terça-feira, 6 de março de 2012

Não considero um livro um objeto imortal a ser tomado em mãos e devidamente cultuado, mas antes uma ocasião para a beleza (Jorge Luis Borges)

Não há como não passar pela estrada que leva a Tremembé e, ao vislumbrar a verde beleza dos arrozais, não lembrar de Mauro Valle, que escreveu um dos mais belos poemas que retrata nossa região, que eu chamo “As Garças de Tremembé”, mas que na verdade é nominado por um numeral romano: LI.
Pensei em trazer na viagem algum livro do próprio Mauro, de Ledo Ivo ou Manoel de Barros, mas não trouxe. Preciso retomar a produção do Cascalho, parada desde anteontem.
O Povo deu, enfim, a nota sobre o Sandálias Paternas. Ficou bom.
Um novo escritor aparece em Campos do Jordão: esqueci seu nome. Já “quase” nos cruzamos duas vezes, uma na Secult e outra na Biblioteca. De posse do endereço do seu blog será fácil convidá-lo para compor a Exposição, que vai crescendo. Ontem, recebi telefonema de uma senhora cuja filha de nove anos tem mostrado interesse pela literatura e começa a escrever, tendo já feito algo que ela, a mãe, chamou de livro. Pode mandar os dados, minha senhora. Um estudante de Pedagogia me informa que toda a sua turma, composta de cerca de trinta pessoas, estará na palestra do dia trinta e um. Isso sim, são boas notícias.
Um dos responsáveis pela Univap me comunica que estará presente em minha palestra do dia doze de abril, sobre Segurança Patrimonial e Empreendedorismo. Danou-se.
Muito calor em Taubaté. Deve ser o mesmo em São José dos Campos, São Paulo e Brasília. O país inteiro ferve, segundo atestam os jornais escritos, falados, televisados e digitados. Se possível, seqüestrarei o avião quando estiver sobrevoando o Centro-Oeste e mando ele desviar para Cuiabá, só para poder fazer uma caminhadinha no Parque Zé Bolo-Flô. Se bem que, com o calor que deve estar fazendo naquele lugar, o melhor a fazer mesmo é seguir direto para a capital federal.
Nada contra o forte cheiro que emana de parte da gente simples de Campos do Jordão. Mas que tem gente que extrapola, lá isso tem.
A ida à Biblioteca foi exatamente aquilo que se pode chamar de frutífera. Um Grande Sertão novinho (meu sonho de consumo desde o ano passado), antologias poéticas de Vinicius e Bandeira, Guarnieri (Eles Não Usam Black-Tie) Sabino (O Último Mentecapto), outro Diodiá, além de alguns discos clássicos -e importados: Brahms, Schummann, Mahler, Rachmaninoff e alguma coisa de Maria Callas.
A julgar pela aparência, o povo que vai para o Aeroporto começou a embarcar em Taubaté. Afetadíssimos, com imensos óculos escuros e atarefados ao extremo com seus aparelhos celulares, passam pelos outros da mesma espécie de forma diáfana e apressada. O mundo, na verdade, só existe se estiver à sua disposição, e toda paisagem não passará de simples moldura para sua glória.
Dailor Pinto Varela no Nova Poesia Brasileira é uma novidade e tanto.
Na Dutra sentido São José dos Campos, vejo uma calcinha cor-de-rosa pendurada na parte baixa da placa de um ponto de ônibus. Como diz o outro, “é marketing...”
Segundo Gorj, tudo certo com o Mar de Amares. Lançamento para 24 ou 25 de abril, no Espaço Telefónica de Capivari. Depois disso, é trabalhar no Poesia Coxipó. Mas só depois da compra da casa.
Em Leonardo, que ainda dormia, um beijo longo na testa, e ele acorda com um sorriso. Em Bruno, um abraço demorado defronte à escola. Hora, talvez, de começar a preparar as breves ou demoradas despedidas que a vida haverá de nos impor, daqui para diante, mais cedo, mais tarde.
Deveria ter trazido José Saramago.
Vivos, restam ainda alguns amados: Manoel de Barros, Ariano, João Gilberto, Benigni. De uns anos pra cá, se foram José, Mercedes e Lucio.
Furini destaca, em sua resenha sobre o Sandálias, o poema sobre Santos, que fecha o livro. Resenha bonita e objetiva, ainda que algo crítica, mas que se constitui em jóia para minha desorganizada fortuna crítica. Já LAC, em crise, faltou dizer que eu sou Deus.
Eliane Cantanhêde, na Folha de hoje, diz em sua coluna que Dilma, por assim dizer “arrumou para a cabeça”. Segundo a jornalista, os militares da reserva elaboraram um texto no qual criticam a Presidente, que ao tomar conhecimento do fato chamou o Ministro da Defesa e determinou que a bravata fosse extinta, sumisse do mapa. Os velhinhos da caserna não só o mantiveram, como ainda fizeram outro, declarando que não vêem no Ministro nem competência nem autoridade para determinar a eles o que quer que seja. Está, pois, criado o impasse. O que era uma provocaçãozinha a ser encarada como tal corre o sério risco de se transformar em uma crise institucional calcada na quebra da hierarquia e no desrespeito público ao Governo.
De Marina Silva: “é possível afrontar a inteligência da população quando se dispõe de muitos recursos e meios para sustentar a (des)informação”. Sutil e dotado de conteúdo. Quem tiver ouvidos, ouça.
Voo de brigadeiro, como diz o jargão. Mais quarenta minutos e chegamos. Daqui a pouco, nos informa o comandante, vislumbraremos Uberlândia. Olha pra frente, comandante, olha pra frente...
Na revistinha de bordo da Gol, nada que preste. Nem pra ver as fotografias. Não há sequer um misero artigozinho, nada. Publicidade em excessos, reportagens batidas sobre os paraísos do litoral nordestino e uma entrevista absolutamente descartável com uma das rainhas da música de carnaval de Salvador. Porque dizer que a Bahia toda é só isso, não se pode fazer. Desperdício de papel e tinta. Nada que contribua para melhorarmos a inteligência dos passageiros.
O pinto dentro do ovo / aspirando um mundo novo / não deixa de beliscar / bate o bico, bate o bico / bate o bico, tico-tico / pra poder se libertar’. O lado político de Patativa.
Acaba de passar sob nós um rio lindíssimo, puro desenho de cobra serpenteando sobre o verde claro que o rodeia. A paisagem, cada vez mais, se multiplica.
O clima em Brasília em muito se assemelha, por estes dias, a Cuiabá. Um sol acachapante, que chega a causar nas pessoas até mesmo uma certa intimidação. Dizem os brasilienses que um calor desses, a esta época do ano, é anormal. Deve ser.
Visitas rápidas a alguns dos principais pontos turísticos. Congresso Nacional, Palácio da Alvorada, Supremo Tribunal Federal, Ponte JK, Lago Paranoá, Museu JK, Tosse e sua simpática feirinha –dotada de uma empolgante nordestinidade popular, sem os formalismos dos outros lugares. Aqui comprei minhas bugigangas: miniaturas da Catedral e da Estátua dos Candangos. A Catedral, aliás, é belíssima, com direito inclusive a uma réplica da Pietá. Digno de nota também o Museu do Memorial JK, ainda que não seja o suficiente para fazer do visitante um admirador de Juscelino –a não ser que esteja predisposto. A uma das atendentes, perguntei na saída o motivo da cassação do Presidente, ao que ela não soube responder. Ficou sem graça, coitada, e muito sem jeito justificou-se dizendo que “ainda não tinha tempo de decorar tudo, é muita coisa”. Coitada.
Era visita à mãe recém-operada da catarata nas duas vistas, portanto uma viagem pouco dada a passeios turísticos. Dentro do possível, fez-se o que pôde nas pouco mais de vinte e quatro horas de estada em solo planaltino. Tudo muito grande, muito opulento, exagerado, imensidões por todos os lados, um sem-fim de prédios e carros. Inacreditável que este lugar tão rico seja a capital de um país tão desigual e miserável. Brasília é, definitivamente, um monumento ao desperdício do dinheiro e da dignidade do povo brasileiro.
A casa tinha visitas: um alto comando militar e esposa. Degustaram-se queijos, vinhos, uísque, castanhas, carnes, chocolates e outros –e caros- quitutes, ao som alto das músicas do DVD e risadas constrangedoramente fúteis. A decoração é composta por muitas foto e quadros e demais lembranças das inúmeras viagens feitas pelo clã enquanto o patriarca serviu em Espanha. Há também uma pequena estante com alguns livros –a maioria, didáticos- e seis aparelhos de TV instalados, sendo um em cada quarto, outro na sala de visitas e o último na cozinha. Sim, na cozinha. Algumas vezes, todos são ligados ao mesmo tempo. Há também laptops, computadores de mesa e tablets, sem contar os celulares wi-fi. Ninguém fez nenhuma menção ao Sandálias Paternas, o que me fez estar convencido de ter perdido um exemplar.
Estive, e com tempo de sobra tanto na ida quanto na vinda, em dois dos maiores aeroportos brasileiros, Guarulhos (de onde saem e chegam todos os vôos internacionais da maior cidade do País) e Brasília, a capital. É notável o acanhamento, a confusão, o despreparo e as dimensões medíocres de ambos. O espaço disponível nos banheiros chega a ser risível. Os da rodoviária de São José dos Campos, onde esperei por quase três horas até que saísse o ônibus para Campos do Jordão, são melhores, mais amplos e limpos.
Patativa e Dante foram meus companheiros de viagem.
Enquanto a maior parte do País sucumbe sob um sol impiedoso, Campos está prestes a pedir socorro por causa da chuva. No sábado à tarde, me informa Simone, o comércio fechou as portas em Abernéssia, para que as águas não invadissem as lojas. Curioso para ler o Povo.
Para Conti, o Jornal do Senado, o Jornal da Câmara, o Guia Cultural de Brasília e o catálogo do Museu JK. Bom amigo, o Manoel. E cinco postais, que um dia ainda me servirão para alguma coisa.



Sem comentários:

Enviar um comentário