quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A minha voz é o murmúrio / de uma paixão transfigurada: / soluça e morre entre os antúrios / de uma varanda desolada (Jaci Bezerra)

Além de não ter sido contemplado pela Providência com uma visão privilegiada e focada "no detalhe", com frequência minha distração me prega peças. Tenho grande dificuldade para divisar o mínimo, a pequenina mudança, o ínfimo. Dá-se que meus olhos nasceram para ver somente o embaçado. meus olhos só vêem o que querem, e não consigo -e nem me esforço- reeducá-los. Nunca tentei, na verdade. A velha senhora, no meio da rua, me acena e pede quee eu pare o carro. Isto feito, aponta bem ao meu lado o alambrado de uma escola, em cujo quintal ela plantou, junto com os alunos, uma pequena horta: "couve, almeirão, alface, cebolinha, salsinha..." Quando olho, o que é que que eu vejo? Um monte de mato nas mais diferentes colorações e dimensões. Nada das hortaliças anunciadas. Olho melhor, revejo, ponho sentido: realmente as folhas diferem, umas das outras. Mas o que é comestível, o que é mato? Além da dificuldade natural que me é inata, há ainda o fato de encontrar-me dentro do carro, parado no meio do asfalto, com o retrovisor a gritar que dois veículos se aproximam. Digo que Sim, que bonito, olha que legal, parabéns, bacana mesmo. Me despeço e arranco. Qualquer hora dessas, passo a pé e vou olhar direito. Vou "ponhar reparo", como é comum dizerem nesta nossa terra.  

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