sexta-feira, 8 de junho de 2012

É uma ilusão a sabedoria dos velhos. A sabedoria não cresce com a idade. O que cresce é o espírito de cautela (Ernest Hemingway)


Gostei de cinco dos cinco contos dos treze de O Livro de Areia, a saber: Ulrica, O Espelho e a Máscara, Avelino Arredondo, O Disco e A Noite dos Dons. Avelino foi o que mais me impressionou. Daqueles textos que tenho que resistir à vontade de escrevê-lo na íntegra, à mão, para melhor sorvê-lo e fixá-lo. Nos demais, não me envergonho que afundei na quasee incompreensível prosa borgeana, com seu excesso de referências anglo-saxônicas, sua inenarrável e perturbadora capacidade criativa e seus dogmas irrecuperáveis. Não os alcanço. Cedo perco a base, pó chão, e tenho que correr de volta à superfície para não me afogar. De novo. Cida Sepulveda.

Espero que as notas apressadas que acabo de ditar não esgotem este livro e que seus sonhos continuem se ramificando na hospitaleira imaginação daqueles que agora o fecham.’ Borges, ao epílogo d’O Livro de Areia. Um Mestre, em verdade.

Voltei a brincar de fazer poemas no frio e chuvoso feriado de Corpus Christi.    

Nada do pessoal da editora nova. Talvez seja o feriado. Talvez não se interessaram pelo livro. Talvez.

Procuro me desviar de lugares que contenham muita gente em seu bojo, a saber: igrejas, partidos, empresas, reuniões de condomínios, desfiles, aeroportos e feriados.

Não é que eu seja intolerante com relação aos crimes que se cometem contra a língua portuguesa, dado que também eu, com razoável frequência, os protagonizo. Realmente não creio que possa haver no mundo ser humano capaz de deixar de cometer um único deslize que seja, tamanha a dimensão da nossa língua. Mas acontece que me reservo o direito de repelir a convivência com indivíduos que escrevam ‘esplicar’,  ‘audeia’ e ainda confunda ‘poliglota’ com ‘pederasta’, só pra ficar em exemplos desta semana. Juro que não consigo, e nem quero tentar. Para o meu próprio bem (‘eu me amo, eu me amo, não posso mais viver sem mim’), procuro a reclusão de meus livros e minhas demais coisas sem importância.

Hoje mesmo entrei em uma discussão na internet por conta de uma insinuação mal-intencionada contra a turma da Secretaria de Cultura, que defendi e defendo por ter acompanhado seu desenvolvimento, pelo menos, nos últimos três anos. Como fui feliz nas argumentações –pelo menos assim creio, dada a virulência dos ataques que recebi depois- passaram a me atacar com ‘lateralidades’, ou seja, insistiram não pelo assunto em si, mas pelos flancos, à margem do que escrevi. Como estratégia de discussão –eu que não sou estrategista por considerar estas mancomunações pura perda de tempo- lancei mão de uma brincadeira de Ariano Suassuna em uma de suas aulas-espetáculo: botei lá que ‘ao redor do buraco tudo é beira’. Aí é que o povo ficou danado. Finalizo, pois, com certo conteúdo minha participação na contenda, deixando meus adversários a falar sozinhos. Eles que procurem na internet, ou no raio que os parta, o que foi que eu quis dizer. Quase botei aquele aforismo do Sartre sobre os imbecis, mas aí já seria uma agressão declarada, que não caracteriza meu estilo e nem minha personalidade.

Mellie, a cucciolina, parece cada vez mais empenhada em destruir os agapantos e as pequenas flores do quintal. Hoje quase apanhou, por causa disso.

O último círculo do inferno de Dante devia ser formado por turistas em Campos do Jordão no feriado de Corpus Christi. A cidade, por sinal, se transformou do dia para a noite em um modelo de segurança e civilidade. Na segunda-feira, volta tudo ao normal.

terça-feira, 5 de junho de 2012

À noite o mundo não é o mesmo que de dia; todas as coisas da noite são diferentes e não podem ser explicadas de dia, porque de dia não existem –a noite se torna algo terrível para os que de começo conhecem a solidão (Ernest Hemingway)


Esqueci completamente o convite para abrir a vernissage da última sexta-feira. Achei que esperavam minha presença, somente, e não que procedesse a abertura do evento no lugar da Secretária de Cultura, o Presidente da Casa onde a exposição tomava lugar, a presidente da Academia, o diretor da Biblioteca Municipal. Pois bem, esqueci completamente. Cheguei lá meia hora depois do início, e ainda tomei uma enquadrada. Paciência. O coquetel servido, a propósito, estava acima da expectativa, e ainda pude encomendar um banco de madeira para a nova casa.

Tenho acordado durante a madrugada com sinais claros de pressão alta. O perigo é um derrame cerebral durante o sono. Quem sabe?

Nesta semana, sonhei com bebês, decapitações e morte. Houve ainda o choro convulso ao entrar na escola da infância. Tudo registrado por uma mente desnecessariamente obcecada pelo que já foi.

Gostei muito da Idade da Razão, de Sartre. Profundo e simples, denso e abrangente. Bem escrito, enfim. Agora, ataco de Borges, O Livro de Areia.

Um domingo de sol, churrasco e passeio a pé pelas imediações da casa nova, com Simone  e Mellie, a cucciolina. Tudo muito bom.

Tenho me imaginado Secretário Municipal de Cultura. Acho que dou pro negócio.

Na Mirante, um texto do qual nem me lembrava mais.

Nova editora para o primeiro livro de contos. Discussões sobre o título da obra. Definam aí, e me comuniquem.

Boas ideias para capitalização da Academia. Para colocá-las em prática, são necessários somente disposição e trabalho.  

Ao falar com uma professora sobre os trabalhos de sua Escola para o Prêmio Monteiro Lobato de Redação, a “desculpa”apresentada foi a de que ela “não se sentiu atraída pela proposta”. Taí um bom mote para iniciar o próximo artigo do jornal.

Bruno, passando perfume para a aula de bateria no Projeto. 

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Joguem seus computadores no lixo. Parem de entrar no facebook. Parem de ler besteiras no twitter. Saiam à rua, vão a um bar, tomem uma caipirinha, conversem com as pessoas, façam sexo com alguém. Em uma palavra: vivam! (James Ellroy)

Se Ariano Suassuna for mesmo o candidato brasileiro à disputa do Nobel de Literatura, estaremos prestigiando um gênio da cultura brasileira em detrimento de outro, não menos autêntico e igualmente brilhante: Manoel de Barros. Em ambos os casos, resta saber que o Brasil não comete a insanidade de ser representado por Paulo Coelho. Ou Gullar. Continuo achando que o próximo Nobel em língua portuguesa será Lobo-Antunes -apesar de tudo.

Estou adorando o Sartre. Chega, às vezes, até a ser infantil. Mas certamente é culpa da tradução...

Parte da noite, passei organizando os livros novos a publicar, de poesia e de contos. Ainda não estou decidido a lançar o de poemas cristãos, ainda que seria uma excelente oportunidade de me reaproximar da religião. Se a literatura me proporcionasse também isso, seria fantástico.

Na sexta, participação em uma vernissage, querem que eu declame. E reclame. Vou de Roldão, Vinicius, etc. Em suma, o de sempre.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O mundo pode muito bem passar sem a literatura. Mas pode passar ainda melhor sem o homem (Jean-Paul Sartre)

Com a mudança para a nova casa, acabou-se o Exílio do Morro-Grande. A nova casa, localizada em outro bairro (ainda mais distante) é menor e, ainda que não nos lance as vistas ao imenso vale que havia em seus costados como a casa antiga, nos oferece graciosamente um quintal de relvado amplo e cheio de plantas, pássaros e pequenas árvores, onde Mellie, a cucciolina, deita-se com as quatro pernas abertas e vai deslizando até chegar na cerca-viva que nos separa do quintal cimentado da casa vizinha. O sol, quando há, invade-nos de todos os lados, e o silêncio impera, só quebrado pelo som do video-game e da TV da sala, que fica muito próxima dos quartos. Tenho um espaço só para a Biblioteca, revistas sobre literatura e demais coleçõezinhas. Sim, a casa é nova. As preocupações, entretanto, continuam transitando entre a existência de Deus e o empréstimo no Banco.

Ainda estamos nos adaptando. À casa, todos nós. À vida, somente eu.

Enfim empossado na vice-presidência da Academia. Agora, é evitar o assédio da presidente com baboseiras e suscetibilidades.

Na entrega dos prêmios aos alunos vencedores do concurso "Uma História de Pinhão", agendaram a data errada, e só o segundo colocado compareceu. As outras duas meninas, primeira e terceira colocadas, foram no dia seguinte, todas empetecadas, para receber os livros, certificados e medalhas. Fizeram um cerimonialzinho lá, na hora, para a entrega -mas quem ficou mesmo registrado foi o menino, um dia antes. Da minha parte, algumas fotos que foram parar no site. 

Reorganizando a fortuna crítica.

Neste intervalo, terminei O Túnel, de Sabato, e me entrego à Idade da Razão, de Sartre. 

Entro em contato com a escola para saber se há trabalhos para o Prêmio Monteiro Lobato de Redação responde que não há nenhum. Pergunto o motivo, e ela responde: "é que eu não me senti atraída pelo projeto". Bom, depois não digam que eu não tentei. 

Estou prestes a me casar. O nome da minha amada é Simone.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida (valter hugo mãe)

Últimas horas do Exílio-do-Morro-Grande. Quase dois anos nesta casa, de cujo tamanho ainda não nos acostumamos. Vamos embora sem saber como lidar com tanto espaço. Fomos felizes aqui, apesar dos gritos dos vizinhos e do vento. Mellie, a cucciolina, nasceu praticamente aqui. Sempre que a olharmos, nos lembraremos desta casa. No fundo, foi um bom lugar, de bons auspicios. Algumas coisas já estão amontoadas à espera do domingo de mudança. Antes, há o dia de hoje, com o trabalho, a edição do jornal, a leitura d'O Túnel, o laboratório de Redação de Bruno, Leonardo e sua festinha de aniversário para a qual foi convidado e sua aula de Desenho. Simone, com uma gripe avassaladora, tem dificuldades para falar, comer, dormir...

O que mais me preocupu não foi a derrota para o Vélez, em Buenos Aires. Foi a apatia e a impotência do time. Na Vila, semana que vem, será outra pedreira. Uma nova derrota para os argentinos, em casa, não está descartada. O Brasileiro começa no domingo, em Salvador. Pelo menos é uma cidade agradável.

Uma coisa boa: ao deixar Leonardo na aula de Desenho, dou uma espiada na banca e descubro que o livro de Saramago, que deveria chegar somente no domingo, já está por lá. Adquiro, portanto, com dois dias de antecedência, o Ensaio Sobre a Lucidez.

Continuo angustiado com a tragédia de Tamiris, a filha de um amigo que ao voltar das aulas noturnas na faculdade bateu seu carro em uma vaca no meio da estrada. Em coma, já passou por cirurgias e ontem os médicos praticamente a desanganaram. Deve ter uns dezoito, dezenove anos, por aí. Os pais sempre criaram os filhos dentro da igreja -evangélicos praticantes. Ainda há um fio que liga Tamiris à vida -mas que se torna, a cada hora, menos resistente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A escritura é um abrigo (Mario Benedetti)

Nova consulta sobre minha disposição em  assumir a Secretaria Municipal de Cultura, desta vez vinda do partido que atualmente está no governo. Declino, de novo. Nem transferi o título de eleitor para evitar certos falatórios, imagine se vou aceitar um negócio desses...

No sábado, premiação do Histórias de Pinhão. Definidos os três vencedores. Os estudantes do oitavo e nono anos dos dias de hoje escrevem como minha geração escrevia, quando estávamos na quarta série primária.



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Um pessimista é um otimista bem informado (Mario Benedetti)

Mais de setecentas e cinquenta cidades nordestinas padecendo novamente com o flagelo da seca. Os açudes esturricados, o gado morto de fome e sede, cadáveres de animais surgindo na paisagem, a terra despedaçada, pesadelo a demonstrar que não, minha gente, não avançamos um centímetro sequer no combate à fome neste país de eternos almocreves. Tudo o que os governantes fizeram foi enganar o povo com migalhas mensais denominadas "justiça social", mais uma falácia mentirosa para arrecadar o maior número possível de votos e alimentar o entusiasmo infantil que caracteriza o idealismo de adolescentes que acham que o mundo cabe em salas de certas universidades. Somos um emaranhado de tragédias e injustiças propositadas e odiosas. 1930, 1950, 1960, 1970, 80, 2012. Quantos ainda serão enganados pelos governantes, quantos ainda morrerão de fome até que nos tornemos um país minimamente decente? Que Copa do Mundo o quê, minha gente. Precisamos é tomar vergonha na cara. No fim de tudo, não passamos de um bando de Macunaímas, cada um do seu jeito. E viva Mario de Andrade!

Morreu Carlos Fuentes, e mais uma vez meu sofrimento é solitário: ninguém para compatilhar esta nova dor. Para registro, apenas, declaro que de sua autoria li "Diana" e "A Cadeira da Águia".

Os dias que antecedem a mudança se constituem em um mosaico de sentimentos. A casa, uma bagunça.

Flavia, como sempre amabilíssima, mudou a data da premiação do Concurso Uma Hisstória de Pinhão de domingo para sábado, apenas para que eu possa estar presente na premiação. Uma lindeza.

Encararei o Coxipó. Seja o que Deus quiser. Na segunda quinzena de junho, o livro de contos vai finalmente para a Editora, para apreciação. Oremos, again.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Só a mediocridade literária alcança de saída o grande público (Alceu Amoroso Lima)

Domingo à noite, um frio lascado, voltando com Simone e os meninos da comemoração do título paulista, em Abernéssia. Entro no carro, ligo o aquecimento e percebo um senhorzinho todo encolhido vindo em minha direção com um papelzinho na mão. Pede que eu abra o vidro, e eu atendo. Me estende o papelzinho, que é uma receita médica do Pronto-Socorro, que fica ali do lado. Diclofenaco – que até onde eu... saiba pelo testemunho da gota que invariavelmente me acomete, se trata um antiinflamatório. Pergunto o que houve. Quebraram meu braço, diz o homem. Como? Briga. O homem treme. Pode ser de dor, pode ser de frio, pode ser dos dois. Pequenininho, uma bolsa pendurada no braço esquerdo, e o direito apoiado pela mão oposta. Atento para eventual cheiro de álcool. Nada. Diz que o remédio custa doze reais, e ele só tem nove. Precisa de mais três, portanto. Faço mais perguntas, com a desconfiança que caracteriza nossos tempos. Digo a ele: vou comprar este remédio para o senhor. O homem começa a chorar, diz uma dúzia de “Deus lhe pague” e pergunta se eu não quero que ele me dê os nove reais que tem no bolso, para diminuir meu “prejuízo”. Não, digo eu, guarde para o senhor ir para casa. Vou ali na Drogaria São Paulo, o homem me acompanha, e peço ao Paulo que marque a despesa (onze reais e trinta e três centavos, já com desconto) na minha conta, que depois eu acerto. Dois clientes da farmácia observam tudo calados e estranham a situação. O homem sai, volto para o carro, dou a partida e rumamos para casa. No dia seguinte, pergunto aos meus filhos o que pensavam do episódio, e ambos respondem a mesma coisa: “legal, mas ele tava mexendo o braço”. Não pergunto mais nada. Comprei, pronto. E, por incrível que pareça, até agora ainda acho que fiz um bom negócio...

domingo, 13 de maio de 2012

A realidade supera, em valor patético, toda fantasia (Alceu Amoroso Lima)

Subo o tom nos diálogos com LAC e Cosme. O primeiro fala por mim na UBE e, sem me consultar, trata de meu reingresso. Apesar da boa intenção, desaprovo e lhe comunico da desaprovação. O segundo cobra o envio da medalha de forma brusca e com uma intimidade que não lhe dei. Tomar posição é preciso, gostem ou não. Posso até reconsiderar a questão da UBE -mas não neste momento.

Últimos dias no Exílio-do-Morro-Grande. Foi a mudança para cá que fez surgir este diário. Hoje, o quadro não permite que ele seja registrado diariamente, e ainda reside a dúvida se devo ou não mantê-lo.

Penso em me distanciar um pouco das viagens e deslocamentos com fins literários. O acidente com Tamiris me assustou, por ter ocorrido em uma noite em que eu deveria ter ido a Taubaté, e não tê-lo feito justamente por desconfiar do tempo, da neblina, das condições dos pneus. Fiz bem. Centralizarei as ações aqui mesmo, em Campos.

Dia das Mães. Tentarei uma homenagem em um dos blogues, com um texto do Sandálias Paternas.

Preciso prestar contas com a Editora.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Não existem trabalhos humilhantes, existem, sim, relações humanas humilhantes (Frei Betto)

É isso que dá ficar muito tempo sem consultar o Google: descobrir ao acaso algumas publicações de poemas e referências a livros nos mais diversos sites, literários e não-literários.

Tenho que descobrir outra coisa para me dedicar. Tá assim de pseudo-escritor no mundo, já. Mais um pra quê?

Amanhã, viagem para S. Paulo. Feira Internacional de Segurança. Vou, querendo voltar.

A casa nova: parte elétrica, limpeza da caixa d'água, instalação do alarme.

Homens e Caranguejos começa a pesar. Menos pelo autor, mais pela minha ansiedade em dar cabo da leitura. Talvez não seja o momento de ler nada.

Um roubo, o orçamento do Coxipó. Vai esperar.

Ernesto Sábato, "O Túnel".

domingo, 6 de maio de 2012

Uma sociedade que não tolera palavras fortes será uma comunidade de cidadãos fracos (João Pereira Coutinho)

Mudar de casa. Sair do Exílio do Morro-Grande, para onde nos mudamos há quase dois anos, e levar tudo e todos para outra morada: menor, mas mais nova e mais bonita, sem tantas reformas a fazer ou danos a reparar. A vida passará a resumir-se em acumular dinheiro para dar conta do vulto deste investimento. Isto quer dizer que estão suspensos, por tempo indeterminado, os passeios ao Shopping, as viagens, as pizzas semanais, os livros novos... Os livros, quase todos, já foram, em duas viagens no Gol. Haverá um lugar apropriado para armazenar a biblioteca, o que colaborou muito para optarmos definitivamente pela compra do imóvel. Há também um vasto quintal, onde podemos plantar árvores frutíferas e uma pequena horta próxima à churrasqueira -se Mellie, a cucciolina, permitir, evidentemente. Conheço alguns vizinhos, que também me conhecem. Hoje, lá está o eletricista a avaliar as tomadas, o quadro de força, a fiação, e também proceder a limpeza da caixa d'água. Esta semana a faxina, a retirada de entulhos, a instalação do sistema de alarme e sensores de presença, posto que de segurança necessitamos todos. Penso em comprar um chapéu de palha e fazer do quintal o meu spa. Tanto da fare com nossa nova área verde. Um chapéu de boiadeiro nordestino a adornar a imponente churrasqueira que se ergue em meio ao terreno.

Por conta da mudança, me localizo entre interromper ou não este diário.

Bons -e, por que não dizer, surpreendentes- os resultados do último exame de sangue. O de sempre: colesterol, triglicerídeos e ácido úrico a reduzir. Bons o rim, a próstata e a glicose.

Não há santista da velha geração que não tenha se emocionado com a homenagem de Neymar a Juary, na vitória da semana passada contra o São Paulo. A imagem do menino de ouro da Vila comemorando à volta da bandeirinha de escanteio me tocou o coração alvinegro, ao recordar minhas primeiras alegrias como torcedor do Santos, justamente contra o São Paulo, cujo goleiro, à época, era o Valdir Peres, arqueiro da Seleção Brasileira que fazia verdadeiros milagres sob as balizas, mas que nãom conseguia parar o trio Nilton Batata-Juary-João Paulo, regidos pelo ímpeto de Pita e pela incomum inteligência de Aílton Lira. Hoje, na primeira final contra o Guarani, a quase-certeza de que já conquistamos mais um título paulista -o terceiro seguido. O Santos é, de novo, campeão.

As eleições em França protagonizam os noticiários ao redor do mundo. Sarkozy, que nas pesquisas não conseguira frear a cavalgada do opositor Hollande, parece se recuperar nas primeiras horas do domingo, segundo o noticiário do Il Sole 24 Ore. Se perder, o atual presidente será o primeiro, em 30 anos, a ser derrotado em uma tentativa de reeleição. A quinta maior economia mundial, também inserida na grave crise econômica que aflige a Europa, em meio a uma incerteza: manter a titubeante política econômica do atual governo que, no máximo, tentará bem ou mal conduzir os franceses durante a tormenta ou arriscar uma mudança na condução, que tanto pode levar o país à recuperação ou tornar ainda pior o que já beira o insuportável? Da vedere.

Ritelisa mais uma vez me emociona, ao enviar o texto para o Coxipó:

“Sou um andarilho, que a cada dia se despede
e busca aquilo que não sabe.
O vento, que no calor da madorna
acaricia as canoas à beira-rio,
bem que podia ser eu...”  
                                    Benilson Toniolo

No compasso de um rio que se rompe em cânion, fazendo surgir em suas margens a poesia telúrica de quem espreita e se enamora da natureza, assim Benilson Toniolo re/cria a lenda de Hyginus, dando forma à poesia como Cuidado deu forma ao Homem, através do húmus;  em Poesia às Margens do Coxipó  e Poemas em Desalinhos  Benilson faz a lavra poética  de quem quer “separar um a um os húmus do mundo”.

O poeta inunda a “eternidade das pedras”;  sua insônia rege a “solene tristeza dos sapos”,  percebe o sutil toque “das samambaias”;  lembranças de um lugar que o preencheu de imagens, sons, sabores, odores e toques, Cuiabá está viva em Benilson, em sua sinestesia poética traduz para o leitor a plasticidade do momento.  O “Forasteiro” incorpora-se ao lugar ao  caminhar lentamente para decifrar a voz do vento, trazendo na alma seus passos indecisos de quem foi para outras paragens!

Eis o mágico poeta que faz “nascer um poema dos olhos do rio”  poema que marca tempo, secular, descortinando novos horizontes para um andarilho das palavras. 

 Rita Elisa Seda

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Estamos longe do dia em que o trabalho será atividade de humanização e construção do mundo, pela qual o homem realizar-se-á plenamente no serviço ao bem comum. Ainda hoje, cada um trabalha para garantir o seu salário. O sujeito perde a dignidade e a moral, mas não perde o salário. Então o negócio não é ter vocação, é ter profissão, uma profissão que permita ganhar muito trabalhando pouco (Frei Betto)

Continua o ciclo: terminada a leitura de um estrangeiro (de preferência, português) vamos a um brasileiro (de preferência, nordestino). Agora trata-se de Homens e Caranguejos, do pernambucano Josué de Castro, médico, escritor e notável denunciador e combatente da fome no mundo, que chegou inclusive a receber prêmios internacionais por sua luta e quase-indicado para o Nobel da Paz. Um brasileiro notável, de quem a imensa maioria das pessoas neste país de almocreves jamais ouviu falar. Uno-me, pois, à minoria.

Esta noite, falando para alunos de Letras da Universidade de Taubaté. Amanhã, mesa-redonda sobre Dostoiveski. Um dos membros da diretoria do TCC liga para agradecer o artigo no jornal, e abre as portas da escola para a realização de projetos ligados à literatura. Agradeço. Veja aí, o que quer fazer, e me chame quando estiver pronto.

O País novamente às voltas com escândalos de corrupção em altos escalões da administração pública. Deixem-nos trabalhar, por favor.

Falando em trabalho, bocca chiusa. Horário de expediente.

Mais uma, só: vai muito bem e promissora, a nova coleção de escritores ibero-americanos da Folha. O último foi Lobo-Antunes (Memória de Elefante). Antes, Vargas Llosa, Borges e Garcia Lorca.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Idéias não se deixam acorrentar e nem se matam com tiros (Frei Betto)

A semana foi de dedicação quase exclusiva ao trabalho. Véspera de feriado prolongado. Muitas solicitações, exigências, providências e preparativos. No final, tudo deu certo. Pequenos imprevistos, a incompetência de sempre, o amadorismo, a auto-suficiência de sempre, característica de milicos ainda que fora dos quarteis. Tudo se resolve com um disparo na testa. Os incompetentes, despedimo-los aos gritos. As faltas de vergonha e de profissionalismo, punimos com a morte moral. Isso se não forem os "nossos"  a cometê-las. A estes, nossos sorrisos de canto de boca, nosso olhar de tolerância, nossa indiferença conformada -a vida e a empresa que seguem, acima de tudo.

Sim, dá gosto ler o Julio Dantas. Um autor e tanto, cujo texto está recheado de grandes doses de ironia e lirismo. Um grande crítico, um astuto observador da sociedade de sua época, um homem culto e perspicaz, mesmo quando aborda com frequência o mesmo tema -o "Eterno Feminino", no ano de 1929. A passagem da Ignez Negra, por exemplo, me remeteu ao Galeano de Mulheres. Para quem aprecia a perfeição da língua portuguesa escrita com a maestria e o apuro dos mestres, Dantas é um oásis.

Leio com vagar e quase indiferença o livro de Contos. O que começou razoável, assim permanece. Gosto mais dos textos menores, mais rápidos, menos embolados, mais claros (porém nem sempre). Os textos maiores não se definem, antes se perdem em si mesmos, e a impressão que se tem é que os finais, quase sempre abruptos e mal preparados, causaram grande esforço ao autor, que acaba por não saber sair do próprio emaranhado. Parece um escritor imaturo e intrincado num equação cuja busca pela solução não causa prazer nenhum. O fim de cada conto resulta um alívio.

Declino do convite para integrar a Secretaria de Cultura, a Secretaria de Educação e a assumir a Biblioteca Municipal. Ainda está incólume, portanto, a maior parte das minhas faculdades mentais e morais.

Esta semana, mesa redonda sobre Dostoievski, na Unitau. Imperdível. Pena meu conhecimento quase completo do autor, de quem só li as "Noites Brancas". Um motivo a mais para lá estar.

Terminei o Poesia Às Margens Do Coxipó, já enviado para Ritelisa e para a Editora. Citações de Guimarães Rosa, Manoel de Barros e, claro, Saramago. Nada melhor que a perspectiva de um novo livro.

Os artigos do jornal, comentados, referidos, lidos. A fonte parece não ter fim.

Nossa nova casa -nossa, posto que a compramos- é pequena, de grande jardim, quintal ensolarado, escadas de pedras, em rua calma e silenciosa. Ainda mais distante, por isso melhor. Amor à primeira vista, que devemos cuidar para que não esmoreça. Pelo menos, não tão rapidamente. A rua se chama Ondina.

Depois de dias de muita, intensa e ininterrupta chuva, o sol surge ainda timidamente e o frio se apodera da cidade. Os turistas já se foram, e o silêncio parece querer voltar a imperar sobre nossas montanhas.







sábado, 28 de abril de 2012

A elite tem suas orgias, suas aventuras e seus crimes camuflados pela própria ideologia que ela impõe. O subproletário age com menos requinte e inteligência e por uma necessidade de sobrevivência física. De um modo ou de outro somos todos responsáveis e cúmplices por coexistir numa sociedade que produz tais homens (Frei Betto)

Uma semana de grande dedicação ao trabalho, portanto, de pouquíssima literatura. De destaque, somente a confirmação do resultado na Academia de Letras, onde doravante responderei pela vice-presidência a partir da próxima reunião, a ocorrer em 26 de maio. Preparado o prefácio solicitado. Por outro lado, não mexi no Coxipó, o que pretendo fazer esta noite. Bela adiantada nas leituras de Dantas e Segre, com destaque para a prosa límpida e clara do primeiro, e pelo truncamento do segundo. Mas nvamos até o final, a meno que algo -ou alguém- impeça a continuidade da leitura, e da vida.

Uma tempestade se abateu sobre a Cidade, na última quinta. Choveu muito. Árvores derrubadas, redes elétricas e telefônicas rompidas, estabelecimentos destelhados. Nos dias que sucederam, houve sol, o que não deixa de ser um pequeno milagre.

Ideia retirada de um programa da tevê portuguesa: por que não mudar a sirene das escolas -estridente, neurastênica, escandalosa- por música? O Trenzinho e as Bachianas de Villa-Lobos, o Urubu de Tom Jobim, Guerra Peixe, O Guarani de Carlos Gomes, o hino de João de Sá...

Um ano do massacre de Realengo: o que mudou nas escolas jordanenses? Com efeito, absolutamente nada.

Simone adorou o Pepetela. Agora, ataca de Nikos Kazantzakis de Zorba, o Grego. Fazes bem, minha Luz...

sábado, 21 de abril de 2012

Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave, ou uma bandeira. Enfim, cá estou outra vez a sonhar. Como os homens a quem me dirijo (José Saramago)

Foi um bom lançamento, seguido do tombamento do edifício da Museu da Imagem e do Som, de 1920, em Casa de Cultura Antonio Fernando Costella, em uma homenagem coerente e acertada. Ainda a Exposição da Cidade, com quadros de artistas jordanenses. um público numeroso que me comprou cerca de vinte livros. Menos que o volume de venda, valeu a presença de tanta gente, tantos abraços e sorrisos, tanta alegria, a família envolvida com a obra, Bruno e Leonardo a organizar e fotografar, pedindo minha presença, olhando as telas, servindo-se do coquetel, e o sorriso nos lábios de Simone, minha Luz definitiva, a quem dedico, mais que meus livros, minha vida. Bela dedicatória o Poesia à Margem do Coxipó, a sair em novembro. Mas voltemos a este, que acabou por ser meu primeiro lançamento de livro, e que seguramente me superou a expectativa. Portas que se abrem, rostos novos que se me apresentam, esperanças renovadas. Toda honrta e toda glória ao poder da Literatura.

A ideia é editar também os textos cristãos, desta vez em uma gráfica, e os artigos sobre Educação, pela Multifoco. Retomada da fé.

Chega Os Corvos de Van Gogh, livro de Furini que prefaciei. Um prefácio, aliás, aquém da qualidade da obra e dos demais que a apresentam. Grande mulher, esta: Isabel Florinda Furini.

Ainda grandes mulheres: professora Zezé a lançar livro novo, também me pede prefácio. Me condenou a ler os originais, o que fiz esta manhã com uma boa vontade que sinceramente surpreendeu a mim mesmo.

Onde é que enfiei o raio da cédula de votação em que indico a mim mesmo para ocupar a vice-presidência da Academia?

Leituras, muito vagarosas, todas: Segre, Dante, Dantas...


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Este país preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa (José Saramago)

Pode ser apenas coincidência, mas o fato é que parece que as outras pessoas se incomodam mais com o lançamento do livro do que eu, que sou o próprio autor. Fazem perguntas do tipo “e aí, tudo pronto?”, “você está nervoso?”, “será que vem muita gente?”. O livro está aí, pronto, impresso e publicado. Estou mais preocupado em vender o maior número possível de exemplares e acertar logo com a editora. Sim, deve estar lotado. Levarei os últimos trinta exemplares de Poemas Jordanenses e Sandálias Paternas, além dos vinte e oito do Mar de Amares. São cinquenta e oito livros, no total, para uma noite com três eventos culturais ocorrendo simultaneamente. Só falta motivar a família.

Entrevista na Radio Campos do Jordão, durante o programa Jornal do Meio-Dia, para falar sobre o lançamento do livro e as atividades da Academia. Bom espaço, boa divulgação.

Continua impressionante o alcance das colunas no jornal. A próxima já foi enviada, sobre a receptividade dos alunos do EJA do TCC.

Já a turma de último ano de Administração da Univap, a julgar pela reação durante a palestra de ontem, não deve significar grandes mudanças para nossas organizações no futuro. Poucas vezes vi tanta indiferença, tanto desânimo, tanta falta de vontade em um grupo acadêmico. Triste. Senti saudade do pessoal do EJA.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? (Almeida Garrett)

Uma hora de caminhada e corridas na pista de atletismo do Abernéssia, depois uma série de cinquenta exercícios para o braço. Tudo por causa da condição ofegante a que cheguei ao fim de subir duas ruas no SENAC, ontem. Excelente lugar, aquele. Iluminado, cheio de gente praticando esportes, seguro -bem diferente das calçadas e ruas esburacadas da cidade.

Hoje cedo, indo à farmácia buscar o remédio de pressão, flagro uma imagem belíssima: a torre da Igreja Matriz entre uma breve neblina rodeada de araucárias. Fotografo e posto. Minha Cidade.

Ainda repercute o encontro com os velhinhos, ontem. Ganha corpo a ideia de promover algo em prol da poesia entre eles, no segundo semestre. Já temos um evento para estudantes, outro para os autores amadores... Falta um para a turma da curva natural descendente.

Dia de repassar a palestra de amanhã. Tranquilo, a princípio. E bem na hora do jogo do Santos!

Inicio "O Celeiro e Outras Histórias", de Segre, autor neo-jordanense. Muito bom, apesar do tom policialesco do primeiro conto. Promete. Um excelente nome para a Academia.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Infelizes os que nunca amaram. Nunca ter amado é uma forma terrível de ignorância (Luiz Felipe Pondé)

Livros chegando, de Curitiba e Como, com pedido de tradução. Material pronto para a palestra de quinta. Entrevista na rádio, também na quinta. Na sexta, o lançamento. Sarau no dia 29. Membro do juri de um concurso em Curitiba. Convites para lançamentos em Santos, Taubaté e São José dos Campos. No trabalho, reuniões, relatórios, dados, contatos. Documentos para liberar o financiamento no banco. Médico na quarta. Bruno retorna ao ortopedista no dia oito e viaja para São Paulo no final do mês em excursão da escola. Haverá apresentação de bateria para o dia das Mães. Fala, Escritor. Literatura Jordanense -Para Onde Vamos?. Concurso para o pessoal da Melhor Idade no segundo semestre. Prêmio Monteiro Lobato de Redação. História de Pinhão. Eleição na Academia. Posse no Conselho de Cultura. Delegado da UBT. Ufa. Isso cansa.

Bem fraquinha, a Feira de Livros do SENAC. Para quem gosta de literatura, é viagem perdida. O melhor foi cumprimentar o pessoal da terceira idade, e declamar Cora Coralina e Os Velhos Velhos, do Poemas Jordanenses. Quase chorei. Gente de cabeça branca trazendo um pratinho de doce ou salgado para ler poesia. Gente simples, que se emocionou comigo. Coordenação de uma moça que, há alguns anos, perdeu uma filha pequena, com câncer. Foi bom. Participar e estar junto. Saindo do prédio, olhei para o céu e acenei para dona Cida, que devia estar orgulhosa. Fica bem aí, minha velha. 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Quanto maior o amor, maior a indiferença para com suas vítimas (Luiz Felipe Pondé)

Não foi coincidência o fato de eu ter publicado os poemas de Dailor poucas horas antes de sua morte. Ele já estava doente, e antes disso Mah, a filha, já havia autorizado a publicação. Agora está lá, no Blogue, o primeiro poeta morto a ser publicado naquele espaço. Que seja o único. Longa vida a Dailor Varela, ícone da poesia joseense.

Na quinta, entrevista sobre o lançamento do livro na Rádio Emissora. Se comparecerem todas as pessoas que dizem que vão, terei problemas: os trinta exemplares não serão suficientes para a primeira meia hora. Devo ligar para Gorj, desesperado, a pedir mais exemplares.

Amanhã, a falar sobre uma turma do SENAC, sobre, evidentemente, livros.

domingo, 15 de abril de 2012

A filosofia da existência é uma educação pela angústia (Luiz Felipe Pondé)

Em geral, quem não casa, ou é por falta de tempo, ou porque não dispõe, no seu orçamento, de receitas suficientes para prover aos encargos que resultam do luxo patriarcal de ter mulher e filhos. Há pessoas que não constituem família pela mesma razão porque não comprar um automóvel: porque lhes falta dinheiro. Na crise terrível do pós-guerra (refiro-me sobretudo a Portugal), com o custo da vida a aumentar dia a dia, com a instabilidade do valor da moeda a impedir todo o bom cidadão de saber ao certo com o que conta no dia seguinte, e, enfim, com a falta de casas e com a falta de amas, o casamento passou a ser um esporte de ricos; cada filho converte-se num índice de opulência. Julio Dantas, enorme em seu estilo narrativo, em Eterno Feminino, de 1929, a prever um cenário idêntico ao de hoje, principalmente nas passagens em negrito. Um portento, para usar uma expressão que já há algum tempo não aparecia neste diário.

Morreu o General que contava como certa sua eleição para a Academia de Letras, e, assim como quando morreu o Coronel que também se candidatara, especula-se com a possibilidade da assassinato. Um final previsível desde pouco depois da metade do livro, quando o militar mudou seu estilo de tratar os imortais. Um Jorge Amado urbano, feito para passar o tempo, sem a profundidade e a densidade de seus romances marítimos e cacaueiros.   

Vou comprar o jornal em Abernéssia e volto com belas aquisições, a saber: Os Sonetos de Amor Obscuro e Divã do Tamarit, de Garcia Lorca, O Livro de Areia, de Borges (que nome lindo para um livro), Códigos de Família, de Gattai (eu insisto, eu insisto), Paula, de Isabel Allende (Simone adorou a Inés de Minha Alma) e Homens e Caranguejos, de Josué de Castro -todos retirados da nova biblioteca que foram montadas em drogarias da cidade. em contrapartida, deixei por lá o ensaio sobre Patativa do Assaré, a Inés e as antologias de Ubatuba e Bragança Paulista. Saio no lucro, pelo jeito.

A Cidade, abarrotada por conta de um evento para mais de três mil pessoas que atuam em turismo. Bom proveito aos que deles dependem para sobreviver -o que não é mais o meu caso, pelo menos por enquanto.

No Sabático, Antonio Skarmeta, o futuro da literatura latina de língua espanhola, a dificuldade em abandonar o realismo mágico e os novos autores chilenos. Da leggere.

Quase chorei com Ritelisa falando de Cora Coralina. Nos seus lábios, um dizer carregado de emoção, paixão e reverência pela vida da mulher, da cidadã, da desbravadora, da política, da intelectual, da escritora, da múltipla personalidade que foi Aninha, a guerreira da cidade de Goiás, para quem uma vida só foi insuficiente.

Procurei, dentro do possível, manter-me distante das comemorações pelo centenário do Santos. Minha homenagem é prestada a cada dia, em todos os lugares onde estive, em todas as circunstâncias, dentro do meu coração de adepto, muitas vezes, irracional e inconsequente. Posso dizer que se trata de um amor alvi-negro que me marca a existência, independente da idade que complete.

A morte de Danilo continua repercutindo: erro médico. E sua mãe, que é minha prima distante, vai à TV protestar e desmanchar-se em lágrimas, plenamente justificáveis. Tragédia.

Já houve sol, já chuviscou e faz frio. Outra típica manhã dominical jordanense, que me enche de certezas pela escolha que faço a cada dia e, aqui permanecer. O amor.

Enquanto lavo a louça do café-da-manhã e da pizza de ontem à noite, me ocorre um evento: Encontro de Escritores do Vale do Paraíba. Uma data boa seria dezembro. Com LAC, Ritelisa, Gorj e outros. Pode ser também um bom evento a ser realizado para quando assumir a presidência da Academia.

Na sexta-feira, em Taubaté: "Você colocou Campos do Jordão no cenário da literatura no Vale do Paraíba. Antes, a gente nem lembrava de Campos, era muito fechado. Agora, graças a você, a visibilidade é bem maior". Gracias a la vida, again.

Morreu Morosini, do Livorno, em campo, durante partida pela série B contra o Pescara. Campeonatos suspensos na Itália. Está na hora de repensar toda a estrutura do calcio, denunciar penúrias e desonestidades. Por enquanto, acompanhar o futebol italiano é sinônimo de sofrimento e perspectivas desagradáveis.

Me emociono, ao digitar os poemas de Dailor para o Blogue e ouvir, simultaneamente, o piano de Rachmaninoff.


sábado, 14 de abril de 2012

Somos um nada que ama (Luiz Felipe Pondé)

Na entrevista ao Litteratudo, a alegria de reencontrar Ritelisa e ser apresentado ao seu marido, Wilson, um tipo agradável e bom de papo, com histórias mis a contar. Em pouco de mais de uma hora de conversa, a certeza de que ficou ainda muita coisa a ser dita e compartilhada. Ainda a professora Crosariol, especialista em literatura africana, e o musicista Leandro, de malas prontas para um curso de aperfeiçoamento em Portugal. Minha participação foi pequena, até por conta do grande número de participantes, e se limitou a divulgar o resultado do Araucária, com bons comentários de LAC. Carlos Anacleto foi muito bem citado.

À noite, ao falar de Drummond para os alunos do terceiro ano do TCC, a grande alegria de poder desenvolver um assunto que se domina, e a certeza de que a carreira literária está sim, em ascensão.

Chegaram os exemplares de Mar de Amares. Lindo. Trabalho de primeira, o da Multifoco. 

Ouvi de Tubarão que uma casa, para assim ser chamada, deve dispor de livros, música e quadros. Quanto a estes, instalei hoje em duas paredes mortas os que comprei dos alunos do próprio Tubarão, na semana passada. Deram nova alegria à alvenaria de que é composta nossa morada.

Terminados os Certificados do Araucária, assinados, identificados e envelopados para o Correio. Medalhas e troféus, os próximos passos.

Poemas Jordanenses para o Recife, Sandálias Paternas para Brasília.

Meu coração, alegre e festivo, pelos últimos acontecimentos. 

Como canta, o Leonardo...

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Não é mais possível considerar o contraste riqueza-pobreza como algo tão natural e inevitável como o dia e a noite (Frei Betto)

O dia promete. Entrevista para o programa de LAC, em Taubaté, com Ritelisa. À noite, a palestra sobre Carlos Drummond de Andrade para os alunos do colégio TCC, às 21:30h. Palestra esta para a qual quase nada me preparei, dado que imagino que o pouco que sei da vidobra do grande poeta mineiro me seja suficiente para aquilo que imagino ser um conhecimento muito próximo de zero por parte da assistência de quarenta aluno, segundo me consta. Para dar uma animadinha, sortearemos um exemplar do Poemas Jordanenses.

Já para a entrevista na TV, o resultado do Araucária e o lançamento de Mar de Amares, com a leitura de um ou outro poema.

À noite, antes da palestra na escola, preparar os certificados do Araucária.

Converso com Brandão sobre o Poesia Coxipó, e sonho com uma ligação telefônica para o Mato Grosso, onde o interlocutor me confundia com outra pessoa e eu me derretia em agradecimentos. Ê, vida.

Que reunião, a da Academia. Sonolenta, cansativa, improdutiva, cheia de etiquetas. A objetividade, em certos momentos, é tudo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

O Estado não passa de um instrumento a serviço da classe dominante. Portanto, é inútil clamar ao Estado que sirva de conciliador nos antagonismos sociais ou que impeça que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres (Frei Betto)

Surpresas agradáveis acontecem. Demoram, mas acontecem. Aliás, são cada vez mais raras. Em uma sinuca de bico danada, por conta da não-liberação do empréstimo para compra da Casa, recebo uma ligação comunicando o financiamento de 85 mil. E eu, que já estava arrumando as malas para voltar pra casa, comemoro a possibilidade real de permanecer em Campos, e justamente na Casa do Exílio do Morro-Grande, que tanta alegria me dá. Entro no Quarto-Verde como se fosse meu, de verdade. No final das contas, pode ser que a vida seja feita destas esperançazinhas.

Sem sono, passo a folhear os poemas que separei para o Poesia Coxipó, que estou pensando em mudar para Poesia Às Margens do Coxipó, tudo porque a maioria das pessoas não sabe que Coxipó é um rio -o meu rio. Vai ter coisa pra tirar ali. E pode ser que o release que mandei ontem pra Ritelisa sirva para a apresentação, também, com umas buriladas.

No posto de Saúde da Prefeitura, uma coletânea de contos do século dezenove organizada por Italo Calvino, que faço minha como faço com os livros do Mercado.

Para dormir, Lucio Dalla.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O amor dura o tempo de um susto. É picada de cobra. É veneno que combate outros venenos. O problema do amor é que é caro (Marcelino Freire)

Escrever é um ato de vida. Através da escrita me mostro e me escondo, protesto, canto e choro, organizo meus pensamentos, sinto saudade, calor e frio, fome e desejo. Nela me perco e me encontro, me arrisco e me retraio. Na palavra reencontro meu pai, oriento meus filhos, acarinho minha mãe e me declaro diariamente à mulher que é meu porto.
Não sei como era minha vida antes da leitura e da escrita. Minha lembrança mais remota da infância é de a família –tios, primos, avós e pais- à minha volta pedindo para eu ler o que estava escrito na embalagem de uma lata de cera. Eu lia, mas nem sempre acertava. E o povo queria que eu acertasse todas. Devia ter cinco, seis anos, não me lembro direito.
Daí a começar a escrever foi mais longo, mas não menos prazeroso. Eu era aquele aluno que quando fazia redação a professora queria ler para a classe, para minha vergonha absoluta. Será que ainda é desse jeito, nas escolas de hoje?
Depois continuei assim, vivendo e escrevendo.
Hoje são três livros publicados, com o quarto já querendo botar a cabecinha pra fora do ovo. E eu digo “espera aí, moleque, deixa o teu irmão crescer primeiro”. É isso mesmo, está certo quem diz que um livro é um filho. Tem também a Academia de Letras da minha cidade, os convites, os eventos, as palestras, os concursos de literatura...
A cidade onde moro, Campos do Jordão, é uma beleza para quem escreve -pela paisagem, pela gente simples, pelo clima, pela topografia que convida a caminhadas longas e reflexivas. Ou seja, ainda tem mais essa.
“Só escrevo porque escrever me ajuda a pensar”, disse o escritor argentino Macedonio Fernandez.  Era a necessidade dele. A minha “doença” é mais grave: escrevo porque escrever me ajuda a viver.

O texto em linguagem popular solicitado por Ritelisa, para o jornal de São José dos Campos.

Extinto o Nova Poesia Brasileira. Chega.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Todo escritor se apega a deslumbramentos (José Castello)

Mar de Amares ainda nem nasceu, e já me traz tanta alegria. Alvarenga sugere lançamento em Santos, o que seria uma maravilhosa oportunidade de rever os amigos. Furini comunica a chegada do livro no qual foi publicado o prefácio que enviei. Oliani, Reginaldo, Dakinis e Tatiana comentam o Araucária. A presidente me liga reclamando que não a convidaram para a exposição da Biblioteca. Nem a mim, minha senhora, e eu não lhe liguei para perguntar o motivo. Descubro que o público da palestra de sexta-feira sabe tanto de Drummond quanto da biografia de Samora Machel. Lanço a ideia do projeto para a publicação de um livro de um poeta jordanense pela ONG, e a reação foi a mais distante possível. Arquivo. No news about Multifoco, quando chegam os livros, afinal? O trabalho, sob controle. A literatura, sim, me toma a vida. Ritelisa me surpreende com uma publicação em seu blog. Leio e me calo, de agradecimento e emoção. Esclarecido, Dindi, sobre Camoã e Blimunda? Ok, agora curta os originais que tens em mãos, em primeira mão. Brandão manda seu novo livro, escrito no Ceará e lá patrocinado. O que diz Inajá no sítio de Rita:

Blogger Inajá Martins de Almeida disse...


Sim amigos Rita Elisa e Benilson Toniolo

Poetas dos
Encontros
almejados
procurados
alcançados
delicados
aplicados
a este solo
ávido pela semeadura
da boa literatura.
Chamem de amor
esse encontro
que o poema recria


Rita: "A literatura é a linha mestra que alinhava momentos, une os amigos, tanto em eventos, quanto na solidão, pois é no silêncio de um pensamento que as palavras de um livro entram nas nossas mentes, por isso, meu amigo, leio seus livros em meu sítio, deitada na rede, para que as palavras absorvam minha solidão, deixando apenas imagens, é através dessas palavras que ficamos juntos aos amigos, elas nos unem. Quem escreve gosta de ser lido!"

Descanse em paz, dona Nica. Aliás, descanse muito, porque não foi fácil. Agora sim, você pode voltar a sorrir.

Um verdadeiro presente no sítio do Globo Esporte: Ariano Suassuna sendo ovacionado pela torcida do Sport na Ilha do Retiro. Emocionante e inolvidable.




segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pergunto-me / se a perfeição não seria o não dizer / e deixar aquietadas as palavras / nos noturnos desvãos (Hilda Hilst)

Trago do Mercado um exemplar novinho em folha -não deve ter sido sequer lido- do "Esplim de Paris: Pequenos Poemas em Prosa", de Baudelaire, edição da Martin Claret, pelo jeito em nova diagramação. Ah, a literatura...

Morreu o pobre Coronel Agnaldo Sampaio. Há quem lance dúvidas sobre a causa mortis: morreu ou foi assassinado pelos velhinhos da Academia, que tudo faziam para evitar que um militar recalcitrante e marionete do nazismo assumisse a vaga deixada pelo jovem Antonio Bruno? Mais da metade, já, do Farda Fardão.

Posto uma foto do Morro-Grande. Uma não: duas. Compartilho as verdeções que diariamente me tomam os olhos.

Eterno Feminino, de Julio Dantas, 1929. O que começou por curiosidade vai tomando ares de leitura agradabilíssima.

Novo convite para participar de evento em Buenos Aires, desta vez em agosto, vindo de Rarima Cecília. Ah, a literatura...

Não é Camoã, Dindi, é Blimunda. Você leu errado.

Ao menos, para a palestra sobre Drummond, o PPS já veio pronto. É só sublinhar e ilustrar...


domingo, 8 de abril de 2012

Toda a minha vida é um grito e toda a minha obra é a interpretação desse grito (Hilda Hilst)

Domingo de Páscoa. No TG, chamadas diretas do Vaticano, onde são esperadas cem mil pessoas para a mensagem do Papa. Também na SIC, a grande movimentação católica. As pessoas entrevistadas, na Itália e em Portugal, em geral não viajarão por conta da crise. No Brasil, feriado prolongado. Campos do Jordão, me dizem, está menos lotada (ou mais vazia) do que o previsto. Se este feriado é o termômetro da temporada de inverno, como dizem, então a cidade tem motivos para se preocupar.

Se este é um Estado laico, então por qual motivo os feriados católicos são compulsórios? 

Sobre a Exposição 100 Anos de Titanic, na Biblioteca Municipal -um capricho do diretor da Casa: e os Titanics diários de nossa Cidade, quando começaremos a resolver?

Entrevista dispensável de Paul Auster no Caderno de Cultura do Estadão. 

Ainda a polêmica sobre o poema de Gunter Grass, antissemita e pró-Irã. Pouco diz respeito ao Brasil, ocupado demais em evitar o naufrágio do próprio umbigo.

Dulce Maria Cardoso é, segundo a Ilustrada, a "sensação da literatura portuguesa na atualidade", e confirmou presença na Flip deste ano. Outra sensação portuguesa? A cada ano temos uma nova?

Ainda a Folha: "Roth tece relato comovente sobre o pai". Trata-se do novo romance do autor americano, Patrimônio. Seja bem-vindo à confraria dos órfãos inconformados, Philip.

Da non perdere: coleção Folha Literatura Ibero-Americana. Tomara que suba a montanha.

Pál Schmitt, presidente da Hungria eleito em 2010, renunciou ao mandato após ter sido comprovado que ele plagiou alguns trechos de outros autores em sua tese de doutorado, em 1992. Mais do que um exemplo, a impressão de que ainda falta muito, mas muito mesmo, para sermos um país minimamente competitivo. Pelo menos no que se refere à dignidade.

"O que sobra é a impressão de que o governo não sabe o que está faltando, a imprensa não sabe o que está publicando e a população não sabe o que está acontecendo. é o Brasil para todos". J. R. Guzzo, na Veja.

Feliz Páscoa, pai.




 

sábado, 7 de abril de 2012

A política, como “la donna” da ópera de Verdi, é “móbile”. Por meio dela, o Diabo não se dá por vencido, aliás, nunca se deu, desde que foi expulso do céu, na primeira rebelião que para sempre infernizaria, literalmente, demônios e homens (Carlos Heitor Cony)

Durante a noite, li e aprovei a prova final do livro novo. Mudança, só uma, logo na apresentação da página sete, linha doze, por um erro meu de digitação. Mais nada, o restante está aprovado. Vamos, pois mesmo, de coraçõezinhos, apesar dos protestos de Mildes.

Ronaldo liga para desejar bom feriado, que retribuo. Parece que a viagem a Campos fez bem. Os meninos estão em Vinhedo, com a mãe, e ele se mandou para Santos: Amigo e irmão.

Dailor Pinto Varela, poeta potiguar, um dos criadores do poema-processo, radicado há anos em Monteiro Lobato, está morrendo. Teve um AVC e ficou sozinho por dez horas, até que chegasse alguém para socorrer. Inconsciente, entubado, sem reação aos medicamentos. Conheci-o recentemente por ocasião de uma palestra sobre vanguardas poéticas, depois comprei um de seus livros. Mais uma grande perda à vista.

Não consegui parar o carro para pegar o jornal na banca, devido ao excesso de automóveis e pessoas. A chamada civilização, como diz o outro.
Skap.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Todo escritor tem o direito de não ler (Fernanda de Aragão)

Da Secult, solicitam que eu fale sobre Drummond no TCC, no próximo dia 13/04, para as turmas do período noturno. Mesmo dia da entrevista no programa, em Taubaté. Confirmo, até porque lá estará também a Ritelisa. O que me preocupa, mesmo, é a palestra do dia dezenove, sobre Segurança Patrimonial.

Confesso que parei de implicar com o Bolsa Família, que um dia alcunhei de “usina de vagabundos”. Está certo, não era para tanto. Assumo o exagero. Fico só com uma pergunta: que estímulo os beneficiados encontram para passarem a sustentar a própria família, e assim poder abrir mão do programa?

Retirados da Biblioteca os livros que estavam sob minha responsabilidade, e os devolvo aos proprietários. A única pendência, agora, passa a ser o livro de Ana Maria Machado que Leonardo está lendo, com previsão de retorno para o dia dezessete. Depois disso, cortam-se definitivamente as relações.

O Farda, Fardão, Camisola de Dormir engrenou.

Hoje comprei o Estadão, ao invés da Folha. Vamos ver como está o caderno de Cultura, depois da morte de Piza.

Saiu o resultado do Araucária. Tatiana Alves e Nege Além, os vencedores em poesia e contos, respectivamente. Cris Dakinis, Geraldo Trombin, Cosme e Reginaldo, os outros. Certificados e comunicados impressos, agora é começar a enviar.

Semana de muito trabalho por conta do feriado da Semana Santa. Cidade cheia, turistas e carros. Hora de clausura e confinamento.

Hora de voltar à leitura do Dante e da composição do Cascalho, que anda parada.

Chegaram as provas do Mar de Amares. Detestei os coraçõezinhos da capa. Há erros no miolo. Mas não há como não se impressionar com a qualidade do material. Mantido o lançamento para o dia 20/04.

Retirei os quadros dos alunos de Tubarão. O pessoal em casa gostou. Simone disse que nossa casa ficará "tipicamente jordanense". Que bom.

Bruno vai se recuperando.




terça-feira, 3 de abril de 2012

O futuro há de dizer se a um governo humano assiste o poder de ser desumano com seus governados (Manoel Benício)

Fiquei assombrado com a quantidade de carros circulando por Abernéssia ontem, por volta de 19h. Muitos carros, alguns em alta velocidade, em ambos os lados da avenida, onde também não havia espaço livre para estacionar. As auto-escolas continuam despejando semanalmente dezenas de novos condutores, e ter um automóvel hoje em dia é tarefa das mais simples, desde que cumpridas pequenas exigências burocráticas. O resultado disso é um barulho infernal, mais carros som som alto azucrinando a vida dos cidadãos que querem um mínimo de sossego e um aumento significativo no número de acidentes. Em suma, já passou da hora de começarmos a pensar em soluções para o tráfego em Campos do Jordão.

Mellie, a cucciolina, agora sai sozinha para passear. Por volta de nove, dez da noite, quando a rua se acalma de carros e de pessoas, abro o portão para que ela saia e fique um pouco lá fora, sozinha, sem corrente e sem coleira. Observo o que faz e para onde se dirige. Até hoje, nestes primeiros três dias, não se afasta muito da casa, limitando-se ao terreno que existe duas casas após a nossa. Não costuma voltar na primeira vez que a chamo. Geralmente só volta na terceira ou quarta vez. Depois, já no quintal, bebe água e vai dormir. Tomara que não suma, nestas novas aventuras noturnas.

Não farei mais o Contador de Histórias da AME. Como Adriana não poderá estar no próximo sábado, preferiram mudar a data a tentar uma vez comigo. Eis algo que não me incomoda. Uma data a menos no calendário de atividades literárias de abril.

Tubarão me visita a sorpresa, e agenda para quarta-feira a entrega de dois quadros pelos quais me interessei, e que são de autoria de dois de seus alunos do Curso de Pintura realizado no Museu da Imagem e do Som. Quarta-feira, o mesmo dia em que deverei retirar os livros que deixei na Biblioteca Municipal -que, aliás, não me enviou convite para sua nova exposição.

Flávia vai cuidando do lançamento de Mar de Amares, que mudou de lugar: agora será na nova Casa de Cultura Antonio Fernando Costella, na Brigadeiro Jordão. O terceiro livro, cujo anúncio causou surpresa a Leonardo.

Cardim pede que eu a ajude a organizar a Feira de Livros do SENAC. Conte comigo, brava amiga.

Andrea pede contatos daqui para que ela divulgue seu trabalho de organizadora de eventos culturais. Aqui em Campos, senhora? Deixa eu lhe explicar como é que são as coisas por aqui...

Encerrando o A Noite e a Madrugada (que vai para a sala, em companhia dos demais lusófonos), retiro do Jorge Amado o Farda, Fardão, Camisola de Dormir, de 1979. Há muito tempo atrás, Sandra andou com esse livro em casa, por ocasião do Círculo do Livro, que tanta falta faz hoje em dia, mas que ainda garante boa parte do ganha-pão dos donos das bancas de sebo. Tenho alguns em casa desta saudosa época em que sempre havia ao menos um exemplar dos livros de capa-dura do CL, nas casas de classe-média-baixa no Brasil. Mas o livro de Jorge me pegou cansado, com sono, e quase abandonei a leitura, não fosse ter recomeçado esta manhã, tomando ainda o cuidado de anotar no Caderno alguns trechos que julgo mais importantes da narrativa. Aí, começou a ficar mais fácil. Perseveremos.





segunda-feira, 2 de abril de 2012

Nunca subestime o poder dos livros (Paul Auster)

O velho teve, de súbito, uma sensação aguda de alguma coisa a dilacerar a sua carne. Um dos molossos, finalmente, trespassara-lhe a perna.  Pode ainda safar-se a navalha do bolso, abri-la, enquanto a pele de todo o corpo se transia dum suor espesso e gelado.  Mergulhou a lâmina no cão até o cabo. O feitor ergueu o chicote sobre o camponês. Por fim, tudo se tornara confuso na cabeça do velho: a planície doidejava colunas de poeira, a poeira escondia as hastes secas de trigo, a poeira era um manto soturno sobre a planície; o Picanço tinha espasmos na sua carne lutando com a morte, o soberbo alazão corria como o vento quente pelas moitas da floresta, e, envolvendo tudo, a dor do seu corpo brutalmente magoado. A dor era uma bruma de sofrimento e irresponsabilidade; cego, feria ao acaso, abrindo veias de sangue  e de ira. Deixou de sentir o chicote na sua carne; a mão retalhava, já inconscientemente, o corpo inerte do molosso. Ia ficando lasso, esvaído, confundindo-se com arbustos, ervas dos prados, trigos, carvalhos, manhãs de sol, bois abrindo regos na terra fofa. O Pomar surgia dos pesadelos, radioso de sol e esperanças. Um Pomar livre, de gente livre, e à frente da comunidade os Parras bebiam canadas de vinho. A vida sumia-se com brandura; do fundo da morte, Picanço vinha lamber as mãos duras do velho Parra. Banhava-o por fim uma suavidade de libertação, como se a navalha tivesse furado, para sempre, todos os corpos dos cães e homens raivosos de todo o mundo.
Esta é a passagem da morte do Parra, pai de António e Pencas, o velho camponês que defendia sua terra da ganância dos novos feitores da terra que julgava sua, já nas páginas finais do romance A Noite e a Madrugada. Escrita com maestria singular, serve para ilustrar o estilo do exímio escritor que é Fernando Namora. Existe algo, penso eu, de Graciliano Ramos neste trecho que transcrevo. Até o momento, para mim, a narração da morte da cachorra Baleia, em Vidas Secas, se constituía para mim na mais bela abordagem do momento da morte da literatura. Agora, esta de Namora junta-se à do ilustre alagoano. Que bom que existem as letras escritas, a poesia, os escritores de ontem e de hoje a tornar menos vulgar a vida das pessoas.

Continua a guerra fria entre a presidente Dilma e os militares da reserva do Exército. Desta vez, foi um grupo de reformados que resolveu comemorar o que eles chamam de “Revolução de 1964”, no último dia 31 de março, em um clube militar no Rio de Janeiro. O ato revoltou parte da sociedade civil, que cercou o local e passou a gritar palavras de ordem contra os milicos. No dia seguinte, dez paraquedistas continuaram a comemoração saltando de pára-quedas com faixas alusivas ao Golpe. Vale lembrar que, no ano passado, o governo proibiu qualquer tipo de celebração, civil ou militar, em alusão à data. Com uma vastíssima agenda em branco, os militares da reserva não desistem em sua luta por causar ainda mais desconforto ao governo. Dilma deve precisar, em breve, de apoio popular se quiser dar continuidade ao seu mandato. Diferente de seu antecessor, que tinha o hábito de oferecer cargos no governo aos seus opositores, a presidente tem levado bordoada de muitos lados.

Em meio a mais uma crise no Parlamento, desta vez envolvendo um senador do DEM (Demóstenes Torres) que atuava no Senado a mando de um criminoso, salta aos olhos a frase de Pedro Simon nas páginas amarelas da Veja: “Os bons homens se foram: Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Miguel Arraes, Mario Covas. Se esse tivessem ficado e outros tivessem morrido, o Brasil seria diferente”.  

Bruno está bem melhor, felizmente.

Ritelisa entra em uma briga danada para arranjar espaço para os escritores do Vale nas próximas edições do Festival Literário da Mantiqueira, em São Francisco Xavier. Conte comigo, digo a ela, na esperança de ser inserido no espaço. Ritaelisa não abre mão de estar no campo de batalha. É como o gato de Deng-Xiaoping: não importa a cor do felino, contanto que ele mate os ratos.

Hora de preparar o artigo para a próxima edição do jornal. Aliás, já está pronto.

domingo, 1 de abril de 2012

Todos os homens contém vários outros homens dentro de si, e a maioria de nós salta de um para outro sem mesmo saber quem é (Paul Auster)

Na Ilustrada, matéria sobre a Paris Review, revista americana dedicada à literatura. Boas frases de Faulkner e Mailer para os guardados. Também outra sobre Nadine Gordimer, escritora sul-africana detentora do Nobel, para um documentários sobre mulheres africanas de destaque. Olha esta, de Nadime, ao dizer que não acredita em discursos sobre "literatura feminina" por não gostar da separação por gênero: "A gente não escreve com os órgãos sexuais, a gente escreve com isso", e aponta o dedo indicador para a têmpora. Tenho comigo um livro de sua autoria, que a qualquer hora desta me entrego.

Tanto na Folha quanto na Veja, inúmeras referências a Millôr Fernandes (que Brandão uma vez disse que deveria ter-se chamado Milton, mas acabou Millôr por um erro do homem do cartõrio na hora do registro de nascimento) e ainda Chico Anysio. Sobre o primeiro, cuja morte é mais recente, ainda tenho o que ler. Mas ganha destaque um "plágio" proposital de José Roberto Torero, no texto " Não me enterrem, e joguem minhas cinzas na Vila Belmiro". Fantástico, também, este Torero, com quem já troquei meia dúzia de palavras por e-mail. 

Fez muito sucesso aqui em casa um vídeo que encontrei na internet denominado "Ariano Suassuna - A Conversão", sobre um fato contado pelo paraibano sobre a visita que recebeu de um jovem -que ele não sabe dizer se era punk ou funk- que tinha o objetivo de convencê-lo -a ele, Ariano- a interromper seus ataques ao rock. A performance do artista reproduzindo a música interpretada pelo jovem é hilária. A letra tem duas frases, além do refrâo: "Um cavalo morto é um animal sem vida"  e "Em redor do buraco tudo é beira". 

Sobre a palestra de ontem, faltou dizer que o presidente Maynard revelou que logo que chegou a Campos, vindo do Rio, envolveu-se com um grupo jordanense de teatro, e a primeira peça encenada foi justamente o Auto da Compadecida, onde ele, Maynard, fazia o papel de Jesus Cristo.

Tatiana Belinky na Folhinha, de bruxinha, recebendo em sua casa um grupo de criança para falar sobre seus livros. Aos 93 anos.

Gostei muito da entrevista de Dilma na Veja.  Excertos: "Não dá para consertar a máquin administrativa federal de uma vez, sem correr o risco de um colapso No tempo que terei na Presidência vou fazer a minha parte. Esse será meu legado". "A Petrobrás tem de saber que o petróleo é do Brasil e não dela". "Quando Mario Draghi (enonomista italiano, presidente do Banco Central Europeu) diz 'vamos botar a maquininha que faz dinheiro para rodar', ele está inundando os mercados com dinheiro. E o que fazem os investidores? Ora, eles tomam empréstimos a juros baixíssimos, em alguns casos até negativos nos países europeus, e correm para o Brasil para aproveitar o que os especialistas chamam de arbitragem, que, grosso modo, é a diferença entre as taxas de juros praticadas lá e aqui. Eles ganham à nossa custa. Temos de agir nos defendendo". Cita Montesquieu e se defende bem quando acusada de protecionista, alé, de saber recolocar Collor ao limbo de onde jamais deveria ter saído. Pontual esta entrevista, até para dar o que parece ser uma espécie de resposta ao grande artigo de J. r. Guzzo ao final da mesma edição da revista.  Dilma, a ex-Tosca, vai ganhando, ao que parece, mais um adepto -ainda que obscuro e irrelevante.

Sobre o texto de Guzzo: "Já faz mais de nove anos que a presidente Dilma está dentro do governo, no qual dá expediente desde o primeiro dia de mandato de seu antecessor -com a função, justamente, de ser a tocadora de obras número 1 da República. Alguma coisa de porte, a esta altura, já tinha de ter aparecido. Mas não aperece. Tão inúteis quanto a passagem do tempo ou os oceanos de dinheiro  que o poder público tem para gastar vêm sendo as demissõe em série na equipe ministerial. Em pouco mais de um ano de governo Dilma, já foram para a rua doze ministros, mais os líderes no Senado e na Câmara -todos nomeados por ela mesma, é verdade, incluindo-se aí alguns dos mais notórios candidatos a morte súbita que já passaram por um ministério na história deste país. Os resultados disso, pelo que se viu até agora, foram nulos. As demissões, sem dúvida, mostram que a presidente está disposta a valer-se de sua posição no topo da cadeia alimentar de Brasília -pode mandar qualquer um embora, e não pode ser mandada embora por ninguém. O problema, tristemente, é que o exercício repetido de toda essa autoridade não tem sido capaz de gerar nenhum efeito útil para a vida prática do país e do cidadão. Seja porque Dilma está substituindo tão mal quanto nomeou, seja porque os novos ministros vivem paralisados pelo modo de perder o seu emprego, o fato é que nenhuma de todas as trocas feitas até agora resultou num único metro a mais de estrada asfaltada, ou num poste de luz, ou em qualquer coisa que preste". E arremata: "a presidente Dilma, que sabe muito bem o que é inépcia, tenta há nove anos achar o caminho de saída desse vale de lágrimas; pode continuar tentando pelos próximos cinquenta e não vai encontrar nada. Não vai encontrar porque procura no lugar errado: imagina que a solução está em criar mais repartições públicas, mais regras, mais controles, mais programas e mais tudo o que faça um 'estado forte'. É o tipo de ideia que encanta a presidente. Nunca deu certo até hoje. Mas ela continua convencida de que um dia ainda vai dar".

Depois de ler a entrevista de Dilma, entretanto, entretanto, o artigo de Guzzo ganha uma tonalidade de superficialidade e distanciamento do assunto.            

Uma noite acidentada, por conta dos choros e choramingos de Bruno devido ao braço quebrado. Agora, manhã de domingo, dormem todos -indiferentes até mesmo ao som irritante do cortador de grama utilizado em dos quintais vizinhos à Casa.
 

sábado, 31 de março de 2012

Stalin foi um bandido, um assassino psicótico. Eu estou falando a respeito do instinto de sobrevivência, sobre a vontade de viver. Eu prefiro um malandro ardiloso a um caxias consciencioso a qualquer hora do dia ou da noite. Talvez um malandro não jogue segundo as regras, mas ao menos tem espírito. E onde houver homens com espírito haverá esperança para o mundo (Paul Auster)

Bruno quebrou o braço direito ao cair da bicicleta, esta tarde. Eu acabava de chegar ao estacionamento da Câmara, para a palestra, quando recebi telefonema de Simone avisando do acontecido. Pedi desculpas à secretária, que acabara de chegar, e voltei para casa para levá-lo ao Pronto Socorro. Fratura, disse o médico após rápida conferida no Raio-X. Pelo jeito dói um bocado, pelo semblante de meu filho mais velho, cujo corpo banhei no começo da noite. Está um homem, meu filho. Mesmo quando chora.

Foi absoluto sucesso, a reunião desta tarde, com a palestra sobre Ariano. Pelo que contei, trinta e quatro pessoas, com alguns estudantes de História, Pedagogia, Letras e até uma de Turismo. Unisal, Unip e Univap presentes. Civile leu Os Velhos Velhos, um dos textos do Poemas Jordanenses. Elogios, parabenizações, congratulações e comentários. Ao final, o assédio foi grande, a ponto de eu ter que pedir licença para me dirigir à sala onde se servia o pequeno coquetel. Pensei em fazer uma introdução de desagravo em defesa do nome da Academia, mas desisti. Com o anúncio do Prêmio Monteiro Lobato e da Festa do Pinhão, ficou notória para os presentes a retomada da participação da Casa no desenvolvimento intelectual da cidade. Ponto.

LAC finalmente mandou as notas. Tabulação concluída, e já se tem o resultado da terceira edição do Araucária. Divulgar, entretanto, levará mais alguns dias.

Temos uma acadêmica deficiente visual. Por que não trazê-la para uma atividade com crianças com a mesma característica, por iniciativa da Academia? 

Já se comenta com certa frequência o episódio com a Biblioteca. Por enquanto, comments favoráveis e moções de ânimo.

Adriana me convida para a série Contador de Histórias, no próximo dia 07 de abril, na Ame. Topo. Só falta a confirmação.

Ritelisa confirma a apresentação do Poesia Coxipó, via fone. Pediu para que eu esteja presente no dia de sua entrevista ao Litteratudo. Quer também um release a meu respeito para que ela publique em um jornal local, lá de Sanjosedoscampos. Fala de seus projetos e pede notícias sobre a saúde de Pedrinho. Boa e animosa conversa na noite de sábado.

Quase posso dizer que a Academia, neste momento, sou eu.

Ontem à noite, Simone e eu revimos "Sociedade dos Poetas Mortos", um daqueles filmes para a vida toda. Lindo.

Quatro livros recebidos hoje, sendo três de Civile e um de Segre, este um excelente nome para compor a Casa.

Caminhada entremeada de corrida esta manhã, em volta do campo do Abernéssia, de cerca de quarenta e cinco minutos. As dores que sinto agora são do tipo que doem alegremente.

     

quinta-feira, 29 de março de 2012

Nascer é uma alegria que dói (Eduardo Galeano)

Leonardo em S. Paulo, visita escolar ao Zoológico. Andou excitadíssimo, nos dias, por conta da viagem. Levantamos às seis, com frio e neblina, para que pudesse estar na escola as seis e meia e embarcar. No trabalho, polêmicas e discussões. Ainda a idéia de mudar de Cidade, apesar de tudo. Necessidade de ver o mar. Voltar para Santos, estar em casa, descansar. A dificuldade em comprar casa, o estado de saúde de Simone e sua turbulenta relação com o trabalho, este meu trabalho onde jamais me encontro, as decepções, o cansaço, o desânimo, a certeza de estar em um lugar e a ele não pertencer.  

Algumas situações parecem confirmar a disposição em ir embora.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Por vezes, a maior prova de inteligência é a recusa em aprender (Rubem Alves)

Desprovido de uma amizade cara -eu, que de poucos amigos sempre padeci-, ainda lamento o episódio. Uma pena que um amigo querido tenha conduzido de forma tão infantil uma banalidade. Leonardo, se tivesse mentido, não assumisse o erro que cometeu e ainda quisesse responsabilizar um inocente, levaria uns tapas na bunda. Sérgio talvez tenha precisado em algum momento de uns bons tabefes, em algum momento de sua vida. Quanto à sua avó inglesa, que o criou e de que ele tanto se orgulha, pode até ser que a culpa seja também dela, pois pelo que observo a criação em referência não foi das melhores. Quanto ao uso de ditados populares por parte de meu ex-amigo, cabe aqui um bem conhecido, como resposta: 'quem não te conhece, que te compre'.

Morreu Millôr Fernandes, grande intelectual brasileiro, que deixará uma lacuna enorme em nossa inteligência. Vou acumulando minhas consternações, sabe-se lá até quando.

Nordeste? Pode ser...

Minha avó não era inglesa aristocrática, e sim alagoana e analfabeta. A outra, que mal conheci, portuguesa imigrante e não menos iletrada, até onde eu saiba. Meu pai era alagoano, servente de pedreiro e alfabetizou-se sozinho, para poder realizar o sonho de tirar carteira de motorista. Demorei um pouco a tomar vergonha na cara, confesso, mas não precisei chegar aos 65 anos para aprender a separar o certo do errado, e até hoje me envergonho das vezes em que fui irresponsável, inconsequente, hipócrita, desonesto, covarde, maldoso. Quando um homem chega a esta idade e suas atitudes divergem de seu discurso, então o caso é patológico, carece de ajuda médica. Quaanto a mim, resta mais uma vez lamentar e correr para junto dos meus livros.

terça-feira, 27 de março de 2012

Só escrevo porque escrever me ajuda a pensar (Macedônio Fernandez)

Ronda aos postos e, de quebra, um monte de pinhões. Não fica bem um diretor ficar recolhendo pinhões nos postos de serviço da empresa, mas nada me impede de fazer isto na via pública –ainda mais se for uma viazinha escondida de todo mundo, onde passa um carro a cada quinze minutos. Entre uma e outra vistoria, paro, fotografo, escrevo, leio, atento para o silêncio  –que, como já disse Mia Couto, se constitui na “língua de Deus”.
Não é a planta dos meus pés que se gasta; é a terra que a golpeia.  Não são os sulcos do meu rosto que marcam a passagem dos anos; antes, é o próprio tempo que envelhece. Não é o meu espírito que se acovarda; é a prudência neonata que o detém. Não são os meus olhos que se tornaram indiferentes ao luto; é o mundo que vai perdendo, a cada dia, parte do seu encanto.

Existe no Brasil uma escritora chamada Tatiana Alves Soares Caldas. Professora. Autora de um livro chamado Harpoesia, que publiquei no NPB através de meia dúzia de poemas. Venceu o primeiro Araucária, categoria Contos, com 'Do Limbo', um texto até mesmo chorável. Pois bem. Se o Prêmio Araucária deixar de existir, a culpa vai ser dela, que também é especialista em Agustina Bessa Luís, a da Sibila, e manja muito de Gumarães Rosa, a ponto de escrever sobre ele em revistas especializadas de circúlação nacional. Repito: se o Prêmio Araucária acabar, a culpa vai ser dela, e dos textos belíssimos que ela escreve. Sorte que o julgamento não cabe a mim. LAC vai ter que se virar por lá, porque por mim eu já entregava a ela o primeiro, o segundo e o terceiro lugares em ambas as categorias. Quem vem logo depois dela está muito bem colocado. Tatiana devia parar de participar desse tipo de evento, para poder dar espaço para os demais...

A ideia de criar o Projeto Fala, Escritor! vai deixando de existir por conta da rusga com o Diretor da Biblioteca. Uma pena, ter que recorrer ao rompimento.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Um crítico vale não pela excelência dos seus argumentos, mas pela qualidade de sua escolha (Ezra Pound)

Drese convida para um festival literário em Buenos Aires, em abril do ano que vem. Sem informações ainda acerca de programação ou se o convite é para ser um dos escritores convidados ou apenas para assistir ao evento. Convite feito, convite aceito.

O sonho com a prisão me fez acordar com a cabeça explodindo, o que persiste até agora. Angústia. Ricordi de João Pessoa, o lado oculto e tenebroso. Medo, insegurança, o processo kafkiano -e Simone ao meu lado, inquebrantável.

Li à noite duas edições antigas da Veja, e nada há que mereça destaque. Guardei um artigo de Lya Luft sobre dicionários, que pretendo ler ao longo do dia -que começa envolto em relatórios e mal-entendidos. Lembro do Frei Betto e seu conceito de trabalho, existente nas Cartas da Prisão.

E-mail para o irmão: trivialidades.

Ainda Tabucchi: lembro que no ano passado cancelou sua participação na FLIP em protesto contra o governo brasileiro, que se negou a extraditar para a Itália o terrorista Cesare Battisti, hoje uma celebridade nacional, com direito inclusive a lançamento de livro. Un paese di merda, il nostro, que continua fornecendo muito combustível para a indignação universal. Grazie, Tabucchi.

domingo, 25 de março de 2012

Uma nação que negligencia a percepção de seus artistas entra em declínio. Depois de um certo tempo ela cessa de agir e apenas sobrevive (Ezra Pound)

É salutar aproveitar o silêncio das primeiras horas da manhã de domingo. Barulho, só o latido dos cães e os gritos dos gaviões e demais pássaros que abundam na mata do Morro-Grande, atrás da Casa. Todos dormem. Perdem o espetáculo que desenvolve a manhã, com a visão da neblina que se alterna com a luz do sol e se estende sobre a Cidade, embranquiçando os morros e o céu. Rebrilha sobre os matos de todos os tamanhos e espécies ainda o orvalho da noite, que escorre preguiçoso das folhas como um amante exausto. É linda esta hora jordanense. Mais ainda porque a maioria das pessoas dorme, e a quietude impera, soberana.
Não há facilidades na fruição do romance de Namora. Pelo contrário, é esta uma prosa árida, pedregosa, dificultosa, labiríntica, que desafia o leitor a se perder em seus volteios. Deliciosos, entretanto, os termos belíssimos de um português quase arcaico. As desventuras do pobre Pencas em meio às dificuldades de sobrevivência de uma país agrário e subdesenvolvido onde a educação, certamente, se configurava num luxo. Época de Salazar e sua aversão ao desenvolvimento. Para conhecer Fernando Namora, tenho a impressão de ter começado pelo livro certo.
Hesito em comprar o jornal. Não me apetece  a edição dominical, com pouca notícia e muitos artigos especiais que, em geral, não me interessam. Devo ficar somente com o livro. A Veja, talvez.
Continua o rosário de óbitos relevantes. Antonio Tabucchi, escritor italiano, sessenta e oito anos, especialista em literatura portuguesa, que mudou-se para Lisboa pelo imenso  amor que desenvolveu pelo país, causado sobretudo pela leitura constante de Fernando Pessoa, morreu esta manhã. O problema é que, suponho, não temos tanta inteligência disponível para repor perdas destas relevâncias. A mesma idade de Dalla. Estes mortos têm me golpeado à sorpresa, em pequenos aniquilamentos.
Saímos a catar pinhões pelas ruas chiques e vazias do Capivari. Leonardo e Bruno de bicicleta. Enchemos somente meio saco. O suficiente para darmos, à nossa moda, boas vindas ao outono, que já derruba acintosamente milhares de páginas pelas ruas esburacadas e mal-cuidadas da Cidade. Nada mais jordanense que catar pinhões distraidamente numa manhã silenciosa de domingo, numa breve e pacífica declaração de amor.
Tento convencer Mellie, a cucciolina, que ela foi contratada para cuidar da casa, e não da rua. Não adianta. A cada pessoa ou veículo que passa pelo nosso portão, ela parece ser acometida por uma síncope. Tenho lhe apelidado Dilma.

sábado, 24 de março de 2012

Eu me aventurei na escrita; mas acho que o que li é mais importante do que o que escrevi. Pois a pessoa lê o que gosta –porém não escreve o que gostaria de escrever, e sim o que é capaz de escrever (Jorge Luis Borges)

Concluí a leitura de “Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra”, do moçambicano Mia Couto, muito lido e admirado por aqui –aliás, com toda justiça. Do mesmo autor já havia lido, há alguns anos, a coletânea de contos “O Fio das Missangas”. Dono de uma prosa poética e objetiva, parece não ser adepto da prolixidade que grassa em parte da literatura em língua portuguesa dos dias atuais, especialmente encontrada nos textos de Lobo Antunes, Luandino, Pedrosa e Saramago. Suas frases de efeito (quase versos) causam grande impacto durante a leitura, emprestando ao enredo grande carga de lirismo e magia, o que acaba por fazer dele um escritor para poucos. Sua literatura é, por assim dizer, excludente, acaba por selecionar naturalmente o leitor. Quem lê Isabel Allende, por exemplo (como Simone, às voltas com “Inés de Minha Alma”), terá alguma dificuldade até se ‘localizar’ em Mia Couto e suas africanidades. Apesar das diversas passagens que recolhi para os guardados, não acredito que este livro me permanecerá por muito tempo na memória, assim como ocorrei com os contos. Ou seja, um autor de deslumbramento não-duradouros. Estante da sala.

Gostei das primeiras –primeiras, mesmo- páginas de A Noite e a Madrugada, de Fernando Namora (Guimarães Editores, Lisboa, 1954), minha primeira incursão pela prosa do português que é um dos preferidos de Saramago. Esta fase lusófona, pelo jeito, vai longe. Vai ser para sempre. ?.

O atraso de LAC nas avaliações dos textos do Araucária me traz dissabores. O prazo de quinze de marco não foi cumprido, e segundo me conta o Nagues, lá de Brasília, já tem gente ‘arrancando os cabelos’. Enviei e-mail esclarecendo o atraso e pedindo desculpas. De qualquer forma, é hora de voltar a mexer com isso.

Há uma semana, fazia frio, Simone estava no trabalho e eu no Pronto-Socorro por conta de um caroço no pescoço que, aliás, permanece até hoje, mesmo após a ingestão diária dos antiinflamatórios receitados pela médica. Menos mal que a dor é quase imperceptível.

Também há uma semana me encontrava com o poeta José Carlos Mendes Brandão e sua esposa Sônia, também ela escritora da melhor qualidade, para um café rápido em Abernéssia. Estavam hospedados em São Bento, e vieram a Campos para conhecer a cidade –que Brandão, por sinal, achou “muito movimentada”, ainda que não se compare com a Bauru onde vivem. Ele foi meu professor de Português no Escholastica Rosa, em Santos, no longínquo ano de 1984 e, por um destes milagres protagonizados pela literatura e pela informática, acabamos por nos reencontrar tantos anos depois. Para mim, se trata de um encontro histórico, uma alegria indizível, ainda mais quando ocorre na mesma semana da visita de Ricciotti e seus meninos, que jantaram conosco em casa. Como diria Violeta Parra, ‘gracias a la vida’.

Simone e suas urgências, na semanal tarefa de faxinar a Casa. Não mais protesto, posto ela já ter dito que gosta. A minha tarefa, de limpar e lavar o quintal –ou ao menos parte dele- cumpro em tempo muito menor, e seguramente me proporciona cansaços maiores.

Cascalho emperrou. Não readquiro a linguagem. Talvez Manoel de Barros ajude.

Chegamos à semana da palestra. Depois, encerra-se a Exposição. Preparar a palestra da Univap e o lançamento do livro, no dia 20. Sai esta semana a nova edição do jornal, com o artigo ‘Escola Não É Clube’. Sem erros ou cortes, I hope so.

Repercute ainda em mim o episódio envolvendo o diretor da Biblioteca. A sensação desagradável de ter descoberto traços de mentira e desfaçatez num homem que aprendi, ao longo do tempo, a admirar pela sabedoria e inteligência. Pena.

Morre Chico Anysio, o maior humorista brasileiro de todos os tempos. Um ator admirável e um raro gênio moderno, que marcou toda uma geração pelos programas na TV. Andou se aventurando brevemente  também pela literatura, sem grandes repercussões. Comparando com o execrável ‘humorismo’ que se pratica hoje em dia, Chico acabou se tornando uma prova de que sim, nós brasileiros, até bem pouco tempo atrás, éramos mais inteligentes. Cearense de Maranguape –cidade que ajudou a inserir no mapa- deixa um legado de talento inquestionável. Ficamos, artisticamente, ainda mais pobres do que já estamos.