sábado, 24 de março de 2012

Eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é mais importante do que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta –porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever (Jorge Luis Borges)

Concluí a leitura de “Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra”, do moçambicano Mia Couto, muito lido e admirado por aqui –aliás, com toda justiça. Do mesmo autor já havia lido, há alguns anos, a coletânea de contos “O Fio das Missangas”. Dono de uma prosa poética e objetiva, parece não ser adepto da prolixidade que grassa em parte da literatura em língua portuguesa dos dias atuais, especialmente encontrada nos textos de Lobo Antunes, Luandino, Pedrosa e Saramago. Suas frases de efeito (quase versos) causam grande impacto durante a leitura, emprestando ao enredo grande carga de lirismo e magia, o que acaba por fazer dele um escritor para poucos. Sua literatura é, por assim dizer, excludente, acaba por selecionar naturalmente o leitor. Quem lê Isabel Allende, por exemplo (como Simone, às voltas com “Inés de Minha Alma”), terá alguma dificuldade até se ‘localizar’ em Mia Couto e suas africanidades. Apesar das diversas passagens que recolhi para os guardados, não acredito que este livro me permanecerá por muito tempo na memória, assim como ocorrei com os contos. Ou seja, um autor de deslumbramento não-duradouros. Estante da sala.

Gostei das primeiras –primeiras, mesmo- páginas de A Noite e a Madrugada, de Fernando Namora (Guimarães Editores, Lisboa, 1954), minha primeira incursão pela prosa do português que é um dos preferidos de Saramago. Esta fase lusófona, pelo jeito, vai longe. Vai ser para sempre. ?.

O atraso de LAC nas avaliações dos textos do Araucária me traz dissabores. O prazo de quinze de marco não foi cumprido, e segundo me conta o Nagues, lá de Brasília, já tem gente ‘arrancando os cabelos’. Enviei e-mail esclarecendo o atraso e pedindo desculpas. De qualquer forma, é hora de voltar a mexer com isso.

Há uma semana, fazia frio, Simone estava no trabalho e eu no Pronto-Socorro por conta de um caroço no pescoço que, aliás, permanece até hoje, mesmo após a ingestão diária dos antiinflamatórios receitados pela médica. Menos mal que a dor é quase imperceptível.

Também há uma semana me encontrava com o poeta José Carlos Mendes Brandão e sua esposa Sônia, também ela escritora da melhor qualidade, para um café rápido em Abernéssia. Estavam hospedados em São Bento, e vieram a Campos para conhecer a cidade –que Brandão, por sinal, achou “muito movimentada”, ainda que não se compare com a Bauru onde vivem. Ele foi meu professor de Português no Escholastica Rosa, em Santos, no longínquo ano de 1984 e, por um destes milagres protagonizados pela literatura e pela informática, acabamos por nos reencontrar tantos anos depois. Para mim, se trata de um encontro histórico, uma alegria indizível, ainda mais quando ocorre na mesma semana da visita de Ricciotti e seus meninos, que jantaram conosco em casa. Como diria Violeta Parra, ‘gracias a la vida’.

Simone e suas urgências, na semanal tarefa de faxinar a Casa. Não mais protesto, posto ela já ter dito que gosta. A minha tarefa, de limpar e lavar o quintal –ou ao menos parte dele- cumpro em tempo muito menor, e seguramente me proporciona cansaços maiores.

Cascalho emperrou. Não readquiro a linguagem. Talvez Manoel de Barros ajude.

Chegamos à semana da palestra. Depois, encerra-se a Exposição. Preparar a palestra da Univap e o lançamento do livro, no dia 20. Sai esta semana a nova edição do jornal, com o artigo ‘Escola Não É Clube’. Sem erros ou cortes, I hope so.

Repercute ainda em mim o episódio envolvendo o diretor da Biblioteca. A sensação desagradável de ter descoberto traços de mentira e desfaçatez num homem que aprendi, ao longo do tempo, a admirar pela sabedoria e inteligência. Pena.

Morre Chico Anysio, o maior humorista brasileiro de todos os tempos. Um ator admirável e um raro gênio moderno, que marcou toda uma geração pelos programas na TV. Andou se aventurando brevemente  também pela literatura, sem grandes repercussões. Comparando com o execrável ‘humorismo’ que se pratica hoje em dia, Chico acabou se tornando uma prova de que sim, nós brasileiros, até bem pouco tempo atrás, éramos mais inteligentes. Cearense de Maranguape –cidade que ajudou a inserir no mapa- deixa um legado de talento inquestionável. Ficamos, artisticamente, ainda mais pobres do que já estamos.   

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