pneus. Fiz bem. Centralizarei as ações aqui mesmo, em Campos.

Dia das Mães. Tentarei uma homenagem em um dos blogues, com um texto do Sandálias Paternas.

Preciso prestar contas com a Editora.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Não existem trabalhos humilhantes, existem, sim, relações humanas humilhantes (Frei Betto)

É isso que dá ficar muito tempo sem consultar o Google: descobrir ao acaso algumas publicações de poemas e referências a livros nos mais diversos sites, literários e não-literários.

Tenho que descobrir outra coisa para me dedicar. Tá assim de pseudo-escritor no mundo, já. Mais um pra quê?

Amanhã, viagem para S. Paulo. Feira Internacional de Segurança. Vou, querendo voltar.

A casa nova: parte elétrica, limpeza da caixa d'água, instalação do alarme.

Homens e Caranguejos começa a pesar. Menos pelo autor, mais pela minha ansiedade em dar cabo da leitura. Talvez não seja o momento de ler nada.

Um roubo, o orçamento do Coxipó. Vai esperar.

Ernesto Sábato, "O Túnel".

domingo, 6 de maio de 2012

Uma sociedade que não tolera palavras fortes será uma comunidade de cidadãos fracos (João Pereira Coutinho)

Mudar de casa. Sair do Exílio do Morro-Grande, para onde nos mudamos há quase dois anos, e levar tudo e todos para outra morada: menor, mas mais nova e mais bonita, sem tantas reformas a fazer ou danos a reparar. A vida passará a resumir-se em acumular dinheiro para dar conta do vulto deste investimento. Isto quer dizer que estão suspensos, por tempo indeterminado, os passeios ao Shopping, as viagens, as pizzas semanais, os livros novos... Os livros, quase todos, já foram, em duas viagens no Gol. Haverá um lugar apropriado para armazenar a biblioteca, o que colaborou muito para optarmos definitivamente pela compra do imóvel. Há também um vasto quintal, onde podemos plantar árvores frutíferas e uma pequena horta próxima à churrasqueira -se Mellie, a cucciolina, permitir, evidentemente. Conheço alguns vizinhos, que também me conhecem. Hoje, lá está o eletricista a avaliar as tomadas, o quadro de força, a fiação, e também proceder a limpeza da caixa d'água. Esta semana a faxina, a retirada de entulhos, a instalação do sistema de alarme e sensores de presença, posto que de segurança necessitamos todos. Penso em comprar um chapéu de palha e fazer do quintal o meu spa. Tanto da fare com nossa nova área verde. Um chapéu de boiadeiro nordestino a adornar a imponente churrasqueira que se ergue em meio ao terreno.

Por conta da mudança, me localizo entre interromper ou não este diário.

Bons -e, por que não dizer, surpreendentes- os resultados do último exame de sangue. O de sempre: colesterol, triglicerídeos e ácido úrico a reduzir. Bons o rim, a próstata e a glicose.

Não há santista da velha geração que não tenha se emocionado com a homenagem de Neymar a Juary, na vitória da semana passada contra o São Paulo. A imagem do menino de ouro da Vila comemorando à volta da bandeirinha de escanteio me tocou o coração alvinegro, ao recordar minhas primeiras alegrias como torcedor do Santos, justamente contra o São Paulo, cujo goleiro, à época, era o Valdir Peres, arqueiro da Seleção Brasileira que fazia verdadeiros milagres sob as balizas, mas que nãom conseguia parar o trio Nilton Batata-Juary-João Paulo, regidos pelo ímpeto de Pita e pela incomum inteligência de Aílton Lira. Hoje, na primeira final contra o Guarani, a quase-certeza de que já conquistamos mais um título paulista -o terceiro seguido. O Santos é, de novo, campeão.

As eleições em França protagonizam os noticiários ao redor do mundo. Sarkozy, que nas pesquisas não conseguira frear a cavalgada do opositor Hollande, parece se recuperar nas primeiras horas do domingo, segundo o noticiário do Il Sole 24 Ore. Se perder, o atual presidente será o primeiro, em 30 anos, a ser derrotado em uma tentativa de reeleição. A quinta maior economia mundial, também inserida na grave crise econômica que aflige a Europa, em meio a uma incerteza: manter a titubeante política econômica do atual governo que, no máximo, tentará bem ou mal conduzir os franceses durante a tormenta ou arriscar uma mudança na condução, que tanto pode levar o país à recuperação ou tornar ainda pior o que já beira o insuportável? Da vedere.

Ritelisa mais uma vez me emociona, ao enviar o texto para o Coxipó:

“Sou um andarilho, que a cada dia se despede
e busca aquilo que não sabe.
O vento, que no calor da madorna
acaricia as canoas à beira-rio,
bem que podia ser eu...”  
                                    Benilson Toniolo

No compasso de um rio que se rompe em cânion, fazendo surgir em suas margens a poesia telúrica de quem espreita e se enamora da natureza, assim Benilson Toniolo re/cria a lenda de Hyginus, dando forma à poesia como Cuidado deu forma ao Homem, através do húmus;  em Poesia às Margens do Coxipó  e Poemas em Desalinhos  Benilson faz a lavra poética  de quem quer “separar um a um os húmus do mundo”.

O poeta inunda a “eternidade das pedras”;  sua insônia rege a “solene tristeza dos sapos”,  percebe o sutil toque “das samambaias”;  lembranças de um lugar que o preencheu de imagens, sons, sabores, odores e toques, Cuiabá está viva em Benilson, em sua sinestesia poética traduz para o leitor a plasticidade do momento.  O “Forasteiro” incorpora-se ao lugar ao  caminhar lentamente para decifrar a voz do vento, trazendo na alma seus passos indecisos de quem foi para outras paragens!

Eis o mágico poeta que faz “nascer um poema dos olhos do rio”  poema que marca tempo, secular, descortinando novos horizontes para um andarilho das palavras. 

 Rita Elisa Seda

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Estamos longe do dia em que o trabalho será atividade de humanização e construção do mundo, pela qual o homem realizar-se-á plenamente no serviço ao bem comum. Ainda hoje, cada um trabalha para garantir o seu salário. O sujeito perde a dignidade e a moral, mas não perde o salário. Então o negócio não é ter vocação, é ter profissão, uma profissão que permita ganhar muito trabalhando pouco (Frei Betto)

Continua o ciclo: terminada a leitura de um estrangeiro (de preferência, português) vamos a um brasileiro (de preferência, nordestino). Agora trata-se de Homens e Caranguejos, do pernambucano Josué de Castro, médico, escritor e notável denunciador e combatente da fome no mundo, que chegou inclusive a receber prêmios internacionais por sua luta e quase-indicado para o Nobel da Paz. Um brasileiro notável, de quem a imensa maioria das pessoas neste país de almocreves jamais ouviu falar. Uno-me, pois, à minoria.

Esta noite, falando para alunos de Letras da Universidade de Taubaté. Amanhã, mesa-redonda sobre Dostoiveski. Um dos membros da diretoria do TCC liga para agradecer o artigo no jornal, e abre as portas da escola para a realização de projetos ligados à literatura. Agradeço. Veja aí, o que quer fazer, e me chame quando estiver pronto.

O País novamente às voltas com escândalos de corrupção em altos escalões da administração pública. Deixem-nos trabalhar, por favor.

Falando em trabalho, bocca chiusa. Horário de expediente.

Mais uma, só: vai muito bem e promissora, a nova coleção de escritores ibero-americanos da Folha. O último foi Lobo-Antunes (Memória de Elefante). Antes, Vargas Llosa, Borges e Garcia Lorca.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Idéias não se deixam acorrentar e nem se matam com tiros (Frei Betto)

A semana foi de dedicação quase exclusiva ao trabalho. Véspera de feriado prolongado. Muitas solicitações, exigências, providências e preparativos. No final, tudo deu certo. Pequenos imprevistos, a incompetência de sempre, o amadorismo, a auto-suficiência de sempre, característica de milicos ainda que fora dos quarteis. Tudo se resolve com um disparo na testa. Os incompetentes, despedimo-los aos gritos. As faltas de vergonha e de profissionalismo, punimos com a morte moral. Isso se não forem os "nossos"  a cometê-las. A estes, nossos sorrisos de canto de boca, nosso olhar de tolerância, nossa indiferença conformada -a vida e a empresa que seguem, acima de tudo.

Sim, dá gosto ler o Julio Dantas. Um autor e tanto, cujo texto está recheado de grandes doses de ironia e lirismo. Um grande crítico, um astuto observador da sociedade de sua época, um homem culto e perspicaz, mesmo quando aborda com frequência o mesmo tema -o "Eterno Feminino", no ano de 1929. A passagem da Ignez Negra, por exemplo, me remeteu ao Galeano de Mulheres. Para quem aprecia a perfeição da língua portuguesa escrita com a maestria e o apuro dos mestres, Dantas é um oásis.

Leio com vagar e quase indiferença o livro de Contos. O que começou razoável, assim permanece. Gosto mais dos textos menores, mais rápidos, menos embolados, mais claros (porém nem sempre). Os textos maiores não se definem, antes se perdem em si mesmos, e a impressão que se tem é que os finais, quase sempre abruptos e mal preparados, causaram grande esforço ao autor, que acaba por não saber sair do próprio emaranhado. Parece um escritor imaturo e intrincado num equação cuja busca pela solução não causa prazer nenhum. O fim de cada conto resulta um alívio.

Declino do convite para integrar a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Educação e a assumir a Biblioteca Municipal. Ainda está incólume, portanto, a maior parte das minhas faculdades mentais e morais.

Esta semana, mesa redonda sobre Dostoievski, na Unitau. Imperdível. Pena meu conhecimento quase completo do autor, de quem só li as "Noites Brancas". Um motivo a mais para lá estar.

Terminei o Poesia Às Margens Do Coxipó, já enviado para Ritelisa e para a Editora. Citações de Guimarães Rosa, Manoel de Barros e, claro, Saramago. Nada melhor que a perspectiva de um novo livro.

Os artigos do jornal, comentados, referidos, lidos. A fonte parece não ter fim.

Nossa nova casa -nossa, posto que a compramos- é pequena, de grande jardim, quintal ensolarado, escadas de pedras, em rua calma e silenciosa. Ainda mais distante, por isso melhor. Amor à primeira vista, que devemos cuidar para que não esmoreça. Pelo menos, não tão rapidamente. A rua se chama Ondina.

Depois de dias de muita, intensa e ininterrupta chuva, o sol surge ainda timidamente e o frio se apodera da cidade. Os turistas já se foram, e o silêncio parece querer voltar a imperar sobre nossas montanhas.