domingo, 6 de maio de 2012

Uma sociedade que não tolera palavras fortes será uma comunidade de cidadãos fracos (João Pereira Coutinho)

Mudar de casa. Sair do Exílio do Morro-Grande, para onde nos mudamos há quase dois anos, e levar tudo e todos para outra morada: menor, mas mais nova e mais bonita, sem tantas reformas a fazer ou danos a reparar. A vida passará a resumir-se em acumular dinheiro para dar conta do vulto deste investimento. Isto quer dizer que estão suspensos, por tempo indeterminado, os passeios ao Shopping, as viagens, as pizzas semanais, os livros novos... Os livros, quase todos, já foram, em duas viagens no Gol. Haverá um lugar apropriado para armazenar a biblioteca, o que colaborou muito para optarmos definitivamente pela compra do imóvel. Há também um vasto quintal, onde podemos plantar árvores frutíferas e uma pequena horta próxima à churrasqueira -se Mellie, a cucciolina, permitir, evidentemente. Conheço alguns vizinhos, que também me conhecem. Hoje, lá está o eletricista a avaliar as tomadas, o quadro de força, a fiação, e também proceder a limpeza da caixa d'água. Esta semana a faxina, a retirada de entulhos, a instalação do sistema de alarme e sensores de presença, posto que de segurança necessitamos todos. Penso em comprar um chapéu de palha e fazer do quintal o meu spa. Tanto da fare com nossa nova área verde. Um chapéu de boiadeiro nordestino a adornar a imponente churrasqueira que se ergue em meio ao terreno.

Por conta da mudança, me localizo entre interromper ou não este diário.

Bons -e, por que não dizer, surpreendentes- os resultados do último exame de sangue. O de sempre: colesterol, triglicerídeos e ácido úrico a reduzir. Bons o rim, a próstata e a glicose.

Não há santista da velha geração que não tenha se emocionado com a homenagem de Neymar a Juary, na vitória da semana passada contra o São Paulo. A imagem do menino de ouro da Vila comemorando à volta da bandeirinha de escanteio me tocou o coração alvinegro, ao recordar minhas primeiras alegrias como torcedor do Santos, justamente contra o São Paulo, cujo goleiro, à época, era o Valdir Peres, arqueiro da Seleção Brasileira que fazia verdadeiros milagres sob as balizas, mas que nãom conseguia parar o trio Nilton Batata-Juary-João Paulo, regidos pelo ímpeto de Pita e pela incomum inteligência de Aílton Lira. Hoje, na primeira final contra o Guarani, a quase-certeza de que já conquistamos mais um título paulista -o terceiro seguido. O Santos é, de novo, campeão.

As eleições em França protagonizam os noticiários ao redor do mundo. Sarkozy, que nas pesquisas não conseguira frear a cavalgada do opositor Hollande, parece se recuperar nas primeiras horas do domingo, segundo o noticiário do Il Sole 24 Ore. Se perder, o atual presidente será o primeiro, em 30 anos, a ser derrotado em uma tentativa de reeleição. A quinta maior economia mundial, também inserida na grave crise econômica que aflige a Europa, em meio a uma incerteza: manter a titubeante política econômica do atual governo que, no máximo, tentará bem ou mal conduzir os franceses durante a tormenta ou arriscar uma mudança na condução, que tanto pode levar o país à recuperação ou tornar ainda pior o que já beira o insuportável? Da vedere.

Ritelisa mais uma vez me emociona, ao enviar o texto para o Coxipó:

“Sou um andarilho, que a cada dia se despede
e busca aquilo que não sabe.
O vento, que no calor da madorna
acaricia as canoas à beira-rio,
bem que podia ser eu...”  
                                    Benilson Toniolo

No compasso de um rio que se rompe em cânion, fazendo surgir em suas margens a poesia telúrica de quem espreita e se enamora da natureza, assim Benilson Toniolo re/cria a lenda de Hyginus, dando forma à poesia como Cuidado deu forma ao Homem, através do húmus;  em Poesia às Margens do Coxipó  e Poemas em Desalinhos  Benilson faz a lavra poética  de quem quer “separar um a um os húmus do mundo”.

O poeta inunda a “eternidade das pedras”;  sua insônia rege a “solene tristeza dos sapos”,  percebe o sutil toque “das samambaias”;  lembranças de um lugar que o preencheu de imagens, sons, sabores, odores e toques, Cuiabá está viva em Benilson, em sua sinestesia poética traduz para o leitor a plasticidade do momento.  O “Forasteiro” incorpora-se ao lugar ao  caminhar lentamente para decifrar a voz do vento, trazendo na alma seus passos indecisos de quem foi para outras paragens!

Eis o mágico poeta que faz “nascer um poema dos olhos do rio”  poema que marca tempo, secular, descortinando novos horizontes para um andarilho das palavras. 

 Rita Elisa Seda

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