sexta-feira, 8 de junho de 2012

É uma ilusão a sabedoria dos velhos. A sabedoria não cresce com a idade. O que cresce é o espírito de cautela (Ernest Hemingway)


Gostei de cinco dos cinco contos dos treze de O Livro de Areia, a saber: Ulrica, O Espelho e a Máscara, Avelino Arredondo, O Disco e A Noite dos Dons. Avelino foi o que mais me impressionou. Daqueles textos que tenho que resistir à vontade de escrevê-lo na íntegra, à mão, para melhor sorvê-lo e fixá-lo. Nos demais, não me envergonho que afundei na quasee incompreensível prosa borgeana, com seu excesso de referências anglo-saxônicas, sua inenarrável e perturbadora capacidade criativa e seus dogmas irrecuperáveis. Não os alcanço. Cedo perco a base, pó chão, e tenho que correr de volta à superfície para não me afogar. De novo. Cida Sepulveda.

Espero que as notas apressadas que acabo de ditar não esgotem este livro e que seus sonhos continuem se ramificando na hospitaleira imaginação daqueles que agora o fecham.’ Borges, ao epílogo d’O Livro de Areia. Um Mestre, em verdade.

Voltei a brincar de fazer poemas no frio e chuvoso feriado de Corpus Christi.    

Nada do pessoal da editora nova. Talvez seja o feriado. Talvez não se interessaram pelo livro. Talvez.

Procuro me desviar de lugares que contenham muita gente em seu bojo, a saber: igrejas, partidos, empresas, reuniões de condomínios, desfiles, aeroportos e feriados.

Não é que eu seja intolerante com relação aos crimes que se cometem contra a língua portuguesa, dado que também eu, com razoável frequência, os protagonizo. Realmente não creio que possa haver no mundo ser humano capaz de deixar de cometer um único deslize que seja, tamanha a dimensão da nossa língua. Mas acontece que me reservo o direito de repelir a convivência com indivíduos que escrevam ‘esplicar’,  ‘audeia’ e ainda confunda ‘poliglota’ com ‘pederasta’, só pra ficar em exemplos desta semana. Juro que não consigo, e nem quero tentar. Para o meu próprio bem (‘eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim’), procuro a reclusão de meus livros e minhas demais coisas sem importância.

Hoje mesmo entrei em uma discussão na internet por conta de uma insinuação mal-intencionada contra a turma da Secretaria de Cultura, que defendi e defendo por ter acompanhado seu desenvolvimento, pelo menos, nos últimos três anos. Como fui feliz nas argumentações –pelo menos assim creio, dada a virulência dos ataques que recebi depois- passaram a me atacar com ‘lateralidades’, ou seja, insistiram não pelo assunto em si, mas pelos flancos, à margem do que escrevi. Como estratégia de discussão –eu que não sou estrategista por considerar estas mancomunações pura perda de tempo- lancei mão de uma brincadeira de Ariano Suassuna em uma de suas aulas-espetáculo: botei lá que ‘ao redor do buraco tudo é beira’. Aí é que o povo ficou danado. Finalizo, pois, com certo conteúdo minha participação na contenda, deixando meus adversários a falar sozinhos. Eles que procurem na internet, ou no raio que os parta, o que foi que eu quis dizer. Quase botei aquele aforismo do Sartre sobre os imbecis, mas aí já seria uma agressão declarada, que não caracteriza meu estilo e nem minha personalidade.

Mellie, a cucciolina, parece cada vez mais empenhada em destruir os agapantos e as pequenas flores do quintal. Hoje quase apanhou, por causa disso.

O último círculo do inferno de Dante devia ser formado por turistas em Campos do Jordão no feriado de Corpus Christi. A cidade, por sinal, se transformou do dia para a noite em um modelo de segurança e civilidade. Na segunda-feira, volta tudo ao normal.

terça-feira, 5 de junho de 2012

À noite o mundo não é o mesmo que de dia; todas as coisas da noite são diferentes e não podem ser explicadas de dia, porque de dia não existem –a noite se torna algo terrível para os que de começo conhecem a solidão (Ernest Hemingway)


Esqueci completamente o convite para abrir a vernissage da última sexta-feira. Achei que esperavam minha presença, somente, e não que procedesse a abertura do evento no lugar da Secretária de Cultura, o Presidente da Casa onde a exposição tomava lugar, a presidente da Academia, o diretor da Biblioteca Municipal. Pois bem, esqueci completamente. Cheguei lá meia hora depois do início, e ainda tomei uma enquadrada. Paciência. O coquetel servido, a propósito, estava acima da expectativa, e ainda pude encomendar um banco de madeira para a nova casa.

Tenho acordado durante a madrugada com sinais claros de pressão alta. O perigo é um derrame cerebral durante o sono. Quem sabe?

Nesta semana, sonhei com bebês, decapitações e morte. Houve ainda o choro convulso ao entrar na escola da infância. Tudo registrado por uma mente desnecessariamente obcecada pelo que já foi.

Gostei muito da Idade da Razão, de Sartre. Profundo e simples, denso e abrangente. Bem escrito, enfim. Agora, ataco de Borges, O Livro de Areia.

Um domingo de sol, churrasco e passeio a pé pelas imediações da casa nova, com Simone  e Mellie, a cucciolina. Tudo muito bom.

Tenho me imaginado Secretário Municipal de Cultura. Acho que dou pro negócio.

Na Mirante, um texto do qual nem me lembrava mais.

Nova editora para o primeiro livro de contos. Discussões sobre o título da obra. Definam aí, e me comuniquem.

Boas ideias para capitalização da Academia. Para colocá-las em prática, são necessários somente disposição e trabalho.  

Ao falar com uma professora sobre os trabalhos de sua Escola para o Prêmio Monteiro Lobato de Redação, a “desculpa”apresentada foi a de que ela “não se sentiu atraída pela proposta”. Taí um bom mote para iniciar o próximo artigo do jornal.

Bruno, passando perfume para a aula de bateria no Projeto. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Joguem seus computadores no lixo. Parem de entrar no facebook. Parem de ler besteiras no twitter. Saiam à rua, vão a um bar, tomem uma caipirinha, conversem com as pessoas, façam sexo com alguém. Em uma palavra: vivam! (James Ellroy)

Se Ariano Suassuna for mesmo o candidato brasileiro à disputa do Nobel de Literatura, estaremos prestigiando um gênio da cultura brasileira em detrimento de outro, não menos autêntico e igualmente brilhante: Manoel de Barros. Em ambos os casos, resta saber que o Brasil não comete a insanidade de ser representado por Paulo Coelho. Ou Gullar. Continuo achando que o próximo Nobel em língua portuguesa será Lobo-Antunes -apesar de tudo.

Estou adorando o Sartre. Chega, às vezes, até a ser infantil. Mas certamente é culpa da tradução...

Parte da noite, passei organizando os livros novos a publicar, de poesia e de contos. Ainda não estou decidido a lançar o de poemas cristãos, ainda que seria uma excelente oportunidade de me reaproximar da religião. Se a literatura me proporcionasse também isso, seria fantástico.

Na sexta, participação em uma vernissage, querem que eu declame. E reclame. Vou de Roldão, Vinicius, etc. Em suma, o de sempre.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem (Jean-Paul Sartre)

Com a mudança para a nova casa, acabou-se o Exílio do Morro-Grande. A nova casa, localizada em outro bairro (ainda mais distante) é menor e, ainda que não nos lance as vistas ao imenso vale que havia em seus costados como a casa antiga, nos oferece graciosamente um quintal de relvado amplo e cheio de plantas, pássaros e pequenas árvores, onde Mellie, a cucciolina, deita-se com as quatro pernas abertas e vai deslizando até chegar na cerca-viva que nos separa do quintal cimentado da casa vizinha. O sol, quando há, invade-nos de todos os lados, e o silêncio impera, só quebrado pelo som do video-game e da TV da sala, que fica muito próxima dos quartos. Tenho um espaço só para a Biblioteca, revistas sobre literatura e demais coleçõezinhas. Sim, a casa é nova. As preocupações, entretanto, continuam transitando entre a existência de Deus e o empréstimo no Banco.

Ainda estamos nos adaptando. À casa, todos nós. À vida, somente eu.

Enfim empossado na vice-presidência da Academia. Agora, é evitar o assédio da presidente com baboseiras e suscetibilidades.

Na entrega dos prêmios aos alunos vencedores do concurso "Uma História de Pinhão", agendaram a data errada, e só o segundo colocado compareceu. As outras duas meninas, primeira e terceira colocadas, foram no dia seguinte, todas empetecadas, para receber os livros, certificados e medalhas. Fizeram um cerimonialzinho lá, na hora, para a entrega -mas quem ficou mesmo registrado foi o menino, um dia antes. Da minha parte, algumas fotos que foram parar no site. 

Reorganizando a fortuna crítica.

Neste intervalo, terminei O Túnel, de Sabato, e me entrego à Idade da Razão, de Sartre. 

Entro em contato com a escola para saber se há trabalhos para o Prêmio Monteiro Lobato de Redação responde que não há nenhum. Pergunto o motivo, e ela responde: "é que eu não me senti atraída pelo projeto". Bom, depois não digam que eu não tentei. 

Estou prestes a me casar. O nome da minha amada é Simone.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida (valter hugo mãe)

Últimas horas do Exílio-do-Morro-Grande. Quase dois anos nesta casa, de cujo tamanho ainda não nos acostumamos. Vamos embora sem saber como lidar com tanto espaço. Fomos felizes aqui, apesar dos gritos dos vizinhos e do vento. Mellie, a cucciolina, nasceu praticamente aqui. Sempre que a olharmos, nos lembraremos desta casa. No fundo, foi um bom lugar, de bons auspicios. Algumas coisas já estão amontoadas à espera do domingo de mudança. Antes, há o dia de hoje, com o trabalho, a edição do jornal, a leitura d'O Túnel, o laboratório de Redação de Bruno, Leonardo e sua festinha de aniversário para a qual foi convidado e sua aula de Desenho. Simone, com uma gripe avassaladora, tem dificuldades para falar, comer, dormir...

O que mais me preocupu não foi a derrota para o Vélez, em Buenos Aires. Foi a apatia e a impotência do time. Na Vila, semana que vem, será outra pedreira. Uma nova derrota para os argentinos, em casa, não está descartada. O Brasileiro começa no domingo, em Salvador. Pelo menos é uma cidade agradável.

Uma coisa boa: ao deixar Leonardo na aula de Desenho, dou uma espiada na banca e descubro que o livro de Saramago, que deveria chegar somente no domingo, já está por lá. Adquiro, portanto, com dois dias de antecedência, o Ensaio Sobre a Lucidez.

Continuo angustiado com a tragédia de Tamiris, a filha de um amigo que ao voltar das aulas noturnas na faculdade bateu seu carro em uma vaca no meio da estrada. Em coma, já passou por cirurgias e ontem os médicos praticamente a desanganaram. Deve ter uns dezoito, dezenove anos, por aí. Os pais sempre criaram os filhos dentro da igreja -evangélicos praticantes. Ainda há um fio que liga Tamiris à vida -mas que se torna, a cada hora, menos resistente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A escritura é um abrigo (Mario Benedetti)

Nova consulta sobre minha disposição em  assumir a Secretaria Municipal de Cultura, desta vez vinda do partido que atualmente está no governo. Declino, de novo. Nem transferi o título de eleitor para evitar certos falatórios, imagine se vou aceitar um negócio desses...

No sábado, premiação do Histórias de Pinhão. Definidos os três vencedores. Os estudantes do oitavo e nono anos dos dias de hoje escrevem como minha geração escrevia, quando estávamos na quarta série primária.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um pessimista é um otimista bem informado (Mario Benedetti)

Mais de setecentas e cinquenta cidades nordestinas padecendo novamente com o flagelo da seca. Os açudes esturricados, o gado morto de fome e sede, cadáveres de animais surgindo na paisagem, a terra despedaçada, pesadelo a demonstrar que não, minha gente, não avançamos um centímetro sequer no combate à fome neste país de eternos almocreves. Tudo o que os governantes fizeram foi enganar o povo com migalhas mensais denominadas "justiça social", mais uma falácia mentirosa para arrecadar o maior número possível de votos e alimentar o entusiasmo infantil que caracteriza o idealismo de adolescentes que acham que o mundo cabe em salas de certas universidades. Somos um emaranhado de tragédias e injustiças propositadas e odiosas. 1930, 1950, 1960, 1970, 80, 2012. Quantos ainda serão enganados pelos governantes, quantos ainda morrerão de fome até que nos tornemos um país minimamente decente? Que Copa do Mundo o quê, minha gente. Precisamos é tomar vergonha na cara. No fim de tudo, não passamos de um bando de Macunaímas, cada um do seu jeito. E viva Mario de Andrade!

Morreu Carlos Fuentes, e mais uma vez meu sofrimento é solitário: ninguém para compatilhar esta nova dor. Para registro, apenas, declaro que de sua autoria li "Diana" e "A Cadeira da Águia".

Os dias que antecedem a mudança se constituem em um mosaico de sentimentos. A casa, uma bagunça.

Flavia, como sempre amabilíssima, mudou a data da premiação do Concurso Uma Hisstória de Pinhão de domingo para sábado, apenas para que eu possa estar presente na premiação. Uma lindeza.

Encararei o Coxipó. Seja o que Deus quiser. Na segunda quinzena de junho, o livro de contos vai finalmente para a Editora, para apreciação. Oremos, again.