terça-feira, 15 de maio de 2012

Só a mediocridade literária alcança de saída o grande público (Alceu Amoroso Lima)

Domingo à noite, um frio lascado, voltando com Simone e os meninos da comemoração do título paulista, em Abernéssia. Entro no carro, ligo o aquecimento e percebo um senhorzinho todo encolhido vindo em minha direção com um papelzinho na mão. Pede que eu abra o vidro, e eu atendo. Me estende o papelzinho, que é uma receita médica do Pronto-Socorro, que fica ali do lado. Diclofenaco – que até onde eu... saiba pelo testemunho da gota que invariavelmente me acomete, se trata um antiinflamatório. Pergunto o que houve. Quebraram meu braço, diz o homem. Como? Briga. O homem treme. Pode ser de dor, pode ser de frio, pode ser dos dois. Pequenininho, uma bolsa pendurada no braço esquerdo, e o direito apoiado pela mão oposta. Atento para eventual cheiro de álcool. Nada. Diz que o remédio custa doze reais, e ele só tem nove. Precisa de mais três, portanto. Faço mais perguntas, com a desconfiança que caracteriza nossos tempos. Digo a ele: vou comprar este remédio para o senhor. O homem começa a chorar, diz uma dúzia de “Deus lhe pague” e pergunta se eu não quero que ele me dê os nove reais que tem no bolso, para diminuir meu “prejuízo”. Não, digo eu, guarde para o senhor ir para casa. Vou ali na Drogaria São Paulo, o homem me acompanha, e peço ao Paulo que marque a despesa (onze reais e trinta e três centavos, já com desconto) na minha conta, que depois eu acerto. Dois clientes da farmácia observam tudo calados e estranham a situação. O homem sai, volto para o carro, dou a partida e rumamos para casa. No dia seguinte, pergunto aos meus filhos o que pensavam do episódio, e ambos respondem a mesma coisa: “legal, mas ele tava mexendo o braço”. Não pergunto mais nada. Comprei, pronto. E, por incrível que pareça, até agora ainda acho que fiz um bom negócio...

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