quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O prazer de descobrir gente mais imprestável que nós, isso que alimenta a literatura (Inês Pedrosa)

Já desconfiava que a Pedra Bonita se tratava da mesma Pedra do Reino, do Ariano.  As gravuras remetem. Agora, por volta da página 40, vem a história do “sangue dos meninos derramado sobre a pedra, que é a danação do Assu”.  Certeza, quase. Não pode dar erro, a pedra é a mesma.

Voltamos aos poucos aos velhos hábitos ordinários: Bruno na aula de percussão, depois treino de futebol. A  correria da hora do almoço e do final do expediente.  Cansaço precoce, às dez e meia estamos todos na cama, caindo de sono. Pretendo retomar os exercícios de caminhada e corrida neste final de semana, para aproveitar os dois quilos que a gota me levou.

Não passo de um fescenino incorrigível.

Morreu, no último dia primeiro, a poeta polonesa Wislawa Szymborska, Nobel de 1996. Como foi bem no meio da minha crise, não dei pelo fato. Mas retirei do Painel das Letras, da Folha, o que vai abaixo: o poeta pelo poeta: "O poeta, independentemente de educação, idade, sexo e preferências, permanece no seu coração o herdeiro espiritual da humanidade dos primórdios. Explicações científicas sobre o mundo não o impressionam muito. Ele é um animista, um fetichista, que acredita nos poderes secretos adormecidos em todas as coisas, e está convencido de poder mexer com essas forças com a ajuda de um punhado de palavras bem escolhidas. O poeta pode até ter recebido um ou outro título com distinção e louvor, mas no momento em que se senta para escrever um poema, seu uniforme da escola racionalista começa a pinicar sob os braços. Ele se retorce, bufando, abre primeiro um botão, depois outro, até arrancar a roupa de uma vez, expondo-se diante de todo mundo como um selvagem que leva uma argola no nariz. Isso mesmo, um selvagem. Do que mais se pode chamar uma pessoa que fala em versos com os mortos e os não-nascidos, com as árvores, os pássaros, e até mesmo com abajures e pernas de mesa?"

Um seu poema:


Retornos

Voltou. Não disse nada.
Mas estava claro que teve algum desgosto.
Deitou-se vestido.
Cobriu a cabeça com o cobertor.
Encolheu as pernas.
Tem uns quarenta anos, mas não agora.
Existe --mas só como na barriga da mãe
na escuridão protetora, debaixo de sete peles.
Amanhã fará uma palestra sobre a homeostase
na cosmonáutica metagaláctica.
Por ora dorme, todo enroscado.

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