segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

O amor é uma coisa que começa velha, uma forma de demência que nos leva a concentrar os corpos e os rostos que desejamos num só (Inês Pedrosa)

Otto Maria Carpeaux, 1967: Escrever uma introdução para uma edição de A Divina Comédia significa assumir grave responsabilidade. Pois trata-se do maior poema da literatura universal. O maior? Nietzsche advertiu, certa vez, contra o uso de superlativos: o superlativo sempre provoca protestos. Então, vamos ver os argumentos de quem pretende protestar. Os argumentos seriam, no caso, outros títulos , outras obras consideradas maiores ou, pelo menos, iguais a A Divina Comédia: Ilíada, Odisséia, Dom Quixote, Hamlet ou Macbeth, Fausto, Guerra e Paz, Os Irmãos Karamasov, Ulysses. São obras máximas. Mas cada uma delas, quando comparadas com a obra de Dante, revela certa unilateralidade: representam este ou aquele aspecto do Universo literãrio; mas A Divina Comédia é o Universo literário inteiro. Como pode alguém ter a audácia de abusar da paciência de quem pretende abrir este volume, prendendo-o à portae querer obrigã-lo a ler um prefácio?  

Canto III, almas sendo levadas pelo Aquironte pelo barqueiro Caron:
Blasfemaram de Deus e maldisseram
A espécie humana,  a pátria, o tempo, a origem
Da origem sua, os pais de quem nasceram

Recentemente li, na Ilustrissima, um pequeno conto do canadense Leonard Cohen sobre um casal de adolescentes, cuja incipiente aventura, apenas iniciada, foi interrompida pela chegada da Regra da menina. O menino, que ainda não entendia direito onde é que iam dar aquelas safadezas pueris e inocentes, ficou achando que a tal da Regra (assim mesmo, com letra maiúscula) era uma intromissão divina cujo único intendo era impedir-lhe a felicidade. No final das contas, ele estava certo. Gostei muito do texto, do estilo, da concisão, da clareza (quando a tradução ajuda é uma beleza...), e esta semana a Veja traz uma matéria de página inteira (descontando a foto) de Cohen, ainda que enfatizando o lado intérprete do artista. Porque, tal como Dylan, estamos falando de um poeta que canta. Enquanto encontrava-se interno de forma voluntária em um monastério, Leonard foi literalmente roubado por sua ex-agente, e agora, septuagenário, tem que voltar  à ativa para ganhar o sustento. Interessante, sim, interessante.

Pronto, começou. O azul do entardecer dominical foi-se engrecendo até se estender sobre o outrora verde da cordilheira. A primeira luz, ainda mínima mas já brilhante, surgiu no meio da escuridão. É hora, portanto, de fechar as janelas da Casa.

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